“Valor” publica roteiro do golpe parlamentar que “não existe”, segundo a mídia


Fernando Brito, Tijolaço 

Texto de Andrea Jubé, na edição de hoje do Valor Econômico (restrito a assinantes), acaba de rasgar a fantasia e dá feições concretas ao movimento que se articula na Câmara para a tentativa de abertura de um processo de impeachment contra Dilma Rouseff, que o Estadão já deixou claro, ontem à noite, quando noticiou os preparativos de Eduardo Cunha para “tirar o atraso” de 13 anos e votar todas as contas presidenciais pendentes desde os anos 90 para “limpar” as aparências do açodamento que imporão ao relatório do Tribunal de Contas da União.

Diz a reportagem que a eventual recondução de Rodrigo Janot, o procurador geral que pediu a abertura de inquéritos contra os presidentes da Câmara e do Senado, Cunha e Renan Calheiros, será o ponto de explosão de uma bomba cuidadosamente armada:

“Se Dilma reconduzir Janot, “comprará mais briga com a Casa”, disse ao Valor um político com 20 anos de parlamento. O procurador-geral ganhou a antipatia dos parlamentares depois de abrir inquéritos e oferecer denúncias contra 49 políticos, incluindo 13 senadores, 22 deputados, ex-ministros e os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), e do Senado, Renan Calheiros (AL), ambos do PMDB. O rol de investigados contempla parlamentares de todas os matizes, do PT, PMDB, PP, PSB, PTB e até PSDB.

Segundo o jornal, há um roteiro e um calendário traçados entre partidários do impeachment. O primeiro passo é o julgamento das “pedaladas” fiscais no TCU, previsto para os dias 5 ou 12 de agosto. Em seguida, há novos protestos de rua contra o governo convocados nas redes sociais para 16 de agosto. Na segunda quinzena de agosto, o parecer sobre as contas chega ao Congresso. No dia 17 de setembro, termina o mandato de Janot e o novo procurador-geral é anunciado.”

Coincidentemente, a Câmara desarquiva e põe em votação um projeto que estabelece tudo o que o Tribunal de Contas não quer: o controle externo de suas próprias contas, algo em que qualquer um pode facilmente identificar um mecanismo de pressão sobre o resultado da análise das contas do Governo.

O Brasil tem uma democracia tão sui-generis que o roteiro de um golpe político e uma manipulação para impedir uma ação judicial conta dois parlamentares diretamente acusados de receber propinas é publicado nos jornais e a única atitude das instituições de Estado é ajudar que tudo se realize conforme o planejado.

Não, não há um golpe em processo, tanto que Aécio Neves chama de “factoide” qualquer conversa sobre isso,  mesmo que a reportagem do Valor já noticie as listas de votação de algo que sequer foi levado à Câmara e, pior, uma mate´ria de natureza técnica, a apreciação de contas.

Tanto que podemos, enquanto isso, ficar brincando de “republicanismo” e outras “sutilezas democráticas”, enquanto se preparam para demolir a principal intituição da democracia: o voto da população."

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