Luiz Antonio Simas, via facebook
'As moças se chamam babás; é isso?
Como escrevi certa feita, há um senhor
de engenho nos espreitando nos elevadores sociais e de serviço; nos
apartamentos com dependências de empregadas; no bacharelismo imperial
dos doutores que ostentam garbosamente o título; na elevação do tom de
voz e na postura senhorial do “sabe com quem você está falando?”; na
cruzada contra a umbanda e o candomblé; na folclorização pitoresca
dessas religiosidades; nos currículos escolares fundamentados em
parâmetros europeus, onde índios e negros entram como apêndices do
projeto civilizacional predatório e catequista do Velho Mundo; no chiste
do sujeito que acha que não é racista e chama o outro de macaco; no
pedantismo de certa intelectualidade versada na bagagem cultural
produzida pelo Ocidente e refratária aos saberes oriundos das praias
africanas e florestas brasileiras.
O fato é que somos herdeiros de uma das
maldições que o cativeiro legou entre nós: a ideia de que a exploração
do serviço braçal é quase um favor que o senhor presta àquele a quem
explora. Jogam no mesmo time dos que diziam, na abolição da escravatura,
que sem o seu senhor o negro quedaria desamparado.
Tudo isso nos permite constatar que
Joaquim Nabuco de fato acertou na mosca. Disse ele que mais difícil do
que acabar com a escravidão no Brasil seria acabar com a obra que ela
produziu. É ela, a obra da escravidão, erguida em alicerces sedimentados
de uma forma profunda e eficaz na alma brasileira, que até hoje nos
assombra — porque nos reconhecemos nela como algozes ou vítimas
cotidianas — e precisa ser sistematicamente combatida.
O jornal poderia informar ao menos os nomes das babás?"
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