A tentativa da imprensa de vitimizar Renan e Eduardo Cunha

"Enquanto veículos culpam a presidente pela inclusão de Renan e Cunha na lista de envolvidos, professora de História da USP ensina análise política

Patricia Faermann, GGN

Sustentado em boatos e ilações, o que se pode acompanhar da cobertura da grande imprensa sobre a lista de Janot, enviada ao Supremo Tribunal Federal na noite desta terça-feira (03), é a tentativa da imprensa de endossar que os nomes dos peemedebistas, possivelmente incluídos nas investigações, são culpa do governo. 
Ainda que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), tenha demonstrado nítida mudança de comportamento, com a informação de que seu nome estaria incluído, há um esforço superior da imprensa para fragilizar a tese de que políticos de outros partidos, além do PT, podem estar envolvidos no esquema de corrupção - até então com holofotes midiáticos apenas sobre a sigla da presidente Dilma Rousseff.
A situação é verificada na coluna de Merval Pereira, desta quarta (04), apontando que não somente o nome do presidente do Senado na lista de um representante do Judiciário é culpa de Dilma, como de toda sua gestão, envolvendo, para isso, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. A especulação ultrapassa os boatos, e o colunista utiliza como ponte de ligação da atuação do Executivo no Judiciário a Polícia Federal:
"Renan, e também Eduardo Cunha, o presidente da Câmara, estão convencidos de que houve o dedo do governo, com a atuação do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, através da Polícia Federal, para incriminá-los com o objetivo de fragilizar o Congresso e dividir as atenções neste momento de crise que o país atravessa", publicou Merval Pereira.
O fato é acompanhado por outros veículos, que transformam o indicativo em afirmação: "o peemedebista [Renan Calheiros] tinha, então, boa relação com o governo Lula, diferentemente de agora, quando acumula insatisfações que vão da participação nas indicações ao fato de, segundo informações, figurar na lista de indiciados por suposta participação nos desvios apontados pela Operação Lava Jato", divulgou o Painel da Folha de S. Paulo.
O atual cenário complicado de negociações da presidente da República com o Congresso também virou mote para mais especulações midiáticas. Diante da revelação de Renan Calheiros e Eduardo Cunha na lista de Janot, a apresentadora da Globo News, Monica Waldvogel, questionou em seu programa Entre Aspas, desta terça, se a confirmação dos dois representantes do Congresso nas investigações configuraria uma desestabilização maior para Dilma. A convidada respondeu que não.
Professora de História Contemporânea da USP, Maria Aparecida de Aquino desmistificou as especulações e forneceu uma aula de análise política: "se alguém imagina, ou vier a imaginar, que possa estar havendo uma trama para tentar ilibar determinadas pessoas, retirar determinadas pessoas [da lista de Janot], eu acho que na realidade isso não está acontecendo. Interessa, inclusive, a ela [à presidente], em termos políticos", disse.
"Você observa que há um certo isolamento, uma certa dificuldade, que é de personalidade, que é de momento político, dificuldades econômicas, dificuldades em diversos setores, se isto está aconcendo de fato, interessa a ela politicamente ganhar um capital político investigando alguma coisa, que inclusive a população tem clareza que precisa ser investigado. Então, acho que quem tem a ganhar será ela nesta condução", explicou a professora.
A resposta surpreendeu a jornalista da Globo, que retomou: "mas é uma investigação, inclusive, que também está fora do alcance dela, está no Ministério Público e na Justiça". "Não, mas vocês mesmo aqui estão dizendo que estão tendo conversas esquisitas, de não sei quem com não sei o que. Se estão dizendo ou pensando que há conversas esquisitas, eu estou dizendo: na realidade, não haverá essa tentativa", concluiu Maria Aparecida de Aquino, colocando fim à tentativa da imprensa de, quando não tornar vítimas Renan Calheiros e Eduardo Cunha nessa investigação, os utilizar de força negativa contra o partido da presidente."

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