Luciano Martins Costa, Observatório da Imprensa
A prática e as teorias da comunicação aplicadas ao jornalismo induzem a
acreditar que a atividade da imprensa cuida de organizar o processo de
avanço da modernidade, pela classificação e valoração dos fatos novos.
Assim, somos levados a aceitar que um acontecimento só se transforma em
notícia, ou seja, em conteúdo jornalístico, se representar uma novidade,
uma ruptura em relação ao que já existe.
Essa acepção vale tanto para uma ocorrência inédita quanto para uma nova interpretação de fatos conhecidos. Portanto, um dos grandes desafios do jornalismo contemporâneo seria a oferta exacerbada de notícias, produzida pela penetração dos meios digitais em todos os cantos do mundo.
Em qualquer rincão deste planeta, e até mesmo fora dele, é possível haver um ser humano ou um instrumento criado pelo homem exercendo esse mister de registrar os acontecimentos e colocá-los imediatamente à disposição de virtualmente toda a humanidade.
Tudo isso já foi dito e repetido e faz parte dos conceitos clássicos que são ensinados nas escolas de comunicação social. O fato novo é que o jornalismo, como prática organizada e submetida a regras específicas, já não dá conta dessa tarefa.
Por outro lado, também a imprensa, instituição tradicionalmente dedicada a operar o jornalismo, vai se tornando incapaz de auscultar uma realidade muitas vezes mais ampla e, dada a diversidade do mundo midiatizado, muitas vezes mais complexa.
Esse é o contexto em que podemos afirmar que a imprensa que nasceu e se consolidou como uma espécie de cartório da modernidade já não atende às necessidades da sociedade contemporânea.
Seja o observador devoto ou iconoclasta em relação à hipótese de estarmos vivendo uma pós-modernidade, não se pode fugir à evidência de que os processos da História se aceleraram de tal forma que se tornou impossível – ou, pelo menos, improdutivo – catalogar os fatos relevantes pelo método de filtragem arbitrária da imprensa tradicional.
Essa é a constatação que precisamos fazer para entender como a imprensa, não apenas aqui no Brasil como em outros países onde sempre foi relevante, vai se encolhendo até se configurar como instrumento de poder de uma fração da sociedade.
Imprensa para poucos
Seja o Estado de S. Paulo ou o New York Times, a Folha de S. Paulo ou o Washington Post, o Globo ou Le Monde, os sistemas que tradicionalmente organizam a realidade a ser percebida pelo ser humano em frações específicas de tempo deixaram de fazer sentido.
Como os fatos estão sempre muito à frente dos sistemas da imprensa, o resultado é que seu produto, o jornalismo, deixou de ser o processo de anunciar a novidade e se transforma rapidamente em mero registro de coisas antigas. Daí a queda no número de leitores.
Como na frase que deu o título à autobiografia do falecido ministro Roberto Campos, a imprensa funciona agora como uma lanterna na popa do barco: só serve para iluminar a espuma que fica para trás.
Num oceano de possibilidades infinitas, a visão conservadora da imprensa genérica serve principalmente à inglória e impossível tarefa de interromper, ou, no mínimo, de desacelerar o ritmo das mudanças. À medida em que se aceleram os processos da modernidade, mais se torna clara essa função de freio social e cultural.
A imprensa é reacionária por natureza, mas até o último quarto do século passado podia encenar o papel de vanguarda da modernidade, contra outras instituições, como a religião, que têm a missão de lutar contra o tempo. Tratava-se de manter sob controle o ímpeto natural de mudança que marca o processo civilizatório.
Nos anos 1980 e 1990, por exemplo, os jornais brasileiros se destacaram por abrigar debates sobre novos comportamentos que vieram com a liberação social que acompanhou o fim da ditadura. A Folha de S. Paulo, por exemplo, construiu aí sua estratégia vitoriosa de aparecer como porta-voz de uma cultura liberal e libertina, contra a sisudez de seus então concorrentes.
O caso Folha é, talvez, o mais típico para ilustrar esse movimento. Depois de alcançar tiragens superiores a um milhão de exemplares em circulação diária, o jornal paulista encolheu para menos de um terço desse total.
O que explicaria essa queda, que retrata a decadência do sistema da imprensa?
Cartas para o editor."
Essa acepção vale tanto para uma ocorrência inédita quanto para uma nova interpretação de fatos conhecidos. Portanto, um dos grandes desafios do jornalismo contemporâneo seria a oferta exacerbada de notícias, produzida pela penetração dos meios digitais em todos os cantos do mundo.
Em qualquer rincão deste planeta, e até mesmo fora dele, é possível haver um ser humano ou um instrumento criado pelo homem exercendo esse mister de registrar os acontecimentos e colocá-los imediatamente à disposição de virtualmente toda a humanidade.
Tudo isso já foi dito e repetido e faz parte dos conceitos clássicos que são ensinados nas escolas de comunicação social. O fato novo é que o jornalismo, como prática organizada e submetida a regras específicas, já não dá conta dessa tarefa.
Por outro lado, também a imprensa, instituição tradicionalmente dedicada a operar o jornalismo, vai se tornando incapaz de auscultar uma realidade muitas vezes mais ampla e, dada a diversidade do mundo midiatizado, muitas vezes mais complexa.
Esse é o contexto em que podemos afirmar que a imprensa que nasceu e se consolidou como uma espécie de cartório da modernidade já não atende às necessidades da sociedade contemporânea.
Seja o observador devoto ou iconoclasta em relação à hipótese de estarmos vivendo uma pós-modernidade, não se pode fugir à evidência de que os processos da História se aceleraram de tal forma que se tornou impossível – ou, pelo menos, improdutivo – catalogar os fatos relevantes pelo método de filtragem arbitrária da imprensa tradicional.
Essa é a constatação que precisamos fazer para entender como a imprensa, não apenas aqui no Brasil como em outros países onde sempre foi relevante, vai se encolhendo até se configurar como instrumento de poder de uma fração da sociedade.
Imprensa para poucos
Seja o Estado de S. Paulo ou o New York Times, a Folha de S. Paulo ou o Washington Post, o Globo ou Le Monde, os sistemas que tradicionalmente organizam a realidade a ser percebida pelo ser humano em frações específicas de tempo deixaram de fazer sentido.
Como os fatos estão sempre muito à frente dos sistemas da imprensa, o resultado é que seu produto, o jornalismo, deixou de ser o processo de anunciar a novidade e se transforma rapidamente em mero registro de coisas antigas. Daí a queda no número de leitores.
Como na frase que deu o título à autobiografia do falecido ministro Roberto Campos, a imprensa funciona agora como uma lanterna na popa do barco: só serve para iluminar a espuma que fica para trás.
Num oceano de possibilidades infinitas, a visão conservadora da imprensa genérica serve principalmente à inglória e impossível tarefa de interromper, ou, no mínimo, de desacelerar o ritmo das mudanças. À medida em que se aceleram os processos da modernidade, mais se torna clara essa função de freio social e cultural.
A imprensa é reacionária por natureza, mas até o último quarto do século passado podia encenar o papel de vanguarda da modernidade, contra outras instituições, como a religião, que têm a missão de lutar contra o tempo. Tratava-se de manter sob controle o ímpeto natural de mudança que marca o processo civilizatório.
Nos anos 1980 e 1990, por exemplo, os jornais brasileiros se destacaram por abrigar debates sobre novos comportamentos que vieram com a liberação social que acompanhou o fim da ditadura. A Folha de S. Paulo, por exemplo, construiu aí sua estratégia vitoriosa de aparecer como porta-voz de uma cultura liberal e libertina, contra a sisudez de seus então concorrentes.
O caso Folha é, talvez, o mais típico para ilustrar esse movimento. Depois de alcançar tiragens superiores a um milhão de exemplares em circulação diária, o jornal paulista encolheu para menos de um terço desse total.
O que explicaria essa queda, que retrata a decadência do sistema da imprensa?
Cartas para o editor."
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