Luciano Martins Costa,
Observatório da Imprensa
"A imprensa abre a semana estimulando especulações sobre uma reviravolta
nas perspectivas eleitorais com o ingresso da ex-ministra Marina Silva,
do PSB, como candidata a presidente. Como não podem publicar o balanço
do acompanhamento feito pelos comitês de campanha, porque a legislação
pune com pesadas multas quem divulga números sem registrar a pesquisa na
Justiça Eleitoral, analistas e repórteres saem a campo buscando
informações que confirmem cada aposta. O resultado pode ser visto no
modo como as principais revistas semanais de informação se referem ao
novo quadro.
Basicamente, o saldo dos acontecimentos da semana produz mais perguntas
que respostas e demonstra o propósito da imprensa de domesticar o
fenômeno eleitoral nascido nos seringais do Acre. Sintetizando as
incertezas que acompanham a candidata, a revista IstoÉ questiona:
“Quem decifra Marina? – Oficializada como candidata pelo PSB, Marina
Silva entra no jogo eleitoral e demonstra fôlego para chegar à
Presidência da República, mas hoje é uma esfinge política” diz a
publicação.
Carta Capital, em editorial intitulado “Aécio que se cuide”,
opina que “Marina Silva, por ora, ameaça em primeiro lugar a candidatura
tucana”. Solitária publicação no campo político que não vive em guerra
declarada com o governo do Partido dos Trabalhadores, a publicação
comandada por Mino Carta aposta que o ingresso da ex-ministra na cabeça
de chapa carrega um potencial mais perigoso para o candidato do PSDB do
que para a presidente que tenta a reeleição. A revista explora
contradições entre o projeto “sonhático” de Marina e o apoio que ela
recebe de personagens carimbados na política do PSDB, como os
economistas André Lara Resende e Eduardo Giannetti da Fonseca.
A revista Época segue na linha da dúvida: “Até onde ela pode ir?
– Em 2010, Marina Silva era uma candidata de protesto. Agora, tem
chance de ganhar a eleição. Precisa, no entanto, mostrar ao eleitor que
tem propostas sólidas e sabe fazer política”, diz a revista do grupo
Globo.
Veja questiona: “Quão sustentável é Marina Silva?”, mas nunca se sabe quando Veja é uma revista de informações ou um panfleto de campanha.
Portanto, fiquemos no campo do jornalismo.
A esfinge do Acre
Desde sábado (23/8), quando o assunto foi levantado pelo Estado de S.Paulo,
os jornais vasculham detalhes da morte de Eduardo Campos e levantam a
suspeita de que o avião Cessna Citation que ele usava na campanha fora
comprado por um sócio seu, com dinheiro de caixa 2 de campanha
eleitoral.
Por esse caminho, pode-se desmontar o discurso central da
campanha do PSB, calcado na proposta de “uma nova política” distante dos
esquemas de financiamento que podem comprometer a independência dos
governantes.
Se as investigações da Polícia Federal confirmarem que Eduardo Campos
tinha alguma participação na compra do jato, seu legado pode se
transformar em um fantasma a assombrar a candidatura de Marina Silva.
Essa possibilidade fica estocada nos arquivos da imprensa, para ser
usada caso a candidatura da ex-ministra desidrate perigosamente as
chances do ex-governador Aécio Neves, de longe o predileto das grandes
empresas de comunicação.
Como alternativa, para a eventualidade de não ser possível conter a
maré de apoio a Marina Silva, que se desenha nos levantamentos em mãos
dos coordenadores de campanhas, a imprensa trata de constranger a
candidata a assumir compromissos com um programa de governo mais
palatável.
Não é por sua aura de filósofo que o economista Eduardo Giannetti da
Fonseca tem conquistado grandes espaços nos jornais nos últimos dias: já
foram duas páginas inteiras de amigáveis entrevistas em apenas 48
horas, nas quais ele procura amenizar os temores do mercado financeiro
quanto às verdadeiras intenções de Marina Silva. O problema é que, ao
apresentar Marina como uma personagem confiável ao grande capital, a
imprensa espanta seus potenciais eleitores, em especial aqueles jovens
que sentem a necessidade de mudanças na política mas não sabem o lugar
certo de colocar seus desejos.
Comentários