A crise vai rugir


"Nova CPI será teste de força da maioria governista

Tereza Cruvinel, Blog: Tereza Cruvinel

A presidente Dilma Rousseff pediu a alguns auxiliares do governo que não se afastem de Brasília no final do ano. Ela mesma mantém programada a viagem de descanso entre o Natal e o começo do novo ano mas, segundo colaboradores, receia que ocorra nesta fase o primeiro estrépito da crise anunciada: o vazamento dos nomes de políticos envolvidos com o esquema Petrobrás, citados pela delator Alberto Youssef, que devem superar a lista de 28 nomes fornecida pelo ex-diretor Paulo Roberto Costa. O Planalto não se ilude: vem aí uma crise ruidosa, superlativada pela aliança entre procuradores, oposição parlamentar e grande mídia, tendo como alvo os líderes da coalizão governista e a própria presidente. E se for possível, o ex-presidente Lula.

A oposição já mostrou a primeira arma, retomando a ofensiva pela instalação de uma nova CPMI da Petrobrás, agora destinada a investigar especialmente os políticos citados pelos delatores premiados, embora eles ainda não tenham apresentado a provas ou esclarecido as circunstâncias do envolvimento. O fato de uma empreiteira ter feito uma doação a um partido ou político não significa, necessariamente, que se tratava de propina por este agente político mancomunado com o esquema corrupto de Costa-Youssef. Mas, tal qual no julgamento da ação penal 470, tudo será reduzido a “vantagens indevidas” ou corrupção passiva.

Num dia de pavor entre os políticos que ainda estavam em Brasília, a percepção corrente era a que vem aí um processo muito similar ao do chamado mensalão, com a mesma sequência de fatos. Uma CPI ruidosa, depois o oferecimento da denúncia pelo Ministério Público, o acolhimento pelo STF e finalmente um julgamento com forte viés político. Só que, desta vez, com mais celeridade. O relator, Teori Zavascki, é muito diferente de Joaquim Barbosa. Tido como eminentemente técnico, estará entretanto “com a corda no pescoço” para repetir a performance politizada do relator do mensalão.

A base governista poderá evitar a CPI se a lista de acusados ficar restrita aos 28 citados por Costa. Ali aparecem um senador de couro douro, Renan Calheiros, que será alvo especial porque disputará a recondução à presidência do Senado, além de Lindbergh Farias, Delcídio Amaral e Humberto Costa, que têm sido muito enfáticos na inexistência de provas de que tiveram participação no esquema. Eduardo Campos está morto, Sergio Guerra também. Roseana Sarney não é nem será parlamentar, assim como João Vacari.

Henrique Alves não terámandato e talvez perca a chance de ser ministro.

Agora, se a lista for muito ampliada por Youssef, criando a exigência de “cortar na própria carne”, talvez seja impossível impedir a CPI. Este será o grande teste da base governista no início da legislatura.

Por isso mesmo, Dilma agora terá que ser ainda mais cuidadosa na montagem do ministério, buscando preservar a unidade da coalizão, e ao mesmo tempo a nomeação de pessoas que poderá ter que demitir. Por isso mesmo, a questão da presidência da Câmara exigirá muito juízo do PT e do PMDB. Se a CPI for evitada, a crise terá uma dimensão. Ficará mais restrita à esfera judicial, embora vá produzir grandes solavancos políticos. Se for instalada, terá outra.

A mídia fará novamente uma cobertura hiper-intensiva e o funcionamento das duas casas será afetado, como sempre ocorre nestas circunstâncias. E a oposição, não há dúvida, fará tudo o que puder para estabelecer ligações entre a presidente Dilma e tudo o que houve na Petrobrás, começando pelo fato de que presidia o Conselho de Administração quando ocorreu a compra da refinaria de Passadena.

O impeachment continua sendo a miragem dourada da oposição mas, mesmo com a crise rugindo alto, prevalecem as exigências para o afastamento de um presidente legitimamente eleito:   seria preciso que surgissem condições jurídicas, vale dizer, provas de sua responsabilidade, e condições políticas, apoio popular. Depois da reeleição, subiram a aprovação ao governo e à presidente, apesar de todas as tentativas de deslegitimação. Mas nada do que houve até agora se compara ao que pode estar a caminho. Nunca um recesso foi tão desejado pela classe política mas parece que, desta vez, ele não terá o condão de adiar o estouro de uma crise que pode estragar o Natal de muita gente.

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