Marina em lugar de Eduardo Campos cria um quadro novo, mas ainda é cedo para uma definição categórica |
Mino Carta, CartaCapital
Há quem afirme que Marina Silva, ao adentrar a
liça eleitoral, prejudica a candidatura à reeleição da presidenta Dilma.
Às vezes, esperanças desbragadas obnubilam a razão. Transparece que
veem na recém-chegada, lembrados da expressiva votação obtida por ela em
2010, um obstáculo maior à permanência no poder do odiado PT do que
aquele representado por Aécio Neves.
Algo está claro: Marina em lugar de
Eduardo Campos cria um quadro novo, mas ainda é cedo para uma definição
categórica. Os primeiros sinais da novidade indicam que quem haveria de
se precaver contra surpresas desagradáveis é o candidato tucano. Diga-se
que Marina já anunciou a decisão de não participar das campanhas de
Geraldo Alckmin, Beto Richa e Paulo Bauer, como se as relações com o
PSDB tivessem azedado de vez.
Vale renovar agora o apoio de CartaCapital
à candidatura da presidenta que aos nossos olhos apresenta condições de
dar prosseguimento às políticas sociais inauguradas por Lula e
confirmadas no primeiro mandato, e as linhas mestras de uma política
exterior independente das vontades de Washington. Quanto a Marina, é
preciso reconhecer que ela não é Eduardo Campos.
Talvez capaz de conseguir uma votação
mais dilatada do que aquela do candidato tragicamente desaparecido, nem
por isso o supera em carisma e nitidez de ideias e propósitos. Figura
digna, porém confusa, amiúde equivocada e envolvida em questões de fé
que prejudicam a razão, como se dá com aqueles que já a enxergam sentada
no trono. Ouso definí-la como de tendência milenarista.
Marina me causa algumas perplexidades e
mesmo dúvidas. Primeiro, em relação aos recursos que irrigam sua
campanha. Segundo, com respeito a alguns personagens que a secundam. No
que tange às contribuições, nem tudo é tão transparente assim, os
florins, fartos segundo consta, saem de bolsos francamente
conservadores. E quais são os senhores que a orientam em matéria de
Economia? Eduardo Gianetti da Fonseca e André Lara Rezende, conhecidos
por sua tendência a deixar as coisas como estão para ver como ficam.
Dizia um caro companheiro que, no
caso de Lara Rezende, nada mudará, isto é certo com qualquer resultado
das eleições, no transporte a jato dos seus cavalos para sair a galope
em parques londrinos ou nos relvados de sua quinta portuguesa. Quem pode
pode, e tanto mais pode se participou com destaque da privatização das
comunicações à sombra de Fernando Henrique Cardoso.
Com tal retaguarda, Marina terá o apoio
redobrado da mídia nativa, sobretudo a se confirmarem os números por ora
positivos das pesquisas. E como resistir à sedução da retórica dos
barões midiáticos e dos seus sabujos? Não creio que Marina saberá deixar
de ser tragada pelo verbo dos escribas, dos apresentadores, dos
locutores e de quantos mais pretendem transformar opiniões em verdade
sacrossanta e de recorrer à fantasia, à omissão, quando não à mentira."
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