Os 29 de Joaquim Barbosa


Fernando Brito, Tijolaço

“Talvez seja possível uma leitura inversa do juízo bíblico.

Dize-me quem anda contigo e te direi quem és.

Ontem, em São Paulo, um grupo de 29 manifestantes, supostamente maçons – no meu tempo maçon era discreto, quase secreto – fez um ato pró-Joaquim Barbosa, no Parque do Povo, em São Paulo.

Não eram, infelizmente, os 300 de Gideão, pois nem sempre é preciso haver uma multidão para que as causas sejam sagradas.

Eram apenas os 29 de Joaquim.

Liderados por um cidadão chamado Joe Diwan, que bem parece precisar de algo parecido a seu sobrenome para resolver seus problemas de convívio coletivo, seus seguidores, que proclamam Joaquim seu salvador, querem mais armas e menos impostos.

Ele organizou protestos contra a morte de animais, mas crê no direito de enfiar-se uma bala de revólver num ser humano.

Talvez num dos “pedintes e andarilhos” sobre os quais Diwan pediu que os moradores de Higienópolis se montasse um sistema de vigilância.

Seus 29  mesmos descrevem, numa exibição primária de sua visão de mundo, que os principais problemas do povo brasileiro são o atendimento nos bancos e os telefones celulares.

Gideão era um juiz (Juízes 6-7), mas as semelhanças param por aí.
É que ele foi enfrentar, em nome do Senhor, os midianitas, descendentes e seguidores de Midiã.

Este, serve e se serve aos midianitas modernos, que têm a cabeça que a mídia lhes dá.

Leia a matéria – muito bem feita, uma pena não estar assinada – da Folha:

Ato pró-Barbosa recolhe pedidos como


direito a armas e menos impostos

O evento foi convocado por maçons e por uma entidade da sociedade civil como um ato em apoio a Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal, pela condução do processo do mensalão. Mas não ficou nisso.

Os 29 manifestantes que compareceram ao Parque do Povo, em São Paulo, bem como os visitantes do local, podiam registrar pedidos em filipetas distribuídas por um Papai Noel, que, entre uma badalada de sino e uma risada forçada, suava debaixo da roupa vermelha. Já no início da manhã, a temperatura era de 27°C no Itaim Bibi, zona oeste.

Depositados em uma urna acrílica, os pedidos davam o tom do protesto: foram solicitados “um país justo de impostos” e a Lei do Armamento, para a “plena defesa do cidadão: poder portar armas”.

Os papéis seriam todos encaminhados ao gabinete de Dilma Rousseff, informava, no megafone, o líder do ato, o empresário Joe Diwan.

Os organizadores do protesto ressaltaram que os visitantes do parque tiveram liberdade de escrever o que quisessem, e que os pedidos depositados na urna não representam os ideais do movimento.

Um dos participantes sugeriu o seguinte: os políticos deveriam se fiar à lista de reclamações do Procon para conhecer as necessidades do povo. “Estão lá: celular e banco”, disse Jose Chehembar.

Com faixas, cartazes e apitos- -e ladeado por quatro guardas-civis metropolitanos– o grupo se postou no gramado central do parque para cantar o hino nacional.

A associação envolvida no ato, Movimento Brasil Merece Mais, causou polêmica recente ao organizar uma rede de segurança privada em Higienópolis (centro), em que moradores podem “denunciar” a presença de algum “andarilho ou pedinte” no bairro.”

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