Sem encontrar inimigos, PM oferece bombardeio aleatório no centro de São Paulo

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Algumas detenções foram realizadas no centro da cidade, mas os motivos ainda são desconhecidos. (Carlos Severo/Fotos Públicas)
'Depois de conflitos com sem-teto de manhã, polícia faz demonstração de força à tarde e ataca população, mesmo sem provocação, acuando com bombas de gás e balas de borracha; redes sociais articulam reação

 Rodrigo Gomes, RBA

Após o confronto com as famílias despejadas na manhã de hoje (16), do antigo Hotel Aquarius, na avenida São João, centro da capital paulista, a Polícia Militar paulista usou bombas de efeito moral e de gás lacrimogêneo, além de balas de borracha, em um violento ataque para dispersar um grupo de sem-teto e de curiosos que acompanhavam a retirada dos pertences dos moradores. A coordenadora da Frente de Luta por Moradia (FLM), Silmara Congo, disse que não houve nenhuma ação dos moradores. "Não entendi por que a PM começou a atacar", afirmou.

À tarde, a RBA chegou ao local às 16h30 e já encontrou um cenário de caos, com um grupo de policiais da Tropa de Choque descendo a avenida São João, sentido Vale do Anhangabaú, em frente ao Largo do Paissandu. As pessoas corriam desesperadamente enquanto se ouviam disparos de balas de borracha e explosões de bombas de gás lacrimogêneo.

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Gás lacrimogêneo foi usado indiscriminadamente, sem que houvesse aglomeração de manifestantes ou qualquer ação dos sem teto (Carlos Severo/Fotos Públicas)
Segundo o aposentado Edvaldo Lira, que estava acompanhando a ação, três jovens teriam ateado fogo em um saco de lixo e isso foi o estopim da ação policial.

A polícia parou na esquina da rua Conselheiro Crispiniano e retornou em direção ao ponto de partida, sempre atirando bombas e balas de borracha, em todas as direções. Mas não havia ninguém enfrentando os policiais naquele momento.

Outro grupo do Batalhão de Choque permaneceu na esquina da avenida São João com a rua Dom José de Barros. Não era possível falar com os policiais. Os jornalistas que se aproximavam eram mandados, aos berros, afastar-se. Um morador de rua se aproximou da barreira militar e foi repelida com spray de pimenta disparado em seu rosto. Este grupo também arremessava bombas e atirava balas de borracha em várias direções. Sem um oponente a enfrentar.

Os policiais que voltaram caminharam no sentido da avenida Rio Branco, disparando balas de borracha e arremessando bombas. Depois subiram a rua Dom José de Barros, encontrando outro grupo que vinha pela rua Vinte e Quatro de Maio. Sempre com os escudos empunhados, armas de balas de borracha apontadas e bombas à mão. Viaturas circulavam em alta velocidade pelas ruas, com sirenes disparadas.

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Sem teto reclamou de ação policial e acabou sendo detido. Depois de solto ainda recebeu vários jatos de spray de pimenta no rosto (Carlos Severo/Fotos Públicas)
A ação ostensiva, com movimentos coordenados e ações determinadas por palavras curtas de um agente que coordenava o grupo, contrastavam ainda com a ausência de um oponente. Não havia qualquer reação das pessoas que estavam no local. E todas diziam não entender o que estava havendo.

Pessoas que saíam do trabalho corriam apavoradas. “Por favor, para eu só quero ir pra casa. Eu não estou protestando, não”, disse uma moça, aos prantos. E, na verdade, naquele local, ninguém estava. A rua Dom José de Barros tinha bancos revirados, uma parede de lacração quebrada, mas os lojistas locais disseram que era resultado da ação da manhã.

Todo o comércio da região entre a avenida Ipiranga, a praça da República, a rua Vinte e Quatro de Maio e o Vale do Anhangabaú fechou as portas. Havia alguns telefones públicos destruídos, mas as pessoas que estavam no local afirmaram também ser restos do protesto da manhã.

A desproporção da ação remonta ao ato contra o aumento da tarifa em São Paulo, de 13 de junho do ano passado, quando a PM prendeu cerca de 150, agrediu jornalistas e sonegou informações sobre o ocorrido. Hoje, ao menos até o momento, não há informação sobre feridos.

Após cerca de 30 minutos, a ação parou. Os policias se reagruparam. E os jornalistas tentavam entender o motivo da ação. A RBA entrou em contato com a militante Silmara, da FLM, e no local em que ela estava – na esquina das avenidas São João e Ipiranga, no lado oposto ao da ocorrência – estava tudo calmo. Nenhuma bomba foi atirada naquela direção. E este era o lugar em que os sem-teto, efetivamente, estavam aglomerados. A RBA tentou contatar a assessoria de imprensa da Polícia Militar das 16h às 18h, sem sucesso. Às 18h20, a corporação forneceu o primeiro nome de um dos comandantes da operação ("Glauco"), e nada mais."

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