Vídeo sugerido pelo Alexandre Gomes, via Facebook, mostra que a Miriam Leitão britânica impediu o ministro grego Yanis Varoufakis de falar na BBC. Interrompido pela entrevistadora, ele não pode dizer que o governo do qual faz parte pretende acabar com o conluio da cleptocracia grega. Abaixo, ele explica o que não pode explicar na BBC:
Yanis Varoufakis: ‘Vamos desmantelar a cleptocracia grega’
da Carta Maior, via Portal Popular, em 29.01.2015
Yanis Varoufakis, que será um dos grandes responsáveis pela política financeira do governo de Alexis Tsipras, explica nesta entrevista qual será a estratégia de um novo governo do Syriza para mudar as políticas da troika sem provocar uma crise financeira. Professor de Economia na Universidade de Austin (Texas), é colaborador próximo de Tsipras há dois anos.
Há o risco de o BCE fechar a torneira da liquidez para a Grécia se ela não aceitar os ajustes da troika?
Sempre existem riscos, mas não acredito que o BCE retire nossa liquidez se formos diretamente a nossos sócios europeus em Frankfurt, Paris, Berlim e Bruxelas e explicarmos as propostas racionais que temos. Pediremos umas semanas, um período de graça, durante as quais lhes adiantaremos essas novas políticas.
Essas propostas consistiriam em quê?
Elas têm quatro fases. Primeiro, temos um plano muito elaborado em relação ao que é preciso fazer com a dívida, e sobre o qual não entrarei em detalhes agora. Logo depois, haverá um programa de reformas profundas que nós, e enfatizo que somos nós, queremos fazer e que não serão impostas pelo FMI, pela OCDE ou quem quer que seja. Refiro-me a reformas que deixarão claro que não estamos interessados em voltar aonde estávamos, no ano de 2010.
Que tipo de reforma?
É sobre como vamos combater a imunidade tributária das elites. Não é apenas uma questão de evasão fiscal, mas de que grande parte de sua renda nem sequer é tributada. Existe uma claptocracia na Grécia, um ciclo vicioso que abarca os fornecedores dos estados, os banqueiros e os meios de comunicação. Nós proporemos reformas para desmantelar esse ciclo. E logo proporemos medidas de emergência para responder à crise humanitária na Grécia, e que qualquer europeu decente estará muito interessado em estudar.
Os líderes europeus rechaçam taxativamente qualquer modificação no programa da troika, não é mesmo?
Esse memorando alternativo que vamos propor é sensato e racional, e por isso acho impossível acreditar que o BCE logo diga: “Olha, senhores, acabou; nós vamos esmagá-los”. Vamos emitir letras do Tesouro para financiar as atividades do Estado nos primeiro seis meses do ano. Os bancos gregos as comprarão e serão utilizadas como aval para a liquidez proporcionada pelo BCE. Não existe qualquer limite fixo sobre a liquidez que o Banco Central possa proporcionar. Na Irlanda, o elevaram a 70 bilhões. Se é preciso prevenir a fragmentação do euro, elevarão a liquidez até onde for necessário.
Há uma solução só para a Grécia?
Não. Proporemos ideias a respeito de uma recuperação impulsionada pelo investimento na zona do euro. Não apenas para a Grécia, mas também para a Espanha, para a Irlanda. O Syriza já defende a modesta proposta que Stuart Holland e eu temos proposto, de um new Deal europeu baseado no investimento público, na criação de emprego e na reestruturação da dívida.
O governo da Nova Democracia advertiu que a Grécia pode ficar sem dinheiro se não assinar o memorando da troika…
É interessante como eles mudam de discurso. Antes das eleições, a narrativa era de que a Grécia é uma história de êxito, que estamos saindo da crise. Quando chegam as eleições, de repente, a Grécia vai ficar sem dinheiro com um governo do Syriza. Quer dizer, tudo isso foi uma manobra política. Foi uma intenção de chantagear. É perfeitamente compreensível que a senhora Merkel, que o senhor Draghi, que o senhor Juncker queiram um governo grego que faça o que eles mandem. Mas não é assim. Todas essas advertências foram teatrais. Um jogo antidemocrático que acredito que beneficie Le Pen, Farage, e o Aurora Dourada.
É possível sobreviver sem o crédito de 7 bilhões, condicionado à assinatura do novo memorando?
Não queremos esse crédito se não chegarmos a um acordo segundo nossos critérios. Estamos pedindo maior margem fiscal por meio das letras do Tesouro.
O Syriza estaria disposto a aceitar uma prorrogação dos prazos de reembolso da dívida e cortes dos tipos de juros?
Não. Não vamos pedir isso. Não estamos interessados apenas na redução do valor líquido presente da dívida. Queremos reduzí-la de uma vez. Temos um plano."
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