Carlos Castilho, Observatório da Imprensa
"Quando a avalancha de informações econômicas pessimistas se soma à
rotina de notícias sobre assassinatos, balas perdidas, chacinas,
tragédias familiares, assaltos e atentados contra a economia popular, a
agenda diária da imprensa leva o leitor a um dilema atroz: ter
ataques de fúria ou simplesmente ignorar a realidade – o que, no caso da
imprensa, significa desinteressar-se pelas notícias para preservar a
sanidade mental.
Está é a escolha que um número crescente de leitores, ouvintes,
telespectadores e internautas brasileiros está sendo obrigado a fazer
diariamente na hora de ler um jornal, revista ou assistir a um
telejornal. Está cada dia mais difícil suportar a carga de pessimismo transmitida
pelas manchetes e por âncoras de telejornais, alguns dos quais parecem
ter prazer em anunciar novas tragédias e novos sacrifícios para um
cidadão que passou da euforia e otimismo até o inicio do ano passado
para um estado de choque agora em 2015.
A associação do noticiário pessimista com a estratégia oposicionista de
desconstrução do governo Dilma Rousseff pode até ser casual, mas o fato
concreto é que o crescente déficit de esperança do público consumidor de notícias tem consequências de médio prazo e que não são nada animadoras para o futuro da imprensa.
O que se nota atualmente é que uma parcela considerável do público começa a descrer do que a imprensa publica por associar as notícias ruins a uma estratégia política e
ideológica. A outra parte da clientela de jornais, revistas,
telejornais e redes sociais vincula-se a esses veículos não por sua
missão informativa, mas porque oferecem abrigo e conforto para
posicionamentos ideológicos. Ambos os casos deveriam preocupar os
executivos da indústria jornalística porque eles não garantem a
sustentabilidade futura das empresas que dirigem.
A descrença tem efeitos prolongados porque afeta a credibilidade
de leitores, ouvintes, telespectadores e internautas. Já a
identificação ideológica pode ser transitória porque as conjunturas
mudam e, com elas, a fidelização do público simpático às opções do
veículo jornalístico. No caso atual, na hipótese de a presidente Dilma
ser afastada, como deseja a extrema direita, o fator ideológico perderá
relevância logo após as eventuais mudanças no governo, repetindo o que
ocorreu antes e depois do golpe militar de 1964.
Saturadas por tantas notícias pessimistas ou irritadas com o impasse
político-ideológico, as pessoas promovem nas redes sociais da internet
uma catarse coletiva online, que por um lado pode aliviar
temporariamente as tensões pessoais mas, por outro, carrega ainda mais o
já pesado ambiente informativo .
Há dias li no Facebook o comentário de um internauta que dizia: “Eu já sei que está ruim e vai ficar pior. Por que a imprensa não nos acompanha na busca de soluções?” O angustiado consumidor de notícias deu vazão ao que muita gente pensa e tem muita dificuldade para transformar em prática.
A dificuldade é que fomos educados a cobrar e esperar que os governos e as empresas resolvam todos os nossos problemas.
Hoje verificamos que nem um nem outro têm condições e vontade de
atender às nossas expectativas. Os governos, de todas as tendências, se
transformaram em entidades corporativistas preocupadas com seus próprios
interesses. As empresas perderam a perspectiva de sua missão social e
só pensam no próprio lucro num momento de crise.
O leitor pode cobrar da imprensa a aplicação do chamado jornalismo de soluções, uma opção que já é praticada em vários países, principalmente nos Estados Unidos, e que tem como condição prévia o desapego ideológico e partidário.
O engajamento com o leitor é prioritário em relação às alianças
politicas. O fundamental passa a ser ouvir o que as pessoas têm a dizer,
identificar problemas a partir da base e não dos desejos e preferências
dos editores. O principal objetivo é criar um ambiente de diálogo
permanente entre o veículo jornalístico e as comunidades que ele elegeu
como público alvo.
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