Crise hidrelétrica foi “para o armário”. E a da água em SP volta a assombrar


Fernando Brito, Tijolaço 

Este blog, estoicamente, tenta tratar os problemas causados pela falta de chuvas do ano passado ( e de janeiro/fevereiro deste ano) com mais informação do que propaganda.

Então, de tempos em tempos, procura fazer um balanço da evolução da situação hídrica, para a geração de energia e para o abastecimento de São Paulo.

À zero hora de hoje, o nível de armazenamento dos reservatórios do Sudeste era de 35,7%, 2,1% a menos do que os 37,8 na mesma data do ano passado, o que torna virtualmente desprezível o risco de que falte água para as usinas hidrelétricas da região.

O consumo caiu ligeiramente, tanto em função do esfriamento da economia quanto de um período antecipado de queda da temperatura. No domingo (dia de menor consumo e menos sujeito ao peso do uso industrial) 18 de maio de 2014, o consumo foi de 51,7 GW médios, contra 49,96 GWmed, ontem.

Se as chuvas do período seco vão ser um pouco maiores ou menores que a média a interferência disso, até outubro, é pequena, pois 10% de pouco é muito pouco também e 5% de muito, como no período chuvoso, é uma enormidade, do ponto de vista da acumulação. Da mesma forma é menos relevante que os reservatórios do Nordeste estejam em torno de 20% abaixo do que tinham há um ano, pois eles representam apenas 20% da acumulação nacional.
Enfim, saiu-se de uma situação de alerta para uma de atenção, apenas.
E a água de São Paulo.

Primeiro é preciso dizer que São Paulo está, veladamente, em uma situação de racionamento camuflado.

Não sou eu quem o diz, mas a insuspeita colunista do Estadão, Vanessa Bárbara, ainda hoje:

“No início era assim: todos os dias, por volta das 17h, a torneira secava completamente. Às 4h54 da manhã, a água retornava como que por decreto, causando estrondos apavorantes nos canos da casa e ameaçando estourar tudo o que encontrasse pelo caminho. A partir de dezembro, houve ocasiões em que a água voltou um pouco antes, lá pelas 4h30, mas passou a sumir cada vez mais cedo. Atualmente, temos água apenas das 5h às 13h, em média. Mas o humor das torneiras é absolutamente imprevisível; uma amiga certa vez acordou às 7 da manhã só para poder lavar o cabelo e deu de cara com um chuveiro seco. Teve de ir para o trabalho sem tomar banho. Por aqui, é comum programar uma lavagem de roupas para o dia tal e dar com os burros n’água, com o perdão da expressão.”

Não aparece mais porque, em São Paulo, “mundo-cão” é poodle e a classe média prefere bater as panelas que enche-las de água.

Aos números, com as mesmas comparações:

Há exatamente um ano, Geraldo Alckmin acionava as suas “gambiarras” para puxar água do “volume morto”, ou as tais reservas técnicas do Cantareira.
Naquela ocasião, somadas as águas ainda acima das comportas e as duas reservas incorporadas ao volume total, a parcela “com água” total era de 37,4% de tudo o que se podia mobilizar.

Hoje é de 15,3% sobre o volume total.

Não é preciso mais fazer as contas para ver o nível de gravidade da situação.

Entre 18 de maio de 2014 e 18 de novembro, daqueles 37,4%, 27,2% foram consumidos.

27,2% é significativamente mais do que os atuais 15,3%, não é?

Mesmo considerando que se tira do Cantareira e mandam aos paulistanos metade da água que era normalmente fornecida. Ontem, retiraram 15,3 m³ por segundo, contra uma entrada de 14 m³/seg.

Mas isso é um detalhe, bom mesmo é bater panela.

PS. A foto do post tirei da Folha. É verdadeira, mas o gráfico do volume de água está errado começa sem o segundo volume morto  que “aparece” no final. 

Exatamente como faziam as estatísticas “malandras” da Sabesp antes que a Justiça a obrigasse a dar os números reais."

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