Paulo Fonteles Filho, Blog: Paulo Fonteles Filho
"Há mais de
dois mil anos, Roma, a cidade eterna, tinha os domínios do mundo. Escravizava
povos e sociedades, tinha o terrível Herodes a seu serviço, muitos serviam de
espiões, milhares de crianças foram mortas porque se anunciava o Messias.
Toda criança
morta, não importa se judeu ou árabe era pela simples ameaça do Messias.
Decerto que o sorriso de uma criança é uma ameaça para um tirano e isso vale
para aqueles tempos, como para os atuais.
O fato é que
o Messias, por sorte ou graça divina, como queiram, se tornou num dos homens
mais importantes da história universal e a fase mais bela de sua igreja foi
quando perseguida e vivia nas catacumbas, em luta pela justiça e liberdade, às
vezes com armas nas mãos.
A questão é
que ele está aqui entre nós, seja pela fé ou pela história. Sua mais brilhante
passagem foi no socialista-primitivo discurso de “O Sermão da Montanha”:
‘bem-aventurados aqueles que têm fome e sede de justiça, porque deles será o
reino dos céus’, me desculpe se não for assim.
A questão central é que lhe mataram mil vezes e
mataram de verdade só que o homem não morreu, resiste até hoje. Quem me conhece
sabe no que acredito e como preconizava Máximo Gorki, o escritor russo, creio
nos livros e na vida.
Não se mata
uma ideia. A grande fixação dos direitistas é sempre matar uma ideia. Toda
ideia é subversiva para um recalcitrante. Tudo que é diferente dá trabalho.
Tudo que é mestiço é anticolonial. Definitivamente não se mata uma ideia, mas a
velhacaria um dia desaparece, aliás, apodrece.
Acontece que
em cada palavra, cada pregação ou post nas redes sociais, os pastores
Marco Feliciano e Silas Malafaia, como se tivessem uma procuração digna
das tábuas de
Moisés destilam um ódio – irmão siamês da violência – próprio desta
quadra
histórica tão marcada pelo recrudescimento de forças tão obtusas que nos
fazem
crer que a mentalidade da idade média é a grande vedete da direita.
A reinvenção
dos tribunais inquisidores é sempre uma boa pedida para o estabelecimento da barbárie.
Agora os alvos são os homossexuais, os terreiros da religiosidade profunda -
forjada nos navios negreiros – os símbolos da própria Igreja Católica e a esquerda.
Amanhã, se
não forem duramente desmistificados, serão as ciências, as artes, o bom senso e
o pensamento social avançado o alvo das pregações que faria todo Cristo, o
humano ou divino, corar de tanta indignação, porque sua tez histórica - de
homem perseguido, caluniado e morto na cruz - foi o da justiça e na
prosperidade espiritual da humanidade.
Vai me
parecendo cada vez mais que esse fanatismo polaroide, onde a salvação tilinta nas
mesmas trinta moedas de Judas - porque é
no lombo da ignorância que ocorre o milagre da multiplicação das poucas e milhardarias
fortunas - que haveremos de travar a civilizatória luta contra os Pilatos e
Herodes da contemporaneidade.
A coisa é tão séria
que, se eles vencerem no imaginário dos brasileiros, não seria surpresa
se mandarem queimar os livros, como decretavam as hienas de Hitler. A Bíblia
também seria torrada na catarse fascista, seja pela sua qualidade
literária ou por narrar a história de parte expressiva dos povos.
A Renascença,
os sonhos de Da Vinci e as convicções de Giordano Bruno há séculos têm nos
ensinado como enfrentar os heróis do obscurantismo.
Não passarão!
Não passarão!
Arte: Angelina Anjos
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