Lobby de Eduardo Cunha na MP dos Portos é citado na Lava Jato

Jornal GGN

 A atuação do atual presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB) à época da votação da MP dos Portos foi citada pelo executivo da Toyo Setal, Julio Camargo, em delação premiada no último dia 8, às autoridades da Operação Lava Jato.

Camargo, que representava interesses da janopesa Toyo no Brasil, afirmou que teve ao menos dois encontros com Cunha. Na ocasião, o peemedebista se colocou à disposição para ajudar o empresário com trâmites no Ministério dos Transportes, comandado pelo PR.

Segundo O Globo, Camargo relatou "três conversas" com Eduardo Cunha, "quando ele comandava a bancada do PMDB" na Câmara. "Segundo o executivo, nesses encontros, foram discutidos investimentos no setor de portos. À época, tramitava no Congresso a medida provisória que regulamentou o setor."

Camargo disse que a Toyo tinha interesse nos portos de Santos, Paranaguá e Salvador, e ele se encontrou com Cunha em São Paulo e no Rio de Janeiro para falar sobre isso. "O delator contou que, em uma das conversas, Cunha prometeu que, se Camargo obtivesse financiamento de bancos japoneses para os projetos portuários, faria 'gestões' para a contratação da multinacional.

Cunha teria dito que 'poderia indicar qual procedimento poderia fazer perante o Ministério dos Transportes'. O executivo ressalvou, no entanto, que o projeto não deu certo porque não conseguiu financiamento externos."

Eduardo Cunha, em resposta à matéria de O Globo, afirmou que “provavelmente conheceu Julio Camargo”, mas que não houve irregularidade nos contatos.

Segundo ele, à época da discussão da MP dos Portos no Congresso ele era "muito consultado” sobre o tema. Ao Estadão, o peemedebista disse que Camargo "queria investir e a nova legislação previa investimentos privados em áreas externas dos portos".

Cunha, ao longo de 2013, atuou contra a chamada MP dos Portos, na tentativa de impedir o governo de realizar novos leilões para concessão dos terminais portuários. Segundo reportagem da revista Isto É, mais de R$ 240 mil doados foram destinados à campanha do deputado em 2010, por meio do PMDB do Rio.

A AMC Holding, do grupo Libra, foi a signatária. A empresa é responsável pelo Porto de Santos.

A empresária Celina Borges Torrealba Carpi, neta de Wilfred Penha Borges, fundador do grupo Libra, entrou com R$ 250 mil na campanha do PMDB do Rio em 2014. Ela transferiu mesmo valor à campanha presidencial de Marina Silva (PSB). Outro neto de Wilfred, Gonçalo Borges Torrealba, repetiu os passos de Celina: doou R$ 250 mil para o PMDB e R$ 250 mil para o PSB nacional.

A defesa na Lava Jato


 Em março, a defesa de Eduardo Cunha pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) o arquivamento do inquérito aberto contra ele. Ele foi citado na delação premiada do doleiro Alberto Youssef. O doleiro afirma que ouviu de Julio Camargo [foto] que Cunha faria um pedido a uma comissão do Congresso para questionar a relação das empresas Toyo, Mitsue e Samsung com a Petrobras.

Segundo o doleiro, a intenção era pressionar Camargo, que deixou de repassar propina ao empresário Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, preso na Lava Jato, acusado de arrecadar propina por meio de um contrato para a compra de navios-sonda. Baiano seria o operador do PMDB no esquema.

Em outro depoimento contra Cunha, o policial federal Jayme Alves de Oliveira disse que entregou dinheiro, a mando de Youssef, em uma casa no Rio de Janeiro. Segundo ele, Yousseff disse que a casa pertencia a Cunha.

A defesa de Eduardo Cunha argumentou que apenas relatos de agentes não envolvidos diretamente com o deputado não poderiam ser suficientes para a instauração de inquérito. Agora, com Camargo afirmando que esteve em reuniões com o peemedebista, essa sustentação cai por terra.

Dirceu na mira

Tanto O Globo quanto o Estadão, entre outros veículos, destacaram as citações sobre José Dirceu no depoimento de Julio Camargo, em detrimento das informações sobre Eduardo Cunha. O delator afirmou que o ex-ministro da Casa Civil teria participado das tratativas para contratação de uma empresa junto ao ex-presidente da Petrobras, Sergio Gabrielli. O depoimento faz parte do material encaminhado pela Polícia Federal nesta terça-feira (21), feriado de Tiradentes, ao STF.

Roberto Podval, que defende o ex-ministro, disse que não teve acesso ao novo depoimento, mas que todos os trabalhos feitos por Dirceu foram por contratos regulares e que seu cliente não estava no governo no período relatado por Camargo, motivo pelo qual não haveria tráfico de influência.material jornalístico produzido pelo Estadão é protegido por lei. Para compartilhar este conteúdo, utilize o link:http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,executivo-diz-que-dirceu-atuou-em-favor-de-empresa,1673617

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