A primeira lenha atirada no fogaréu já existente está no discurso paroleiro de Fernando Henrique Cardoso, o timoneiro do golpe: “O governo Dilma perdeu a credibilidade” |
Mauricio Dias, CartaCapital
Da convenção do PSDB, realizada em 5 de julho em Brasília,
saiu a palavra de ordem de orientação aos partidos oposicionistas, com a
finalidade de abalar ainda mais a situação política e econômica do
País: botar lenha na fogueira e criar um clima de crise insuperável para
forçar o impeachment da presidenta Dilma.
Assim o golpe
foi anunciado. Mas será consumado? A primeira lenha atirada no fogaréu
já existente está no discurso paroleiro de Fernando Henrique Cardoso, o
timoneiro do golpe. Com as mãos no leme o ex-presidente sentenciou: “O governo Dilma perdeu a credibilidade”.
Desqualificar a capacidade da presidenta de governar é um
achado malévolo premeditado pelo ex-presidente. Nessa desqualificação
está embutido o preconceito da suposta fragilidade da mulher para
exercer o poder. É o impulso machista movendo interesses políticos
sombrios. Que no futuro ele não repita, como fez no passado, o pedido
para ser esquecido pelo que faz no presente.
A oposição pode ser dura. Não pode ser
irresponsável. Mas foram irresponsáveis os discursos radicais dos
tucanos. Disparados na convenção do partido, deduzem que Dilma não vai
concluir o mandato conquistado democraticamente nas urnas. Será
derrubada antes.
Esse pessoal tem mais ousadia do que coragem. Entre a teoria e a prática há um abismo.
Embora todos os golpes se pareçam, há sempre, entre eles,
um diferencial. O de agora é expressivo. Para o pesar dos oposicionistas
não há tropas à disposição. A crise está circunscrita ao golpe, sem
tropas nas ruas. Assim, só restou à oposição cuspir fogo.
Aécio Neves avançou contra o governo com a
violência de noviço excitado. Ele chegou, por exemplo, a antecipar o
triunfo da conspiração em marcha. Falou, sem marcar data, que o
desfecho ocorrerá “talvez mais breve do que alguns imaginam”. Na
sequência, cometeu um erro marcante ao dizer que perdeu as eleições
“para uma organização criminosa”. Dessa forma, desqualificou o voto do
eleitor contrário a ele.
Para o impetuoso mineiro,
“o grupo político que está aí caminha a passos largos para a
interrupção” do mandato de Dilma. Ele, por fim, tropeçou e caiu no
buraco. Tomado pelo delírio, deixou escapar a frustração que carrega no
peito após a derrota eleitoral. Em entrevista à Rádio Itatiaia, de Minas
Gerais, autonomeou-se “reeleito para a Presidência da República”. Ele
queria fazer referência à recente convenção tucana que o reconduziu à
presidência do PSDB.
Também obcecado, o ex-presidente FHC antecipou-se e carimbou o destino do objetivo: “Estamos prontos para assumir”.
Como os tucanos esperam para voltar ao poder poucos meses
após a derrota pelo caminho democrático? Com o golpe. Dilma cai e eles
assumem. Parte desse claro enigma está no artigo publicado pelo
timoneiro do golpe, em O Globo: “...
Espera-se que (as oposições)
reiterem não ter o propósito antidemocrático de derrubar governos, mas
tampouco o temor de cumprir deveres constitucionais, se os fatos e a lei
assim o impuserem”. Adaptado aos fatos políticos, o trecho de conhecida
poesia de Vinicius de Moraes seria declamada assim: ele espera
fingindo, fingindo que não espera."
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