Eleições 2014: as maiores probabilidades

Gunter Zibell, GGN

 'Uma coisa é quase inconteste para quem acompanha o cenário político: Dilma é franca favorita para a reeleição. Razões para crer nisso não faltam: há uma tendência de longo prazo favorável a reeleições quando não há maiores problemas no plano econômico (não somente para presidentes, mas para governadores e prefeitos de quaisquer partidos também.) Mesmo que a mídia e analistas independentes apontem para questões reais como a falta de plano sustentável para a manutenção de crescimento e a dependência do setor externo, o fato é que o desemprego é historicamente baixo e que com EUA, Europa e China crescendo simultaneamente, como deve acontecer em 2014, não haverá grandes surpresas.

Mas isso não é razão para se imaginar que o debate se encerrou. Ainda mais faltando nove meses para as eleições.

Em primeiro lugar não se deve subestimar o advento de um novo discurso oposicionista, como o representado por Campos. Dado o ambiente econômico estável, as pesquisas de opinião eleitoral (a maioria das quais aponta para vitória em 1º turno) e as pesquisas sobre popularidade do governo, é claro que a grande probabilidade de reeleição de Dilma é óbvia.

Mas tomemos como ponto de partida os 56% de votos válidos que Dilma recebeu no 2º turno de 2010. Naquele ano o cenário geral era parecido e francamente governista também. Como ponto positivo extra, agora, temos o conhecimento do nome da presidenta e inéditos 50% de tempo de TV.

Mas há pontos que podem ser favoráveis a um discurso “nova oposição”: a) quem olhar com maior atenção as simulações de 2º turno de algumas pesquisas perceberá que Marina Silva tem sim potencial de transferir votos para Campos, basta observar como os resultados mudam quando nos discos de pesquisa os nomes de prováveis vices são apresentados junto; b) o aprofundamento da aliança do governo com partidos de matiz ora conservador moral ora ruralista abre um flanco para um discurso de oposição que passa além de questões de classe ou de economia; c) há um certo esgotamento em relação ao discurso ‘polarização’, feito tanto por PT como por PSDB, que pode favorecer marginalmente os discursos em estilo conciliatório.

Além disso, o governo não tem mostrado razões para agregar novos grupos de simpatizantes, mais bem administra corretamente a popularidade já conquistada. O que leva à seguinte dúvida: se um candidato tido como desagregador e quase monotemático em seu discurso ‘udenista’ chegou a receber, em 2010, 44% dos votos em 2º turno, que motivos haveria agora para que esses eleitores venham a preferir Dilma vis-a-vis um eventual opositor mais conciliador e mais comprometido com a herança dos programas sociais?

A aposta, assim, ainda é a da reeleição, mas talvez em um percentual mais próximo de 50%. O que não é em absoluto incomum: recentes eleições, como Chile-2009, Peru-2011, EUA e França-2012 e Venezuela-2013 foram todas definidas com o vencedor com menos de 52% dos votos válidos.

Um outro ponto a observar é o novo Congresso que emergirá das urnas. Muito provavelmente as mudanças serão poucas, como, aliás, têm sido desde 1982, primeiras eleições pluripartidárias. Partidos vão se dividindo, mudando de nome e de aliados, mas é inescapável observar que por todo esse tempo congressistas identificados com centro-direita seguem sendo 70% ou mais. Partidos como PMDB, PP, PR e PSD podem formar coligação com PT, PDT e PCdB, mas seu apoio em plenário se dará na burocracia da governabilidade (aprovar-se LDOs, por exemplo), mas não para mudanças efetivas em estamentos tradicionais (como, de fato, não houve nenhuma nos últimos 10 anos.)

Há até razões para imaginar que um partido como o PT possa vivenciar redução de sua bancada: por um lado há um descontentamento (marginal, é fato) com o distanciamento desse partido de seus projetos do passado (processo que PMDB e PSDB já viveram também, mas há mais tempo e com mais ampla percepção pelo eleitorado), que pode favorecer algum aumento da bancada de partidos com discurso menos conservador; por outro lado, partidos como o PSC e PRB alardeiam abertamente a intenção de aumentar suas bancadas... Ora, um eventual crescimento de bancadas conservadoras em um Congresso já tão conservador se daria às custas de quem?

Em outras palavras, sucesso na reeleição de presidente não indica maior facilidade na governabilidade, ao contrário. O eleitorado brasileiro tradicionalmente deposita muitas expectativas nos cargos executivos, esquecendo-se de como a divisão constitucional de poderes se dá na prática, o que pode acabar levando a frustrações.

Finalmente, um outro foco de atenções deverá ser destinado às eleições estaduais. Certamente, como em 2010, o governismo será o grande vencedor.

 Mas sob quais de suas legendas? Em 2010 o PT elegeu 5 governadores, sendo 2 nos 10 mais populosos estados (BA e RS), fora o emblemático DF. Como será em 2014? É claro que é muito cedo para dizer, pois vários pré-candidatos ainda deverão ter seus nomes mais conhecidos. De qualquer modo, não pode deixar de ser observado que nas mais recentes pesquisas estaduais (realizadas no 4º trimestre/2013), somente um nome do PT aparece como favorito nos 10 maiores estados, no caso MG.

Não é raro que os eleitores misturem em suas cédulas partidos que são oposição e situação no plano federal. Os fenômenos “Lulécio” e “Dilmalckmin” como exemplos. Tanto é assim que os partidos que não participam da polarização aberta PSDB vs PMDB/PT se coligam com grande liberdade nas eleições estaduais, dando preferência ao mais provável vencedor em cada disputa (o comportamento do PSD nas eleições para prefeitos de capitais em 2012 é exemplar a respeito.)

Resumindo, poderemos ter em 2014:

- uma eleição para presidente semelhante à de 2010, disputada até o final, não obstante o evidente favoritismo do governo;

- um Congresso que pode ser menos dócil que o atual;

- espaços no âmbito estadual para manutenção da ‘velha oposição’ (ex.: PSDB em SP e PR); crescimento da ‘nova oposição’ (bancadas estaduais do PSB); alternância (PT em MG, DEM em BA) ou mesmo redivisão de espaços dentro do campo governista (ex.: PP em RS, PRB em RJ.)

Será, enfim, embora sem grandes surpresas, ainda um ano interessante."

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