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O Legislativo não sofre, obviamente, qualquer ameaça |
Mauricio Dias, CartaCapital
O decreto de criação da Política Nacional de
Participação Social (PNPS) fez a direita botar a cara para fora mais uma
vez. Assumiu a distância que a separa do cidadão e, principalmente, dos
movimentos sociais. Desde 1964, quando radicalizou e sustentou a
derrubada de um governo constitucionalmente eleito, a reação
conservadora não se assanhava tanto quanto agora.
Tangida pelo vozerio da mídia contra o
decreto, enviado há duas semanas ao Congresso por Dilma Rousseff, a
decisão da presidenta esbarrou no batismo de fogo. À falta da ameaça
comunista, manuseada pelos idiotas da Guerra Fria, foi o PNPS tachado
pelos patetas recentes de repetir políticas bolivarianas, chavistas.
Traduzindo a acusação, o decreto seria
uma forma de reduzir o papel do Legislativo. E, mais, seria uma
tentativa do governo de usar um instrumento da democracia direta para
controlar os movimentos sociais.
Medo. Medo de quê? O decreto orienta a
criação de conselhos, comissões, ouvidorias, audiências públicas,
conferências e mais coisas no sentido de instruir consultas à “sociedade
civil” sobre ações do governo.
“Somos a favor da consulta, a favor da
participação de todos os segmentos no processo de estruturação das
políticas do governo”, afirmou a presidenta em defesa da política de
participação social.
Para alguns, porém, o decreto seria algo como o Cavalo de
Troia. Traria embutido nos seus 22 artigos um processo de superação dos
trabalhos do Legislativo. Pura superstição conservadora.
Debruçada sobre a questão há vários anos,
a professora Thamy Pogrebinschi afirma que “há um alto grau de diálogo
entre deliberações propostas nas conferências nacionais e a ação dos
parlamentares no Congresso”.
De acordo
com as pesquisas feitas por ela, considerando projetos e legislação
aprovada, “o Parlamento brasileiro espelhou de forma convergente em sua
ação legislativa as demandas da sociedade civil em 3.057 oportunidades”.
Decididamente, não gostam da democracia
do lado de baixo da linha do Equador. Gostam de vê-la engessada por
descaso com as transformações exigidas nas mobilizações sociais, como
ocorreu nas jornadas populares de 2013.
Não é difícil rastrear as reações primárias da direita. Se
a PNPS representa para ela um dos princípios da política chavista, o
programa Mais Médicos chegou a ser identificado como infiltração do
regime cubano no Brasil.
Elementar: como os médicos são funcionários do
governo cubano, logo são espiões. O sistema de cotas para negros,
pardos, pobres e indígenas foi rejeitado, inicialmente, por uma
suposição preconceituosa: quebraria o princípio da meritocracia.
Para dar o último exemplo de uma lista
muito mais longa, fica registrado o fracasso da democracia brasileira: a
regulação da mídia não foi discutida e muito menos votada. Prevaleceu a
falsa ideia de que o objetivo era censurar a imprensa."
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