Barbas de molho, que as do vizinho podem pegar fogo


Fernando Brito, Tijolaço 

Ninguém sabe qual será a profundidade da crise mundial – aquela que não existe, lembram? –  neste novo mergulho.

O desastre da manhã, com quedas estupendas das bolsas de valores de todo o mundo (imagine o que são quedas de 10% no mercado americano!), quase “zerado” no meio do dia, para ser seguido de um “meio-desastre” à tarde, é um aviso de que as “placas tectônicas” do capital estão se movendo.

Ou alguém são de consciência poderia esperar que a China mantivesse sua economia crescendo a 7, 8% e até mais eternamente, à base de sacrifícios internos e exportações? Claro que não, muito menos os chineses.

Muito menos que fossem manter a sobrevalorização de sua moeda, o yuan, até um ponto de ruptura com a realidade.

Obvio que sem informações de “bastidor” (que sou eu, primo?) a pura sensibilidade indica que, ao contrário do que parece a muitos, o movimento do governo chinês, há dez dias,  de desvalorização cambial – fonte da queda de hoje, em grande parte – guarda forte relação com a perspectiva de que o Federal Reserve americano aumente a sua taxa de juros, na esteira da recuperação econômica do “grande irmão do Norte”.

Não se acuse a Chine de intervir unilateralmente na economia mundial, pois – copyright para Mino Carta – até e sobretudo o mundo mineral sabe que os EUA fizeram o mesmo  ao contaminar o planeta com a crise do subprime e, agora, com os preços do petróleo.

Nem mesmo a arrogância americana pode mais conviver com a ideia de “prosperidade só aqui”.

Há dois dias, o El País publicou matéria onde usava o exemplo emblemático de uma fábrica de automóveis que produzia sob licença Mercedes-Benz para o mercado chinês  e ia de vento em popa na  cidade de Mishawaka, no estado norte-americano de Indiana e indagava:

“Se o cliente chinês de repente deixa de comprar as resplandecentes Mercedes, se a montadora alemã reduz os pedidos e se essa fábrica de automóveis de luxo deixa de ser competitiva porque o dólar começa a ser caro demais para o euro, a ressurreição industrial de Mishawaka pode ser jogada no lixo. Falando em termos macroeconômicos, a desaceleração econômica da China, as poucas alegrias no resto dos países emergentes e a revalorização da moeda podem tentar o Fed a adiar de novo a decisão de aumentar o preço do dinheiro, apesar de o desemprego estar em 5,3% e a economia estar crescendo de maneira estável.”

Pois é. Recorde-se que o “capitalismo” chinês não é “do mercado”, mas do governo da China.

O capital internacional está, neste momento, se perguntando se este dragão, tão manso até hoje que foi admitido em casa, espalhou-se aos pé do sofá, tornou-se o maior credor dos títulos americanos é, afinal, um bicho que só solta fumaça ou será capaz de lançar fogo?"

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