Do blog de Marcelo Auler
O leitor não é otário
Arnaldo César
Quem se deu ao trabalho de acompanhar,
através dos grandes jornais, as andanças do ex-presidente Lula, desde
quando proferiu a frase: “o PT perdeu o seu sonho e só pensa em cargos”,
deve estar se achando o mais otário de todos os otários.
A partir daquele encontro com
religiosos, no último dia 22, no instituto Lula, em São Paulo, o
ex-presidente passou a ser tratado pela Folha, Globo e Estadão como o
mais recente opositor ao governo da presidente Dilma. Todas as matérias
cravavam que ele estava se descolando da sua cria para poder preservar
as chances de reeleição em 2018.
Os tolinhos de plantão se esmeraram em
artigos repletos de ilações. Elaboraram textos copiosos para provar que
Lula se aproveitou da ausência de Dilma (em viagem oficial pelos
Estados Unidos) para tramar contra ela, em Brasília. Tudo por que havia
marcado encontros com as lideranças do próprio PT e com dirigentes do
Congresso.
Os mesmos jornais reconstituíram,
nesta quarta-feira (01/07), fragmentos das conversas conduzidas por ele,
na capital da República. O caradurismo é estarrecedor. Agora o
principal líder dos petistas aparece, nas páginas, como um estadista
responsável, pedindo união e cooperação ao esforço de Dilma para vencer a
crise e recolocar o País no rumo do crescimento.
Na semana passada, ele estava chutando
o pau da barraca. Em menos de dez dias, o noticiário se encarregou de
produzir uma fenomenal metamorfose. Transformou o então político
indignado e enfurecido com seu próprio partido num pacato conciliador
propositivo. Será que o Lula é uma figura tão mercurial, assim? Pode até
ser.
Mas isso, não livra a cara da nossa
imprensa. Em nenhum momento, as matérias apontaram que o ex-presidente
mudou de postura. Assim como nunca esclareceram aos crédulos dos
leitores sobre a história de que ele teria comprado, por R$ 1,8 milhão,
um luxuoso apartamento tríplex, de 297 metros quadrados, no Guarujá, no
litoral paulista. O que era uma vergonhosa “barriga” (jargão
jornalístico para informações inconsistentes) permanece como uma
escandalosa “pança”.
Há décadas, a coerência e
compromisso com a verdade foram chutados para escanteio. Já não se
separa mais a militância política do exercício profissional do
jornalismo. Agora tudo é uma coisa só. E, o leitor – se quiser – que
escolha o seu clube e “vamo que vamo”!
A democracia sempre funcionou melhor
nos lugares em que a opinião pública é bem informada. Levar informações
com imparcialidade aos cidadãos é um dos fundamentos do jornalismo. Pena
que tais conceitos não são levados a sério! Hoje em dia são vistos
apenas como aquelas frases bem intencionadas pintadas nos para-choques
dos caminhões.
A questão não é proteger ou atacar o Lula, a Dilma ou o PT. Eles têm meios, recursos e braços para defendê-los.
Mas quem protege o leitor do jornalismo engajado, omisso e mentiroso?"
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