O que Lula não fez para receber uma perseguição tão vergonhosa da imprensa?

Vale tudo contra ele
Paulo Nogueira, DCM

"O que Lula fez para merecer uma perseguição tão vergonhosa da imprensa?
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Todos sabemos, ou devíamos saber. Ele colocou a desigualdade na agenda nacional, um anátema para os bilionários donos da mídia.

Mas vamos abordar o caso por outro ângulo.

O que Lula não fez para sofrer caçada tão impiedosa?

Essa é fácil.

Ele não tratou com a devida importância a questão da regulação da mídia.
A posteridade discutirá se ele acertou, ao evitar uma encrenca, ou se errou, ao não enfrentá-la.

Pessoalmente, acho que errou.

Todas as sociedades avançadas regulam sua mídia, como todos os demais setores econômicos.

A imprensa não está acima da lei, esta é a lógica, embora no Brasil os donos de jornais se comportem como se estivessem.

Mídia não é beneficência, é negócio, e como tal tem que se tratada. Veja as fortunas dos proprietários das empresas jornalísticas.

Os porta-vozes dos barões alegam que regular é censurar, mas quem acredita nisso acredita em tudo, como disse Wellington.

Regular é colocar ordem.

A Inglaterra, nestes dias, está na fase final de uma reforma nas regras da imprensa.

Um dos pontos centrais, nas mudanças, é inspirado na legislação da Dinamarca.

Quando os jornais dinamarqueses cometem um erro contra alguém, são obrigados a publicar a correção no mesmo lugar em que deram a notícia equivocada.

Na primeira página, se foi assim.

Este tipo de coisa tem duas virtudes essenciais.

A primeira é que a sociedade fica mais protegida do poder destrutivo da mídia. E a segunda, não menos relevante, é que a imprensa é forçada a ser mais precisa na publicação de suas matérias.

Precisão é tudo numa publicação. Joseph Pulitzer, talvez o maior jornalista da história, exigia de sua equipe precisão, precisão e ainda precisão.

O ambiente de relaxamento de regras em que vive a imprensa brasileira estimula a produção em série de erros – sobretudo, é claro, contra inimigos como Lula.

Num caso histórico, a Veja publicou um dossiê – que depois se comprovou barbaramente fajuto – com contas no exterior de líderes petistas, a começar por Lula.

O argumento da revista é inacreditável para quem leva a sério jornalismo: “Não conseguimos provar e nem desmentir.”

Por muito menos que isso, qualquer revista estaria morta em países em que não há leniência corrosiva para a mídia, como os Estados Unidos ou a Inglaterra.

Ainda no campo do espaço para retratações, um dia será reconhecido como escárnio ao público o procedimento da Folha.

A Folha assassina uma reputação na manchete (Dirceu é uma vítima contumaz) e depois corrige seu erro num rodapé que ninguém lê, a infame seção “Erramos”.

Lula não avançou, em seus oito anos, na questão das regras para a imprensa.
Hoje, ele paga o preço disso.

Se o Globo, para ficar num exemplo, tivesse que publicar uma retratação no mesmo lugar em que cometeu um erro, dificilmente teria dado como “secreta” uma reunião de Lula que o próprio jornal noticiou, poucos anos atrás."

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