Protestos, embora legítimos, não abonam golpes |
Mauricio Dias, CartaCapital
A verdadeira razão da voracidade da oposição contra Dilma vem da baixíssima aprovação do governo, como tem sido destacado em diversas pesquisas. Isso virou um ponto importante na lista dos golpistas. A desaprovação das contas do governo no TCU e o processo aberto no TSE são truques políticos da oposição para confundir a sociedade. Nem tudo vem daí.
As decisões dos julgamentos nos tribunais são incertas e,
assim, a conjuntura econômica negativa conjugada pela avaliação positiva
do governo, reduzida a 8% da população, tornou-se fator determinante na
luta pelo afastamento de Dilma do poder. Os golpistas marcham por essa estrada e ela desemboca, para citar o exemplo mais emblemático, na Avenida Paulista.
Atrás disso há variados interesses. Os pessoais, os políticos e,
também, os poderosos interesses econômicos daqui e d’além-mar.
Uma crise econômica circunstancial sempre
resulta, para os governos, em desaprovação. Mas esse momento não
justifica o assalto ao poder. No jogo da democracia, a maioria de hoje
pode ser a minoria de amanhã. E vice-versa.
Pesquisas de avaliação do Ibope,
considerando o item “ótimo e bom”, indicam que dos seis últimos governos
civis apenas Itamar Franco, em dois curtos anos de governo, e Lula, nos
dois mandatos, terminaram com aprovação maior do que a avaliação
inicial. Sarney, Collor, FHC e Dilma, no primeiro governo, concluíram com aceitação pior do que aquela do começo de mandato.
Lula é um caso à parte. Iniciou o segundo mandato
com aprovação de 51% e terminou com 80%. A pior avaliação dele,
ocorrida no primeiro mandato, foi de 29%. Sarney fica com a lanterninha,
com 7% de aprovação. Um empate técnico com Dilma (tabela).
Não há diferença entre
os 7% de Sarney, os 8% de Dilma, os 12% de Itamar e os 17% de FHC.
Números negativos. Pesquisa, como se sabe, é o retrato do momento em que
é levada a campo. Ouvir a sociedade pode ser bom sinalizador das
administrações. Embora a maioria seja referência básica do regime
democrático, às vezes é preciso destoar desse princípio. Negá-lo em
dadas circunstâncias, em nome de outros valores tão ou mais
fundamentais.
A história é recheada desses exemplos.
Uma grande maioria apoiou a ascensão de
Hitler, na Alemanha, em meio a uma crise econômica monumental. Thomas
Mann preferiu perder a cidadania. Saiu do país. Recusou participar
daquela maioria que aderiu ao ódio nazista.
Guardadas as proporções, o Brasil vive paradoxo semelhante.
Há quem o ignore e há quem o abrace.
Abraço comprometedor pelo qual se deixou levar o ex-presidente FHC, no
oportuníssimo dia seguinte à manifestação. Ele usou o trampolim dos
protestantes para defender surpreendente argumento: “O governo, embora
legal, é ilegítimo”.
É o ex-presidente ou o ex-sociólogo que avoca o poder de deslegitimar Dilma?
Vêm das urnas a legalidade e a legitimidade. Protestos,
embora legítimos, não abonam golpes. Salvo por meio de intervenção
militar como em 1964."
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