Se depender da TV, esta eleição acaba empatada


Ricardo Kotscho, Balaio do Kotscho

"Costumava-se falar antigamente que, se macumba ganhasse jogo, o campeonato baiano terminaria empatado. O mesmo se pode dizer agora da primeira semana da propaganda eleitoral obrigatória: se depender só do que vimos na televisão até agora, todos os candidatos têm a mesma chance de ganhar e de perder, e vai acabar tudo tudo em zero a zero.

São 110 minutos de horário político por dia, fora as inserções de 30 segundos distribuídas ao longo da programação _ um verdadeiro massacre de mau gosto, mesmice, teatro mambembe, total ausência de propostas viáveis para o país, com o desfile de candidatos maquiados, uma chatice sem fim. Estamos assistindo a um "circo de horrores", a perfeita definição do meu colega Zé Simão, o mais sério comentarista político do país.

As campanhas são ricas, não faltam recursos,  os mais modernos equipamentos e marqueteiros de grife, mas os programas, de uma forma geral, são pobres, indigentes mesmo. Fico pensando como conseguem gastar tanto dinheiro para apresentar produtos tão ruins. Colocar Dilma fazendo macarrão na cozinha, cuidando do jardim e do cachorro, para "humanizar a imagem", é algo tão amador que chega a ser um desrespeito com a presidente e os eleitores.

Pois é, nem o PT escapa da mediocridade, justamente o partido que em outras épocas chamava a atenção pela criatividade dos seus programas, produzidos muitas vezes por equipes de voluntários e equipamentos emprestados. Os primeiros programas de Dilma, com suas imagens aéreas apoteóticas mostrando grandes obras em construção e um texto ufanista, me fizeram lembrar das "reportagens" de Amaral Neto exibidas pela TV Globo no auge da ditadura militar. Só faltou usar o slogan do "Brasil Grande".

Sem emoção e sem humor, sem mostrar e dar voz aos anônimos que fazem a grandeza do país, características dos antigos programas petistas, o latifúndio de 12 minutos em cada bloco que a aliança liderada pelo PT mostra na televisão não tem alma nem rumo, é uma repetição de cenas e discursos de Dilma e Lula, que já não comovem ninguém. O programa repetiu até imagens da campanha de 2010, o que é inconcebível num programa de televisão destinado a surpreender o telespectador, apresentar algo novo e projetar o futuro, renovar as esperanças do eleitor.

Se o objetivo era mostrar o que mudou para melhor na vida dos brasileiros nestes quase 12 anos de PT no governo federal, por que não fazer um programa jornalístico, mandando repórteres aos quatro cantos do país para mostrar e ouvir os principais beneficiados por estas mudanças? Sairia bem mais barato e teria muito mais efeito do que a presidente ou um locutor falar bem do seu próprio governo.

Com um terço do tempo de Dilma, o programa do tucano Aécio Neves atinge melhor seus objetivos: apresentar o candidato do PSDB como principal crítico do governo petista, mostrar um governante bem sucedido em Minas, com a imagem de pacato pai de família, o genro em quem a mãe da moça pode confiar. Se isso passa por verdadeiro ou não, é outro problema.

Dona de apenas dois minutos em cada bloco, a única novidade apresentada pelos marqueteiros de Marina Silva em sua estreia na quinta-feira foi tirar o xale da candidata. O resto é tudo igual à campanha de 2010, em que ela, com menos tempo ainda, conseguiu quase 20 milhões de votos e forçou um segundo turno na eleição presidencial. Fora o discurso da sustentabilidade, o nome do partido próprio que Marina ainda não conseguiu criar, e que a maioria das pessoas não sabe o que quer dizer, o que mais a líder conservacionista tem a oferecer ao país para melhorar a vida dos brasileiros?

Como de costume, pontificam entre os nanicos as "línguas de aluguel", nas eternas participações especiais do democrata-cristão Eymael e do aerotrem Fidelix, cada vez mais furiosos ao bater no governo Dilma, no que são acompanhados pelos "revolucionários" PCO, PCB, PSTU e PSOL, a extrema esquerda que faz apenas papel de figurante.

A mesma pergunta dirigida a Marina poderia ser feita a todos os outros candidatos que invadiram nossas televisões abertas e jogaram grande parte dos telespectadores/eleitores nos braços dos canais pagos. Resultado: em relação à campanha de 2010, o horário político já provocou a queda de 32% na audiência das nossas principais emissoras, enquanto os canais pagos, que não exibem a propaganda eleitoral, batem recordes, chegando à soma de 18,4 pontos na quarta-feira.

Nem vou falar dos inacreditáveis blocos destinados a candidatos a deputados e senadores porque tenho vergonha. O padrão Tiririca se espalhou pelo vídeo, com a campanha ganhando ares de deboche, a começar pelos nomes de fantasia dos candidatos, mas vou deixar isso aos cuidados do nosso caro Macaco Simão, que está cada vez mais imperdível."

Comentários