Aécio diz que Dilma não respeita instituições, enquanto Alckmin faz oposição moderada


Cíntia Alves, GGN

"Após a presidente Dilma Rousseff (PT) dizer em entrevista à Folha que não tocou em nenhum "tostão" de dinheiro sujo desviado por qualquer esquema de corrupção, e que desafia a oposição a provar que sua campanha à reeleição praticou irregularidades, os dois principais postulantes ao Planalto em 2018 pelo PSDB reagiram de maneira oposta.

Aécio Neves, que ainda digere a derrota na última disputa presidencial, disparou que Dilma não respeita as instituições e está visivelmente abalada. Conduzido novamente ao comando do PSDB, o senador mineiro vai convocar grupos anti-PT para pressionar o Tribunal Superior Eleitoral a cassar o diploma de Dilma. Enquanto isso, com postura sóbria, o governador Geraldo Alckmin afirmou que não cabe ao PSDB "pressionar ninguém", mas sim resguardar a Constituição.

A reação de Aécio contra as falas de Dilma ocorreu já em entrevistas concedidas a diversas rádios e jornais ao longo da terça-feira (7). Duas delas chamaram atenção em função de atos falhos cometidos por Aécio: primeiro, ele disse que foi "reeleito presidente da República"; depois, que o "PSDB é o maior partido de oposição ao Brasil". Em nota, mais tarde, o senador conseguiu colocar a crise do governo Dilma em foco novamente, ganhando destaques dos principais veículos da velha mídia nesta quarta-feira (8).

“O discurso do golpe que vemos hoje assumido pela presidente da República, e repetido pelos seus ministros e pelos petistas, nada mais é do que parte de uma estratégia planejada para inibir a ação das instituições e da imprensa brasileiras no momento em que pesam sobre a presidente da República e sobre seu partido denúncias da maior gravidade”, disse Aécio.

"Para o PT, se o TCU [Tribunal de Contas da União] identifica ilegalidades e crime de responsabilidade nas manobras fiscais autorizadas pela presidente da República [no primeiro mandato], trata-se de golpe. Para o PT, se o TSE investiga ilegalidades na prestação de contas das campanhas eleitorais da presidente da República, trata-se de golpe. Se a Polícia Federal e o Ministério Público investigam crimes de corrupção praticados por petistas, para o PT trata-se de golpe”, completou. "Na verdade o discurso golpista é o do PT, que não reconhece os instrumentos de fiscalização e de representação da sociedade em uma democracia", acrescentou o tucano.

Na entrevista à Folha, Dilma disse que a oposição "um tanto quanto golpista" tenta tirá-la do poder apostando em ações que correm em diversos tribunais sem nenhuma "base". Ela rebateu que as pedaladas fiscais criticadas pelo TCU são manobras que o governo FHC usou sem nunca ser questionado. Quanto à ação eleitoral no TSE, a presidente lembrou que Aécio também recebeu doações das mesmas empreiteiras que o PT, e questionou por que apenas os repasses eleitorais feitos a ela são vistos como frutos de ilegalidades.

Para Aécio, a entrevista de Dilma na Folha foi uma demonstração de "susto". "Olha o nível de instabilidade emocional e política da nossa presidente! Não achava que a nossa convençãozinha ia deixar a presidente Dilma tão assustada. Ela piscou. Está tão fragilizada que passou recibo." Na convenção do PSDB, o tucanato adotou o discurso de fazer o que for necessário para tirar o governo da crise, incluindo assumir o lugar de Dilma em uma eventual queda da presidente.

Cumprindo agenda em São Paulo, Alckmin foi questionado pela imprensa sobre a postura adotada pelo PSDB contra Dilma. Ele, então, rechaçou a hipótese de convocar protestos de rua para pressionar o TSE a cassar o diploma da presidente e do vice, Michel Temer (PMDB). "Não cabe nenhuma pressão ao TSE, que é outro poder. Não temos que pressionar ninguém". Segundo informações da Agência Estado, Alckmin negou, porém, que o PSDB esteja rachado. "Não existe divisão no PSDB. Nós somos cumpridores da Constituição".

Se o TSE cassar o diploma de Dilma em definitivo, a presidente será afastada do poder e Eduardo Cunha (PMDB) assumiria por até três meses, até que novas eleições sejam realizadas. Nesse cenário, Aécio seria o candidato natural do PSDB, atrasando os planos de Alckmin de chegar ao Planalto. "

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