Gunter Zibell, GGN
"Eu realmente espero que essa
circunstância de haver parlamentares propondo coisas absurdas não leve a
uma onda de preconceito contra evangélicos.
Pessoas de fé pentecostal também são
vítimas de discriminação. Já conheci religiosos no armário, o que é
compreensível em uma sociedade onde há recorte social de classe também
de religião, e não apenas de raça. Há que se trabalhar essa inclusão
também.
Em quase nenhuma casa legislativa do
país há uma maioria de bancada fundamentalista. Usualmente se fica em
15-20% nas Assembleias Legislativas e Câmaras de capitais.
Quando um projeto tosco é protocolado, o
bom senso diz que comissões e presidentes de mesas não o encaminharão
para votação. Mas, e se for a votação? Basta que esta seja aberta que a
opinião pública 'cai em cima'. É essa a razão porque aquela tolice de
'cura gay' não foi sequer levada a votação, seria constrangedor.
Que eu me lembre nada disparatado foi aprovado. O Estatuto do Nascituro, por exemplo, não avançou.
No entanto, há o problema oposto: bons
projetos secularistas, como o de incluir discussão de gênero em Planos
Municipais de Educação ou realizar o aborto legal (desde 1940) no SUS,
são barrados.
Isso acontece por uma onda reacionária? Como, se as bancadas são relativamente pequenas?
Isso acontece, na verdade, por
negociação cruzada de apoios. Se há quem ofereça tempo de TV, elogio em
púlpitos, apoio para não abertura de CPIs, etc, é porque há quem aceite.
Combinado não é caro, mas por outro lado não há tantos santos no Legislativo.
Se políticos influentes ou pessoas
detentoras de elevados cargos executivos quiserem se mostrar contrários a
projetos retrógrados ou quiserem se mostrar favoráveis a projetos
evolutivos, podem.
Não existe nenhuma proibição para
líderes políticos dizerem "eu sou contra a redução da maioridade penal"
ou "eu apoio a criminalização da homofobia". Ou ainda "o aborto em
função de estupro deve ser oferecido pelo SUS".
Não fazem porque querem manter um sistema de negociações em casas legislativas.
Então, vamos parar com esse muxoxo de
que a sociedade está se tornando reacionária porque não está, não há
nenhuma pesquisa de opinião que indique isso. (obs.: existe a
circunstância de 90% da população apoiar a redução da maioridade penal,
mas isso é um caso particular consequente de omissão do Poder Público
nos três níveis desde a implantação do ECA. Questões de segurança
pública são um gargalo no Brasil, um dos poucos grandes países onde a
criminalidade aumentou nos últimos 20 anos.)
Fora a questionável redução da MP (e
inclusive já temos uma alternativa sendo divulgada para isso), para que
outro assunto há mesmo uma real pressão da Opinião Pública em prol de
conservadorismo?
Para que bandeira conservadora
moral/fundamentalista haveria artistas, acadêmicos, jornalistas,
empresários - a chamada Opinião Pública, portanto - clamando por
conservadorismo ou reacionarismo?
Um pouco menos de criação de espantalhos e um pouco mais de sinceridade são elementos bem-vindos para o Brasil atual."
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