Veja: manual de propina da Alstom omite Matarazzo

"Reportagem que poderia ser bombástica da revista frustra leitores; anunciado como exclusivo, "O manual de priopina da Alstom" poderia representar a entrada definitiva da Editora Abril na apuração do escândalo que atinge o PSDB em São Paulo; que nada! Reportagem asséptica apenas indica que propinas deveriam ser pagas por meio de consultorias de subsidiárias, como a Cegelec; se Veja pesquisasse seu próprio arquivo, encontraria uma reportagem em que acusava Andrea Matarazzo, ex-secretário de Energia de São Paulo e atual vereador, de arrecadar US$ 3 milhões para o caixa dois da reeleição de FHC, em 1998; de onde vinha o dinheiro? Da Alstom

Brasil 247

 A revista Veja desta semana produz um alarme falso. Anunciado, na capa, como "O manual de propina da Alstom", obtido com exclusividade, o documento poderia significar um mergulho da Editora Abril no escândalo que atinge o PSDB de São Paulo.
 
Expectativas frustradas. O texto de Alexandre Aragão apenas publica um guia da empresa francesa Alstom para "simplificar e racionalizar" as regras de pagamento de propina para a obtenção de contratos pela Alstom e suas subsidiárias com lobistas de empresas públicas e privadas.

Entre as descobertas, a necessidade de que as comissões não sejam registradas na contabilidade da matriz e que seja mantida a confidencialidade. Além disso, de preferência, as propinas deveriam ser pagas por subsidiárias como a Cegelec.

Se Veja fizesse uma pesquisa nos seus próprios arquivos, encontraria um personagem central no escândalo das propinas da Alstom: o ex-secretário de Energia de São Paulo, Andrea Matarazzo. Eis o que foi escrito numa reportagem de Alexandre Oltramari, de 22 de novembro de 2000 sobre o caixa dois tucano (leia aqui a íntegra):

Que teve, teve – Num primeiro momento, os tucanos, atingidos pela denúncia, ensaiaram uma versão de que a planilha do caixa dois podia não ser verdadeira. Após receber um telefonema de Fernando Henrique, no qual o presidente demonstrava preocupação com a notícia, Bresser Pereira tentou explicar-se. Admitiu ser o dono da planilha e contou que seu irmão, Sérgio Luiz, o ajudou no trabalho, porém afirmou que ela foi alterada. "Eu montei uma planilha, mas abandonei o sistema depois de dois meses porque não funcionava", disse o ex-ministro. "Não houve gastos nem receitas que não foram contabilizados. Não sei explicar de onde saiu isso." A ordem no Planalto era para que ninguém no governo comentasse o assunto. No apartamento de Bresser, em São Paulo, os empregados avisavam aos jornalistas que ele viajara para os Estados Unidos. O ministro Andrea Matarazzo, que aparece na lista do "por fora" com uma doação de 3 milhões de reais, mandou seus assessores dizer que tinha ido para a fazenda e estava "incomunicável". Puro teatro. Nem Bresser havia embarcado para os Estados Unidos nem Matarazzo estava "incomunicável".

No final da semana, ninguém tinha mais dúvida de que a planilha revelava o caixa dois da campanha. Além de Bresser Pereira, outras duas pessoas tinham acesso à contabilidade da campanha de Fernando Henrique: o ex-presidente dos Correios Egydio Bianchi e Adroaldo Wolf. Em conversa com VEJA, um deles admitiu que a campanha, de fato, usou a contabilidade paralela. "Que teve uma contabilidade paralela, eu não tenho dúvida. O que eu não sei é se desviaram o dinheiro ou se não declararam para proteger a identidade do doador", diz um dos tesoureiros. Na quarta-feira passada, falando de seu apartamento em São Paulo, Bresser desabafou: "Não posso ser responsabilizado por tudo que ocorreu de alto a baixo na campanha", disse.

 "Se alguém recebeu dinheiro e não registrou, como eu posso saber?" Entre os tucanos, o nome de Egydio Bianchi, que entrou no governo pelas mãos do ex-ministro Sergio Motta, circulava como o principal suspeito de ter vazado as planilhas com o caixa dois da campanha. Demitido dos Correios há quatro meses pelo ministro Pimenta da Veiga, das Comunicações, Bianchi saiu atirando. Chegou a ter um encontro com Fernando Henrique no qual torpedeou a administração de Pimenta da Veiga e prometeu entregar um dossiê com acusações.

De onde vinham os US$ 3 milhões de Matarazzo? De subsidiárias da Alstom, como a Cegelec. O mistério é: por que Veja omite isso dos seus leitores?"

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