“Aonde isso vai parar?”, pergunta mestre de Dilma


Ricardo Kotscho, Balaio do Kotscho

"Aonde isso vai parar?", pergunta o mestre João Manuel Cardoso de Mello, que foi professor da presidente Dilma Rousseff e de toda uma geração de economistas brasileiros na Unicamp.

E ele mesmo responde, em entrevista a Eleonora de Lucena, da Folha:
"Não haverá recuperação. As apostas para o PIB vão de _ 1,5% a _ 3%. No ano que vem, não recupera. Alguém investe um centavo? Os bancos estão cortando crédito, os juros, subindo, uma loucura".

Aos que estão me achando muito pessimista, recomendo a leitura das projeções feitas por Cardoso de Mello para a economia brasileira, neste momento em que o governo joga tudo na aprovação do ajuste fiscal do ministro Joaquim Levy, que está para ser votado no Congresso. "Isso entra na cabeça de alguém? Ele dá um choque de câmbio, um choque de custos, faz corte de gastos. Vai produzir uma recessão brutal. Está produzindo. Está tudo parado".

Nas contas do professor, o desemprego ameaça chegar a 12% este ano e, em consequência, a aprovação da presidente Dilma pode cair para 7%. O cenário que ele aponta é assustador: "As demissões ainda não começaram porque existem os acordos coletivos. Em maio e junho, vai começar a demissão em massa (...) A alta dos juros está paralisando a construção civil residencial. Não tem investimento em construção pesada, está se desmontando a cadeia de óleo e gás, a indústria continua encolhendo".

E quem está ganhando com tudo isso? Só quem pode ser otimista hoje em dia e não reclamar da vida são os bancos. Nesta mesma terça-feira, foi divulgado o lucro do Itaú Unibanco, que subiu quase 30% no primeiro trimestre, em comparação com o mesmo período de 2014, chegando a R$5,7 bilhões. Na semana passada, saiu o balanço do Bradesco, onde trabalhava o ministro Levy, também mostrando um belo crescimento do lucro (23%) de um ano para outro (mais de R$ 4 bilhões).

Ao mesmo tempo, a Volkswagen anunciou ontem que deu férias coletivas a 8 mil funcionários e parou a produção na sua fábrica do ABC, um símbolo da industrialização brasileira. Para completar o quadro, já foi aprovado na Câmara o projeto de terceirização que, para Cardoso de Mello, vai acabar com o mercado de trabalho.

"O estrago da terceirização é enorme em cima de uma crise deste tamanho. É uma devastação do mercado de trabalho. Vai desestruturar tudo e jogar os salários para baixo. É o que Levy quer: ajustar a relação salário/câmbio".
Para onde você olha, a situação vai se agravando a cada dia.

A epidemia de dengue já  matou 229 pessoas em todo o país (169 só em São Paulo). O próprio ministro da Saúde, Arthur Chioro, admitiu que o governo está enfrentando dificuldades para controlar o avanço da doença e reconheceu que a epidemia "é uma vergonha".  De fato, já foram notificados este ano 746 mil casos, um aumento de 234,2% em relação ao ano passado.

A Sabesp anunciou que a conta de água em São Paulo vai ficar 15% mais cara, bem acima da inflação, que foi de 4,6% desde o último aumento, em dezembro (o governo Geraldo Alckmin queria 22, 7%).

No mesmo trimestre em que os bancos comemoram o generoso aumento dos lucros, o número de brasileiros que entrou na lista de inadimplentes cresceu 1,5 milhão, chegando agora a  55,6 milhões de consumidores com o nome sujo na praça, ou seja, quatro em cada 10 adultos.

Como não sou banqueiro e vivo do meu salário, e não posso brigar com os fatos e os números, independentemente dos meus desejos, sinto-me mais preocupado depois ler as previsões sobre recessão e desemprego feitas pelo professor João Manuel Cardoso de Mello, de 73 anos, fundador do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, sem achar razões para resgatar meu eterno otimismo de brasileiro que não desiste nunca.

Algum leitor do Balaio poderia me dar motivos?

Vida que segue."

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