Do futebol de várzea à prisão, o Marin que conheci


Ricardo Kotscho, Balaio do Kotscho

"Conheci José Maria Marin mais de 50 anos atrás, como repórter da "Gazeta de Santo Amaro", jornal de bairro da zona sul de São Paulo, onde iniciei minha carreira. Uma das minhas primeiras tarefas era reescrever a coluna semanal do Dr. Marin, como o chamavam, em que ele fazia a cobertura dos times de várzea da região. Naquela época, era apenas um advogado de província, muito amigo do dono do jornal. Chegou a jogar por pouco tempo como ponta direita do meu time, o São Paulo, depois de ralar em campos de terra da periferia.

Modesto de posses e com dificuldades no domínio da língua portuguesa, era um sujeito simples, afável, nada havia nele capaz de chamar a atenção. Quem conviveu com Marin no tempo da "Gazetinha", que circula até hoje, jamais poderia imaginar que aquele colunista varzeano chegaria a ser governador de São Paulo, assumiria a presidência da CBF, e acabaria sendo preso, aos 83 anos, no Baur ao Lac Hotel, em Zurique, na Suíça, junto com outros cartolas da Fifa, durante uma operação contra corrupção nos altos escalões do futebol mundial.

Quando já trabalhava no Estadão, reencontrei Marin como vereador, depois deputado estadual, sempre ligado ao malufismo e ao que havia de mais retrógrado e reacionário na política brasileira, então sob o alto comando dos generais. Comendo pelas beiradas, muito discretamente, acabou sendo eleito vice-governador de Paulo Maluf e, no final do mandato, assumiu o cargo por alguns meses quando o titular se afastou para se candidatar a deputado federal. Em pouco tempo, virou um homem rico.

Com a redemocratização do país, andou por um tempo sumido da política, dedicando-se aos negócios, e só voltou ao noticiário como presidente da Federação Paulista de Futebol, de onde pulou para a CBF e a Fifa. O céu era o limite, antes que a polícia chegasse, o que não me surpreendeu nenhum pouco. Pela sua trajetória e prontuário, até que este final de novela demorou muito a chegar."

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