Quem está querendo enganar quem com estas pesquisas?


Ricardo Kotscho, Balaio do Kotscho

"Tinha prometido a mim mesmo que procuraria não basear em pesquisas meus comentários neste segundo turno da disputa presidencial, até porque elas se mostraram pouco confiáveis na primeira rodada. Aquela história toda de margens de erro e nível de confiança de 95% virou folclore e motivo de piadas.

Só não dá para ignorar as disparidades mostradas pelos números dos diferentes institutos nestes primeiros dez dias da fase decisiva da campanha, o que me leva a perguntar: são os eleitores que decidiram desmoralizar as pesquisas ou são as pesquisas que resolveram tirar uma onda da nossa cara?

Porque não dá para levar a sério o que está acontecendo. Um dia, o instituto chamado Sensus anuncia que Aécio Neves já tem 17 pontos de vantagem sobre Dilma Rousseff _ ou seja, a eleição está praticamente decidida. Dois dias depois, outro instituto, o Vox Populi, informa que a diferença é de apenas 2 pontos, mas a favor de Dilma. Como é possível?

Ambos os institutos, deve ser por acaso, são mineiros, mas isto não explica nada. Digamos que ambos sejam honestíssimos, competentes, totalmente independentes. O Sensus trabalha para a revista semanal IstoÉ, que apoia abertamente Aécio; o Vox Populi foi contratado pela Carta Capital, que já declarou voto em Dilma. Em comum, apenas por curiosidade, as duas revistas foram criadas e dirigidas por Mino Carta, em épocas bem distintas, o que também não ajuda a entender esta diferença de 19 pontos entre uma pesquisa e outra no intervalo de dois dias.

Mais intrigante ainda foi o que aconteceu na semana passada com o Ibope e o Datafolha, os dois principais institutos, que há 30 anos disputam a liderança do mercado pesquiseiro. Pela primeira vez, que eu me recorde, ambos divulgaram um empate técnico entre Dilma e Aécio, com números rigorosamente iguais.

No primeiro turno, tanto Ibope como Datafolha erraram feio tanto na campanha presidencial como nas disputas estaduais. Agora, parece que até desistiram de competir entre si. Dá para acreditar que os dois institutos entrevistaram as mesmas pessoas, no mesmo horário, nas mesmas regiões do país, para chegar a resultados idênticos? Será que não houve nenhum votinho diferente, para mais ou para menos?

Em vez de nos ajudar a entender um pouco o que se passa nesta campanha presidencial, de tantas ondas e reviravoltas, estes institutos todos só estão confundindo ainda mais as nossas cabeças e deixando pulgas atrás das orelhas.

Por isso, acho melhor mesmo seguir a minha intuição, que na primeira semana indicou uma agenda positiva para Aécio e negativa para Dilma, apontando a vantagem do tucano nos primeiros dias do segundo turno, como escrevi aqui antes da divulgação das primeiras pesquisas.

Agora, já não sei de mais nada, e é melhor fazer como aqueles velhos comentaristas esportivos, que não queriam se comprometer: pode ganhar Aécio, mas também pode ganhar Dilma e, se nenhum dos dois vencer, vai dar empate. Sim, pelo que já aconteceu de imprevisível e imponderável nesta campanha, não é impossível que os dois cheguem com o mesmo número de votos ao final da disputa. Seria mais difícil do que ganhar sozinho uma bolada da mega-sena, mas eu não duvido de mais nada.

E aí, como fazer para desempatar?"

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