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"Eduardo Cunha aparelhou e domesticou o legislativo com seu time de evangélicos. No vácuo de poder deixado por uma presidente enfraquecida, ele é, efetivamente, quem pauta a agenda política.
Cunha anunciou que acha normal manifestações religiosas na Câmara, como a que aconteceu na semana passada quando deputados rezaram o Pai Nosso e berraram “Viva Jesus” num protesto contra a Parada Gay. Absolutamente à vontade, os pseudo ultrajados passearam pelas tribunas, subiram na mesa, fizeram o diabo.
Foi tudo planejado na véspera com Cunha, embora ele afetasse surpresa quando lhe foi cobrada a afronta à laicidade. “Não posso impedir a manifestação do parlamentar, não posso calar a boca de parlamentar, como não impedi de bater panela”, disse.
A ocasião faz o ladrão e Cunha aproveitou para dar caráter de urgência a um projeto de lei que criminaliza a “cristofobia”. Não foi, evidentemente, a primeira demanda evangélica a que ele dá sustentação e prioridade total.
Anunciou que aborto não vai pautar nem que a vaca tussa, mas reenviou o projeto de proibição de adoção de crianças por casais homossexuais. Ressuscitou a palhaçada do Dia do Orgulho Hétero.
Nomeou para a Diretoria de Recursos Humanos uma certa Maria Madalena da Silva Carneiro, evangélica, advogada e teóloga (pobres teólogos, deus os livre e guarde). Maria Madalena cuidará de 80% do orçamento da Câmara (4,189 bilhões de reais).
Ela não passou por concurso público. Uma semana antes da indicação, Cunha conseguiu a aprovação do plenário de um projeto que lhe deu o poder de escolher o secretário de comunicação social. Chamou o deputado Cleber Verde, da bancada da Bíblia, cujo Partido Republicano Brasileiro é ligado à Igreja Universal.
Incorporou no pacote fiscal uma isenção tributária às igrejas que, se aprovada, pode resultar na anulação de impostos de igrejas que remontam a mais de 300 milhões de reais. Falta a sanção de Dilma.
Algumas das atitudes de Cunha são mais abertas que outras. Na surdina, por exemplo, loteou o nome de Jesus Cristo na internet. Todas as variações de JC com o termo “facebook” são dele, como ”jesusfacebook.com.br”, “facebookjesus.com.br” e “facejesusbook.com.br”. São 212 nomes de site com cunho religioso, 154 deles mencionando “Jesus”.
Por trás de tanta preocupação com a moral e os bons costumes está a tentativa de não se chamuscar na Lava Jato. Na quinta feira passada, quando houve a convocação de Paulo Okamoto, do Instituto Lula, para depor, personagens que o comprometiam foram “poupados” e não foram chamados.
Nada vai parar Eduardo Cunha, o presidente do Estado Evangélico do Brasil. Nem Jesus. Pobre Brasil."
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