Luis Nassif, GGN
"Desde
1994 o poder, no Brasil, foi exercido por um duopólio: PSBD e PT. Com
eles a Presidência da República conseguia unificar forças políticas e
econômicas em torno de alguns consensos.
Através
do Banco Central atendia-se às demandas de mercado; o presidencialismo
de coalizão garantia o atendimento das demandas políticas; a
estabilização de preços, primeiro, a inclusão social, depois, garantiam a
legitimidade do Executivo.
Nem
se considere que ambos os períodos foram virtuosos. No reinado do PSDB
procedeu-se a um desmonte do Estado e a um crescimento exponencial da
dívida pública. No reinado do PT manteve-se o câmbio apreciado, os juros
elevados e a falta de um projeto de país.
Mas,
em todo caso, em ambos os períodos se manteve a federação sob controle
do Executivo, mesmo nas fases mais árduas, como no
pós-maxidesvalorização cambial, do período FHC, ao julgamento do
mensalão, no período Lula.
***
O
que se observa, agora, é um esgarçamento inédito do poder, não apenas
da presidência, mas dos dois partidos que revezaram-se na hegemonia
política.
A
consequência é uma multiplicação de jogadas oportunistas, esbirros de
poder atropelando normas, regulamentos sociais, jurídicos e políticos.
Há semelhanças e diferenças em relação a 1964.
As
semelhanças estão na fraqueza da presidência da República, nos
movimentos raivosos da classe média e nas indecisões de Jango e Dilma
equilibrando-se em tentativas mal elaboradas de contentar a base ou o
establishment.
As
diferenças estão na falta de um Carlos Lacerda e um Leonel Brizola
botando mais fogo no circo; na ausência de princípios claros na
oposição. Mas, principalmente, na falta de um protagonismo militar.
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De
fato, a presidência de um país continental, como o Brasil, ou se
sustenta na força ou nos programas. Ou é temida ou respeitada.
Quando
a Polícia Federal e o Ministério Público Federal, com base em provas
frágeis, invadem a casa de um governador, principal aliado de Dilma
Rousseff, ou quando implantam escutas no Palácio, sem se preocupar com
as consequências, é porque rompeu-se definitivamente o fio que
sustentava a autoridade presidencial.
***
Se
não é temida, a autoridade presidencial também não é respeitada. A
política foi terceirizada para o vice-presidente Michel Temer; a
economia para Joaquim Levy. Não se vê um sinal mais concreto de
preparação de uma agenda de desenvolvimento.
Cria-se
o vácuo, então, no qual a ocupação do espaço político se dá na base do
grito e das cotoveladas. Implanta-se a selvageria institucional, tendo
como protagonistas personalidades do calibre de um Gilmar Mendes,
Eduardo Cunha, Renan Calheiros.
No
início, colocaram sob ameaça as conquistas civilizatórias na área dos
direitos humanos. Agora, acenam com o próprio desmonte da unidade
federativa brasileira, com a proposta de esvaziar a União em favor de
estados e municípios.
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A luta fratricida entre PT e PSDB é um perde-perde.
As
duas principais lideranças das últimas décadas – Fernando Henrique
Cardoso e Lula – são incapazes de articular propostas, unificar a base e
colocar alguma ordem no seu terreiro.
FHC
está cego pela oportunidade de liquidar com Lula, ainda que à custa do
agravamento da crise. E Lula perde a cada dia o papel de interlocutor
nacional, amarrado pela falta de propostas do PT e, principalmente, pela
inação do governo Dilma.
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Some-se
a tudo isso políticas fiscal e monetária demolidoras, que ampliarão
gravemente a recessão e o desemprego, e se terá um mapa do inferno pela
frente."
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