"Está na hora de enfrentar com coragem a ditadura dos meios de comunicação.
João Paulo Cunha, Brasil de Fato
Teve grande destaque a reportagem da revista Piauí deste
mês, que narra a guinada à direita da rádio Jovem Pan, de São Paulo. Ao
lado de perfis de nomes de ponta do conservadorismo protofascista
nacional, como Reinaldo Azevedo e Rachel Sheherazade, o texto revela o
que todo mundo sabe: que o jabá político rola solto no jornalismo
brasileiro.
A reportagem crava até mesmo o teto
da tabela paga a profissionais dispostos a cumprir a pauta da prefeitura
de São Paulo, então administrada por Gilberto Kassab (PSD-SP), hoje
ministro das Cidades: R$ 10 mil.
Mas a Pan não
tinha contrato de exclusividade, já que utilizava expediente semelhante
com o governador Geraldo Alkmin (PSDB-SP), vendendo publicidade como
material editorial, no conhecido produto batizado de “plubieditorial”.
A
conta, em publicidade, conjuga três variáveis: a grana investida, o
poder de controlar a mensagem e o resultado esperado. Quando se paga
pelo tempo e pelo espaço, o controle sobre o conteúdo é total, mas o
retorno é baixo em matéria de credibilidade. Afinal, as pessoas sabem
que estão ouvindo o que o dono da voz quer. É caro, mas não garante
resultado.
O
jabá e o publieditorial são a prostituição dessa regra: o público
recebe propaganda como sendo reportagem, versão como se fosse fato. O
patrocinador paga mais caro, os meios ganham mais dinheiro e a sociedade
democrática perde tudo. O jabá deturpa o gosto musical pela imposição e
repetição; o falso jornalismo corrompe a opinião pública pela distorção
intencional.
Hoje,
salvo quando pegos com a boca na botija, como no caso da Joven Pan, os
veículos de comunicação não se deixam flagrar tão facilmente em seu
comércio. Eles deixaram de vender produtos para vender ideias. Foi assim
com a campanha pela privatização da Vale, por exemplo, e está sendo
assim com a Petrobras. Não há uma operação publicitária clássica para
acabar com a empresa, mas uma guerrilha de informação contra seus
fundamentos nacionalistas e modelo de exploração do pré-sal.
Está na hora de enfrentar com coragem a
ditadura dos meios de comunicação familiares e propor novas formas de
relacionamento, mais transparentes, altivas e republicanas. Inclusive
lançando mão do poder de utilizar o tempo das concessões públicas de
rádio e TV para informar a sociedade de forma responsável e menos
onerosa para o contribuinte.
Levar adiante uma
discussão profunda sobre a redução das verbas de publicidade e revisão
do uso gratuito do tempo em rádio e televisão pelo poder público é uma
agenda necessária."
*João Paulo Cunha é jornalista
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