Contra agenda conservadora da Câmara, senadores formam bloco progressista


"Iniciativa é anunciada por Lindberg Farias em discurso de apoio a Renan Calheiros

Tereza Cruvinel, Blog: Tereza Cruvinel

O conflito entre o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e o presidente do Senado, Renan Calheiros, ganhou novo impulso hoje com a formação de uma frente progressista no Senado para barrar a agenda conservadora que está sendo implementada pela outra Casa. A iniciativa foi anunciada em discurso pelo senador Lindberg Farias, em que, aparteado por outros senadores, apoiou a posição de Renan em relação ao projeto da terceirização.

“É fundamental regulamentar os terceirizados. Nós temos no Brasil 12 milhões de terceirizados. Nós não podemos regulamentar sob hipótese nenhuma atividade-fim. Nós temos que regulamentar os terceirizados existentes mas isso não pode  significar só a regulamentação da atividade-fim. Isso é uma inversão, uma involução, significa revogar a Constituição, direitos, garantias individuais e coletivas”. Destacando esta afirmação de Renan, Lindberg acusou Eduardo Cunha de querer mandar no Senado e ter sido desrespeitoso com Renan e com os senadores ao dizer que a última palavra sobre terceirização será da Câmara e que ele pode, em represália a uma eventual demora do Senado, paralisar a tramitação de matérias de interesse dos senadores, como a que o Senado votou recentemente convalidando isenções de ICMS para os estados.  “Engaveta lá, engaveta aqui, disse o presidente da Câmara. Mas quero ver engavetar um projeto como este do ICMS, que é do interesse da maioria das bancadas, especialmente do Norte e Nordeste”, provocou Lindberg.

A frente progressista, segundo Lindberg, começou a ser formada esta semana e tem como objetivo barrar a agenda conservadora que estaria sendo impulsionada por Cunha na Câmara com projetos como o da terceirização e o do redução da idade penal. A Câmara, disse ele, sempre foi mais progressista que o Senado mas neste momento o Senado, sob a liderança de Renan, é que estaria assumindo posições mais avançadas, especialmente na agenda social.
Em aparte, Jorge Viana (PT-AC) também reiterou apoio a Renan e à frente progressista dizendo que Cunha “talvez pense que é ele, e não Renan, que preside o Congresso Nacional”.  A frente, diz ele, deve reunir pessoas de diferentes partidos, colocando de lado divergências partidárias para evitar “o avanço do atraso”. “Nunca vi algo mais atrasado que o debate que tivemos sobre Cuba ontem na Comissão de Relações Exteriores. Quando os Estados Unidos se aproximam de Cuba, nossos conservadores defendem o distanciamento e a hostilidade”.

Outro que aparteou Lindberg foi Temário Mota (PDT-RR), dizendo, em apoio a Renan. “A Câmara tem 513 deputados mas agora tem um presidente que está quase dizendo “a Câmara sou eu”. Se os deputados concordam com isso, problema deles, mas no Senado ele não vai mandar. Estamos com o presidente Renan, que vem adotando a posição correta referenciada no pensamento da maioria do Senado”.

O embate entre os dois bicudos do PMDB, pelo visto, está apenas começando. O Governo Dilma observa preocupado, pois há o risco de ele contaminar o andamento da agenda legislativa. E nesta briga, Dilma não pode ter lado. Está aí mais uma abacaxi para o vice-presidente Michel Temer descascar em seu retorno da Península Ibérica."

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