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Nogueira Jr.
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A Nike fechou um contrato de patrocínio com a seleção brasileira de US$ 200 milhões, com validade de dez anos, que surpreendeu o mercado pela grandeza. AP |
Sara Germano e PatriciaKowsmann, The Wall Street Journal
"O envolvimento da
Nike Inc.
NKE -0.55%
no maior escândalo do mundo do futebol começou há 20 anos com um mergulho de cabeça num território desconhecido.
Logo
depois que os Estados Unidos sediaram a Copa do Mundo, em 1994, com a
empresa desesperada para colocar os pés de verdade no esporte mais
popular do mundo, os altos executivos da Nike buscaram agressivamente um
acordo com a Confederação Brasileira de Futebol, a CBF. A iniciativa
resultou em um acordo de US$ 200 milhões, com validade de dez anos, uma
cifra surpreendente que colocou a gigante do futebol
Adidas AG
ADS.XE -1.74%
diante de uma concorrente de peso.
Em
um sinal da importância do contrato para a empresa americana, ele foi
assinado por um dos fundadores da Nike, Philip Knight; o
diretor-superintendente da empresa, Tom Clarke; o diretor da área de
futebol, Sandy Bodecker; e o diretor de marketing esportivo para
futebol, Cees van Nieuwenhuizen, de acordo com o contrato que consta nos
registros de uma investigação do Congresso brasileiro realizada em
2001.
Mas entrevistas com pessoas
envolvidas no setor de marketing do futebol na época do negócio indicam
que a Nike entrou no país — e no alto escalão do esporte — sem muito
conhecimento de como os acordos eram negociados. O resultado foram erros
que no fim acabaram enredando a Nike em uma ampla investigação dos EUA
sobre corrupção na Federação Internacional de Futebol, a Fifa.
O
contrato da Nike diz que a empresa faria o pagamento diretamente à CBF,
não a um intermediário que a representaria. O processo de 160 páginas
divulgado na semana passada nos EUA, porém, alega, em uma referência
velada à Nike, que US$ 30 milhões do contrato de patrocínio foram pagos
em um acordo paralelo entre a empresa e um intermediário. O
intermediário usou parte dos recursos para praticar suborno, segundo as
acusações.
Uma pessoa a par do assunto confirmou que a empresa é a Nike.
A
Nike não é citada na acusação nem nenhum dos seus executivos são
acusados de praticar irregularidades. A empresa afirma que está
cooperando com as autoridades. Ela se recusou a disponibilizar Clarke,
Bodecker ou Knight para fazer comentários. Não foi possível localizar
van Nieuwenhuizen.
A Nike não quis
comentar sobre temas específicos para esta reportagem. Em uma entrevista
concedida ao The Wall Street Journal em 1997, Knight sinalizou que a
entrada da empresa no segmento mais alto do futebol tinha sido uma
experiência de aprendizagem.
“Ficamos um
pouco surpresos com a política do futebol e de como os negócios são
feitos nesse mundo”, disse ele. “De certa forma, é o mais político de
todos os esportes.”
A acusação mostra
como a grande indústria do futebol gerou riscos consideráveis aos seus
patrocinadores. Estimulada pelo negócio, a Nike hoje gera cerca de US$
2,3 bilhões em receita graças ao futebol, cabeça a cabeça com a Adidas.
No ano passado, a empresa americana patrocinou mais seleções na Copa do
Mundo no Brasil do que a concorrente alemã.
Mas
pessoas com quem a Nike negociou para garantir o acordo de patrocínio
da seleção brasileira estão agora sendo investigadas pelas autoridades
americanas, e as alegações de suborno contra altas autoridades da Fifa
lançaram uma sombra sobre a marca da empresa.
Steve
Miller, que passou boa parte dos anos 90 trabalhando no departamento de
marketing esportivo da Nike, diz que a companhia entrou “totalmente às
cegas” na região, onde ela tinha poucas pessoas trabalhando localmente.
“O Brasil era um lugar onde não estávamos seriamente engajados, não tínhamos um diretor para o Brasil”, diz Miller.
A
Nike parecia estar fora da corrida do futebol em meados dos anos 90 e
descobrir uma forma de voltar a ela era uma prioridade, segundo
entrevistas com executivos que trabalham ou trabalhavam na indústria de
marketing esportivo na época. A companhia pôs o Brasil na mira e quando a
Nike conseguiu o patrocínio da seleção brasileira, a comunidade de
marketing do futebol ressaltou a disposição da empresa de gastar o que
fosse preciso.
Doug Logan, que foi o
comissário da liga principal de futebol dos EUA (a MLS) de 1995 a 1999,
diz que o negócio alterou as expectativas. “Significava que nossos
fornecedores de materiais e roupas teriam que elevar suas apostas”, diz
ele.
Peter Moore, que já trabalhou na
Nike e foi diretor-presidente da Adidas America entre 1994 e 1998, diz
que o acordo com a seleção brasileira foi o momento em que a Adidas
começou a levar a Nike a sério no futebol, o esporte principal da
empresa alemã.
Mas houve uma
consequência indesejada. Para garantir o acordo com o Brasil, a Nike
teve que renegociar com um intermediário, a Traffic Sports, que era a
agência de marketing da CBF. O dono da Traffic Sports, José Hawilla, que
aparece como um dos signatários do contrato, admitiu crimes como
lavagem de dinheiro, fraude e extorsão ligados à investigação sobre o
futebol nos EUA. Entre as informações que acompanham sua declaração de
culpa está uma descrição dissimulada do acordo com a Nike.
Quem
negociava com a Nike em nome da CBF era o presidente da entidade na
época, Ricardo Teixeira, que também aparece como signatário do contrato.
Ele não foi citado nas acusações dos promotores dos EUA contra a Fifa,
que se refere ao negociador da federação brasileira como conspirador
#11.
O paradeiro de Ricardo Teixeira não é conhecido.
O
processo contra a FIFA nos EUA aborda os esforços da Nike para
conquistar o contrato no Brasil com certo detalhe, embora não mencione o
nome da empresa, referindo-se apenas a uma “Empresa de Artigos
Esportivos A”, descrevendo-a como uma multinacional com sede nos EUA.
Informação apresentada por Hawilla como parte do processo contra ele
acrescentou mais pormenores. A empresa em questão é a Nike, diz uma
pessoa a par do assunto.
De acordo com
os documentos, um funcionário da federação, Hawilla, da Traffic Brazil, e
quatro representantes da empresa se reuniram em Nova York para assinar
um acordo de patrocínio de 44 páginas que exigia que a empresa pagasse
US$ 160 milhões ao longo de 10 anos.
“A
Nike não será solicitada a pagar qualquer remuneração à Traffic, de
acordo com este contrato”, diz o documento, segundo a transcrição da
investigação feita pelo Congresso. “A CBF será responsável por todos os
pagamentos à Traffic, de acordo com este contrato.”
De
acordo com o processo nos EUA, no entanto, havia outros termos
financeiros que não foram refletidos naquele acordo: a Companhia de
Artigos Desportivos A concordou em pagar a uma afiliada da Traffic por
meio de uma conta bancária na Suíça um adicional de US$ 40 milhões em
compensação. Três dias depois que o contrato principal foi assinado, um
representante da empresa assinou um acordo de uma página com a Traffic
que dizia que a CBF havia autorizado a Traffic a cobrar a empresa
diretamente. A Traffic apresentou à empresa faturas totalizando US$ 30
milhões ao longo dos três anos seguintes, algumas dos quais a Traffic
pagou como subornos e propinas, alega o processo nos EUA.
Miller,
que deixou a Nike por volta do ano 2000, diz que não tinha nenhuma
razão para acreditar que a Nike tenha feito nada de ilegal em seu acordo
no Brasil.
E, apesar da situação atual, o acordo de patrocínio rendeu frutos para a Nike.
A
empresa patrocinava cinco seleções no momento em que o acordo com o
Brasil foi anunciado, segundo uma reportagem na época. Na última Copa do
Mundo, a Nike patrocinava dez equipes e a Adidas, nove.
Sonny
Vaccaro, um proeminente executivo de marketing esportivo que trabalhou
tanto para a Nike quanto para a Adidas, disse que o acordo brasileiro
foi um divisor de águas. “Essa foi a última vez que a Adidas foi dona do
mundo”, diz ele."
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