"Jornalista de Brasília registrou um boletim de ocorrência após a agressão
Djamila Ribeiro, CartaCapital
O "anúncio" foi feito no Facebook e apagado após a forte a repercussão negativa
Djamila Ribeiro, CartaCapital
O "anúncio" foi feito no Facebook e apagado após a forte a repercussão negativa
As redes sociais têm sido
palco de discurso de ódio e manifestações racistas.
Recentemente, após
alterar sua foto de perfil em uma delas, a jornalista brasiliense
Cristiane Damacena recebeu uma enxurrada de xingamentos racistas.
Nesta segunda-feira 11 de maio foi a vez
de mais uma mulher negra ser vítima desse tipo de ação. Coincidência ou
não, a vítima foi outra jornalista de Brasília.
Raíssa Gomes teve uma
foto sua grávida, tirada em 2011, colocada em forma
de anúncio num grupo
de Facebook destinado a vender artigos usados, com a seguinte frase:
“Vende-se um bebê por R$ 50 reais” Abaixo da foto ainda diz: “como eu e
minha mulher não conseguimos Cytotec [medicamento utilizado para a
realização de aborto] resolvemos vender a criança".
Raíssa soube que estava sendo exposta
meia hora depois que o falso anúncio foi ao ar. O “anunciante” foi
identificado como Laio Santiago e, após a repercussão, apagou o post.
Ela acredita que sua foto foi retirada de um texto que escreveu para o
site “Blogueiras Negras” o qual fala sobre a dificuldade de ser mãe e
negra e sobre parto humanizado.
Raíssa é categórica: “o que aconteceu
comigo é somente um reflexo do que a sociedade pensa e reproduz. Já
passou da hora das pessoas entenderem que não é um caso isolado; é
necessário discutir abertamente sobre racismo no Brasil e a perpetuação
dessas atitudes”.
A jornalista registrou boletim de
ocorrência na própria segunda-feira em uma delegacia da Asa Norte
(Brasília) e irá avaliar com sua advogada como dar prosseguimento ao
caso.
Grada Kilomba, em seu livro Plantations
Memories diz: “Por serem nem brancas, nem homens, as mulheres negras
ocupam uma posição muito difícil na sociedade supremacista branca. Nós
representamos uma espécie de carência dupla, uma dupla alteridade, já
que somos a antítese de ambos, branquitude e masculinidade”.
E é necessário combater essa posição
difícil que teimam em nos manter.
Sojourner Truth, precursora do
feminismo negro, em um trecho de um poema chamado “The preachers”
sintetiza a luta da mulher negra por dignidade:
“Eu não estou indo embora
Vou ficar aqui
E resistir ao fogo”.
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