"Stefan Zweig e Darcy Ribeiro não reconheceria o pais que louvaram pelo caráter de seu povo
Tereza Cruvinel, Blog: Tereza Cruvinel
No inventário dos últimos dias, começo por esta desastrada viagem de
senadores brasileiros à Venezuela. Por mais solidariedade que
mereçam por terem enfrentado hostilidades que os impediram de alcançar o
objetivo político a que se propuseram, visitar um preso político local,
não se pode deixar de dizer que violaram um paradigma de nossa relação
com os outros povo: o princípio da não-ingerência que embasou uma forte
tradição diplomática. Imaginemos alguns senadores americanos chegando
aqui, sem prévio aviso às autoridades, para uma missão semelhante. A
caravana da oposição poderiam ter ido a Caracas mas não como
franco-salvadores da pátria alheia. Mas como são da oposição, quiseram
desembarcar nesta condição. Lã fora não existe esta distinção.
Protagonizaram um “mico diplomático”. embora ganhando munição interna
para a guerrilha ininterrupta contra o governo Dilma.
Abro o computador e vejo uma foto estarrecedora. “Jô Soares, morra”, diz a enorme pichação no asfalto, defronte à casa do apresentador, humorista, jornalista. Só o ódio disseminado justifica tal agressão a ma figura como Jô, unicamente pelo fato de ter feito uma entrevista civilizada com a presidente da República. Nos idos de 2005 participei do quadro por ele então criado em seu programa, o Meninas do Jô, Três ou quatro programas depois entendemos, bilateralmente, que não havia lugar para mim naquelas seções de sectarismo, anti-petismo e demonização da política, com a ressalva de que Cristiana Lobo foi quem sempre manteve ali a compostura jornalística. Muitos me agredirao na blogosfera, dizendo fui “tirada” do programa porque era lulista, petista, esquerdista e tal. Lembrei-me disso ao perceber que Jô deu-se conta dos efeitos do veneno ministrado ao longo dos ultimos anos ao povo brasileiro.
Veneno que o atinge agora, quando ele comete o crime de se portar como um entrevistador civilizado. Para perguntar não precisa agredir, foi o que ele ensinou.
Vejo outra foto. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, recebe a menina que levou uma pedrada porque vestia roupas brancas do candomblé, religião de sua família, na qual estava sendo iniciada. Ouvi a mãe dela contar no rádio que os agressores brandiam bíblias e as chamavam de macumbeiras. A menina foi ao IML e ali também foi apupada. Onde estamos? O que diria Darcy Ribeiro, que escreveu um livro magistral, O Povo Brasileiro, louvando aquilo que não somos mais? O que diria Stefan Zweig. que se encantou com o Brasil e o chamou país do futuro apostando exatamente na natureza de seu povo para transformar nossas riquezas e potenciais em uma grande oportunidade civilizatória? Aqui sempre conviveram todas as religiões, havendo espaço também para a não-religião. Mas agora a intolerância religiosa chegou para valer e nesta marcha, florescerá a violência religiosa. O Líbano era belo e livre, até que a intolerância religiosa o devorou.
Bem, melhor não abrir alguns blogs nem as páginas de comentários, onde o ódio rola solto na Internet, ferramenta que deveria aproximar e está servindo para dividir.
Ligo o rádio e ouço discursos intrépidos na Câmara, pontuados de palavras ásperas.
Melhor encerrar uma semana destas no interior de Minas, protegida pelas montanhas e pela simplicidade pacífica que ainda resta por lá. Ou não restará?"
Tereza Cruvinel, Blog: Tereza Cruvinel
A cada semana alguns fatos borram a imagem do pais
tropical, bonito por natureza e habitado por um povo cordial, que se
miscigenou livremente e sempre se pautou pela tolerância para com a
diferença, seja de credo, raça ou convicção política. Os surtos
autoritários de elites minoritárias só confirmavam o que na maioria era
traço do caráter nacional.
Abro o computador e vejo uma foto estarrecedora. “Jô Soares, morra”, diz a enorme pichação no asfalto, defronte à casa do apresentador, humorista, jornalista. Só o ódio disseminado justifica tal agressão a ma figura como Jô, unicamente pelo fato de ter feito uma entrevista civilizada com a presidente da República. Nos idos de 2005 participei do quadro por ele então criado em seu programa, o Meninas do Jô, Três ou quatro programas depois entendemos, bilateralmente, que não havia lugar para mim naquelas seções de sectarismo, anti-petismo e demonização da política, com a ressalva de que Cristiana Lobo foi quem sempre manteve ali a compostura jornalística. Muitos me agredirao na blogosfera, dizendo fui “tirada” do programa porque era lulista, petista, esquerdista e tal. Lembrei-me disso ao perceber que Jô deu-se conta dos efeitos do veneno ministrado ao longo dos ultimos anos ao povo brasileiro.
Veneno que o atinge agora, quando ele comete o crime de se portar como um entrevistador civilizado. Para perguntar não precisa agredir, foi o que ele ensinou.
Vejo outra foto. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, recebe a menina que levou uma pedrada porque vestia roupas brancas do candomblé, religião de sua família, na qual estava sendo iniciada. Ouvi a mãe dela contar no rádio que os agressores brandiam bíblias e as chamavam de macumbeiras. A menina foi ao IML e ali também foi apupada. Onde estamos? O que diria Darcy Ribeiro, que escreveu um livro magistral, O Povo Brasileiro, louvando aquilo que não somos mais? O que diria Stefan Zweig. que se encantou com o Brasil e o chamou país do futuro apostando exatamente na natureza de seu povo para transformar nossas riquezas e potenciais em uma grande oportunidade civilizatória? Aqui sempre conviveram todas as religiões, havendo espaço também para a não-religião. Mas agora a intolerância religiosa chegou para valer e nesta marcha, florescerá a violência religiosa. O Líbano era belo e livre, até que a intolerância religiosa o devorou.
Bem, melhor não abrir alguns blogs nem as páginas de comentários, onde o ódio rola solto na Internet, ferramenta que deveria aproximar e está servindo para dividir.
Ligo o rádio e ouço discursos intrépidos na Câmara, pontuados de palavras ásperas.
Melhor encerrar uma semana destas no interior de Minas, protegida pelas montanhas e pela simplicidade pacífica que ainda resta por lá. Ou não restará?"
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