"Numa das cenas mais inesperadas da teledramaturgia da Globo, a emissora
dos Marinho fez um elogio rasgado à política de cotas raciais, no
episódio de ontem da novela Babilônia; ao conceder um bônus a sua melhor
advogada, a jovem negra Paula (Sheron Menezzes), Teresa (Fernanda
Montenegro) ouviu: "Sabe o que eu queria fazer com esse cheque? Esfregar
na cara de todas as pessoas que riram de mim por eu ter entrado na
faculdade pelo sistema de cotas". Em seguida, respondeu: "beijinho no
ombro pras invejosas"; alguns anos atrás, o superpoderoso Ali Kamel,
diretor da Globo, publicou o livro "Não somos racistas", um libelo
contra a política de cotas; a Globo agora é progressista ou aí tem
coisa?
Brasil 247
Deu a louca na Rede Globo. Ou há algo que ainda não se poder enxergar com clareza. Em 2006, um dos mais próximos executivos da família Marinho, o jornalista Ali Kamel, publicou o livro "Não somos racistas", um libelo contra a política de cotas raciais – desde então, esta foi a posição editorial de todos os veículos de comunicação da Globo.
Brasil 247
Deu a louca na Rede Globo. Ou há algo que ainda não se poder enxergar com clareza. Em 2006, um dos mais próximos executivos da família Marinho, o jornalista Ali Kamel, publicou o livro "Não somos racistas", um libelo contra a política de cotas raciais – desde então, esta foi a posição editorial de todos os veículos de comunicação da Globo.
Ontem, no
entanto, na novela Babilônia, o grupo dos Marinho deu um giro de 180
graus na novela Babilônia, que vem sofrendo críticas de setores
conservadores desde o primeiro capítulo, quando a novela estreou com o
beijo gay de Fernanda Montenegro e Natália Thimberg.
Desta vez, a
polêmica envolveu a política de cotas raciais, numa cena exibida no
capítulo desta segunda-feira. Ao conceder um bônus polpudo à sua melhor
advogada, a jovem negra Paula (Sheron Menezzes), Teresa (Fernanda
Montenegro) ouviu: "Sabe o que eu queria fazer com esse cheque? Esfregar
na cara de todas as pessoas que riram de mim por eu ter entrado na
faculdade pelo sistema de cotas".
Em seguida, respondeu: "beijinho no ombro pras invejosas".
Evidentemente,
uma cena com esse teor político, no momento em que o Brasil é sacudido
por uma onda neoconservadora, não entraria numa novela da Globo sem que
tivesse sido discutida internamente. Mais do que simplesmente criar
polêmica, ao discutir o tema das cotas raciais, a Globo parece disposta a
assumir pautas mais progressistas.
Será que os
Marinho decidiram mandar um "beijinho no ombro" para Ali Kamel? Confira,
abaixo, a sinopse do livro "Não somos racistas", que fala do medo do
autor em relação à política de cotas:
SINOPSE:
'Não somos
racistas' é um livro nascido do espanto. Movido pelo instinto de
repórter, Ali Kamel, diretor de jornalismo da Rede Globo, começou a
perceber que a política de cotas proposta pelo Governo Lula - e que pode
ser aprovada em breve pelo Senado - divide o Brasil em duas cores,
eliminando todas as nuances características da nossa miscigenação. Ali
constata, estarrecido, que, nesta divisão entre brancos e não-brancos,
os 'não-brancos' são considerados todos negros. O primeiro capítulo de
'Não somos racistas' mostra como a política de cotas começou a ser
construída no governo Fernando Henrique Cardoso. Mostra, ainda, como o
jovem sociólogo Fernando Henrique foi uma das cabeças de um movimento
que dominou parte da intelectualidade nacional nos anos 1950. Um
movimento que se afastava do conceito de multiplicidade e democracia
racial proposto por Gilberto Freyre em obras como 'Casa grande e
senzala' e dividia o Brasil entre duas cores; negros e brancos. O livro
de Ali Kamel começou a se desenhar em 2003, quando ele passou a
publicar, quinzenalmente, uma série de artigos sobre as cotas no jornal
'O Globo'.
Neles, constatava o sumiço dos pardos e dos miscigenados nas
estatísticas raciais brasileiras. Apontava, também, para o fato de que o
branco pobre tem a mesma dificuldade de acesso à educação que um negro
pobre, levantando a hipótese de que o maior problema do país talvez não
seja a segregação pela cor da pele - e sim pela quantidade de dinheiro
que se carrega no bolso. 'Não somos racistas' aprofunda e sistematiza as
idéias apresentadas pelo jornalista naqueles artigos; a negação da
miscigenação; o 'olho torto' das estatísticas, que escamoteiam problemas
sociais na divisão da população por cores; a situação de negros e
brancos no mercado de trabalho; o medo de que uma política de cotas,
posta em prática, construa uma separação entre cores que nunca existiu,
de fato, no Brasil, promovendo o ódio racial; os estudos científicos que
provam que raças não existem e, portanto, não pode haver tratamento
desigual para seres humanos iguais."
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