Luciano Martins Costa, Observatório da Imprensa
"Os jornais de quinta-feira (28/8) seguem analisando o desempenho dos
três principais candidatos à Presidência da República no debate
promovido pela TV Bandeirantes na noite de terça (26). Também há
reportagens sobre o enfrentamento entre a ex-ministra Marina Silva e a
dupla de apresentadores do Jornal Nacional da TV Globo, ocorrida na noite de quarta-feira.
No quadro geral, parece haver uma tendência a considerar que a
candidata do PSB deslocou definitivamente para uma posição subalterna o
candidato do PSDB, Aécio Neves. Embora, por dever de ofício e hábito de
fidelidade, ainda façam registros dos movimentos do ex-governador de
Minas Gerais, os diários de circulação nacional não dissimulam o
desânimo que se abateu sobre os tucanos. Nem mesmo a volta do economista
Armínio Fraga, como futuro ministro da Fazenda num eventual governo do
PSDB, anunciada por Aécio Neves, foi capaz de animar a imprensa.
Contemplado com um generoso espaço em entrevista no Estado de S.Paulo e com o artigo principal na página de opinião da Folha, Armínio nada acrescenta à disputa: afinal, com ele ou sem ele, o PSDB promete o que o mercado quer.
O rescaldo do debate na Band e da entrevista de Marina Silva no Jornal Nacional
é uma profusão de palpites e especulações, porque a imprensa ainda não
possui dados para avaliar o efeito dessas primeiras exposições da
candidata fora da propaganda eleitoral. As interpretações do desempenho
de Marina Silva no confronto direto com seus oponentes e diante do
moedor de carne do telejornal da Globo ainda refletem o desejo de cada
analista, sem novos elementos, e o tom geral é o de consternação pelo
evidente estrago que sua ascensão está produzindo nas pretensões de
Aécio Neves.
Os jornalistas se limitam a considerar apenas as candidaturas do PT, do
PSB e do PSDB, porque representam as principais forças políticas e são
as únicas com potencial para vencer a eleição. O sistema eleitoral é
cruel com os minoritários. Por essa lógica, a imprensa vai aos poucos
deixando em segundo plano o candidato Aécio Neves. As apostas na
ex-ministra do Meio Ambiente começam a aparecer.
O desafio de Marina
Já se podem ler, aqui e ali, especulações sobre como seria um governo
de Marina Silva. O próprio candidato do PSDB comete um erro tático ao
colocar em questão qual seria a escolha da ex-ministra, caso eleita, uma
vez que ela declarou que gostaria de governar com apoio dos
ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Lula da Silva. Colocado na
defensiva, Aécio Neves se apressa em produzir factoides, ação típica de
quem percebe o barco a fazer água.
Ao oferecer ao leitor esse cenário, a imprensa reforça a percepção
geral de que o jogo será decidido entre as duas mulheres que lideram as
pesquisas de intenção de voto. No entanto, é falsa, ou pelo menos ainda
carente de comprovação, a ideia de que Marina Silva avança
inexoravelmente para Brasília: a rigor, o total dos eleitores que
declaram votar nela não aumentou em cinco meses. Conforme observa o
colunista Janio de Freitas, da Folha de S. Paulo, os 29% com que
Marina ultrapassa Aécio Neves na pesquisa mais recente do Ibope são os
mesmos indicadores, na margem de erro, que ela exibia em abril, quando
não era candidata a presidente.
Ao apresentar Marina como um furacão avassalador, os jornais omitem
que, na verdade, ela tinha mais eleitores virtuais quando estava no
banco de reservas. A grande exposição que obteve na mídia com a morte
trágica do antigo titular da chapa do PSB, Eduardo Campos, tinha
potencial para lhe dar um impulso muito maior.
O que pode inibir sua evolução é exatamente o tipo de contradição exposta pela dupla do Jornal Nacional:
sua aliança com inimigos do ambientalismo, as suspeitas de que foi
beneficiada por dinheiro de caixa dois ao usar um avião cuja compra está
sendo investigada pela Polícia Federal.
Comentários