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André Barrocal, CartaCapital
A campanha "O Petróleo É
Nosso", lançada há mais de 60 anos, uniu políticos, movimentos,
intelectuais e personalidades de diversas correntes e acabou vitoriosa
graças a essa variedade de integrantes. Seria possível repetir algo
parecido hoje no Brasil para enfrentar uma ofensiva conservadora que não
se limita a pregar a repartição do pré-sal com companhias estrangeiras, mas também o impeachment, a volta da ditadura, o retrocesso em direitos sociais e trabalhistas? Há quem aposte que sim e prepare o lançamento de uma reação por ora chamada de Frente Nacional Popular.
A Frente deverá ganhar vida em junho, a partir de um ato
público. Entre seus articuladores circula um esboço de manifesto. Embora
o objetivo principal seja o de resistir à onda conservadora, o
documento elenca bandeiras propositivas. Prega-se a defesa da democracia
e seu aprofundamento pela reforma política, o fortalecimento da soberania nacional contra os efeitos da crise da Petrobras,
a volta do crescimento com distribuição de renda e sem arrocho fiscal, o
combate às desigualdades e a manutenção de direitos trabalhistas.
Um dos principais mentores é o cientista político e ex-ministro Roberto Amaral, um dos fundadores do Partido Socialista Brasileiro e colunista de CartaCapital.
Para ele, assiste-se hoje no País a uma ofensiva da direita conservadora
como não se via desde o governo João Goulart, deposto pelo golpe de
1964. Tal avanço, diz Amaral, ameaça conquistas sociais históricas e só
pode ser detido por uma união de forças que não se limite a partidos,
pois estes estão sob suspeita da sociedade, a começar pelo PT. “Diante
da emergência reacionária, os partidos estão atônitos, sem resposta
política”, afirma. “A saída é uma frente de massa. Até para defender
reformas profundas que nossos governos não tiveram forças sequer para
tentar.”
A ideia começou a germinar
com inquietações surgidas logo depois da eleição presidencial de
outubro. O pedido do PSDB à Justiça Eleitoral de uma auditoria nos votos
obtidos por Dilma Rousseff provocou apreensões. Deu uma
pista sobre o tamanho e a gana do conservadorismo, mais tarde expressos
com clareza em passeatas pelo impeachment da presidenta e a
favor da intervenção militar. A apreensão aproximou intelectuais,
políticos com e sem mandato, sindicalistas, movimentos sociais e
empresários, que começaram a se reunir a partir de novembro, de forma
discreta, no Rio de Janeiro, em São Paulo e Brasília. E ganhou corpo
durante um debate, em março, no Sindicato dos Professores do Rio, do
qual participaram Amaral, os ex-ministros José Gomes Temporão e Luiz
Dulci, o economista Theotonio dos Santos, o empresário Pedro Celestino e
uma série de acadêmicos.
Foi citada em público pela
primeira vez em abril, quando uma mesa-redonda no Clube de Engenharia,
também no Rio, discutia a possibilidade de a crise na Petrobras levar a
uma invasão do País por petroleiras e empreiteiras estrangeiras. O
batismo provisório, sugestão do líder de um famoso movimento social,
despontou no dia seguinte, em um debate semelhante ocorrido no sindicato
paulista dos engenheiros.
Presidente do Clube de Engenharia e
mediador da mesa-redonda de abril, o empresário Francis Bogossian
declara-se “inteiramente de acordo com a ideia da Frente”. Foi por essa
razão que ele topou acolher debates sobre os rumos do País na entidade,
condicionando apenas que não fossem de caráter partidário. “Vemos
nitidamente um movimento em prol dos interesses estrangeiros”, avisa.
O caráter suprapartidário ficará nítido caso se confirme a adesão do economista
Luiz Carlos Bresser-Pereira, ex-ministro de FHC, hoje crítico da
oposição, e o jurista Cláudio Lembo, ex-governador de São Paulo. Não é
de hoje, os dois disparam contra a insurgência reacionária. Segundo
Bresser-Pereira, a distribuição de renda nos governos Lula e Dilma
produziu um ódio de classe contra o PT por parte dos ricos e de uma
“classe média que virou muito conservadora, infelizmente”. Ele aponta o
fim do pacto nacional-popular da era Lula. Lembo, que esteve no debate
de abril no sindicato dos engenheiros, repele o “Fora Dilma” e os
clamores em prol da volta dos militares ao poder. “Há uma coisa
diabólica acontecendo no Brasil”, resume.
Um dos combustíveis
da Frente, o desgaste do PT, é reconhecido até por petistas. Não por
acaso o ex-ministro e ex-governador Tarso Genro tornou-se um aliado de
primeira hora da proposta e tem se reunido com frequência com Amaral. “A
Frente é fundamental para neutralizar o antipetismo instrumentalizado
por setores reacionários. Por isso o PT não pode estar sozinho, tem de
estar ao lado de outras forças democráticas e populares”, considera o
deputado Alessandro Molon, outro participante das discussões.
O papel mais importante do movimento, enxerga Molon, é
enfrentar os retrocessos da Câmara dos Deputados, que sob a regência do
peemedebista Eduardo Cunha adotou uma pauta marcadamente retrógrada,
incluídas a terceirização total do mercado de trabalho, a revogação do
Estatuto do Desarmamento e a constitucionalização das doações
empresariais de campanha.
“Os maiores riscos de retrocesso hoje estão na
Câmara. Há conquistas com as quais sonhamos, mas a situação da Câmara é
tão grave, que impedir retrocessos já será uma vitória.” A proposta da
Frente mostra, enfim, que uma ala progressista da sociedade decidiu
reagir. Já era hora."
Comentários
Brasil: Petróleo e Geopolítica >--> copie, cole, reflita e repasse pelo bem do Brasil !!! >--> https://www.youtube.com/watch?v=nOaff79Tpqg