Imprensa vai fazer força-tarefa para investigar tucanos


Ricardo Kotscho, Balaio do Kotscho

“Peço licença ao colega Antônio Prata, legítimo herdeiro do Mário Prata, para usar de sua fina ironia neste artigo sobre a "isenção" e a "independência" da mídia brasileira no caso do julgamento e da condenação dos dirigentes do PT, mas já vou logo avisando, para evitar mal entendidos, que se trata de um texto de ficção.

Assim que foram proclamadas as sentenças do STF na quarta-feira, os altos dirigentes do instituto Os Milenares, que reúne a nata da imprensa brasileira, fizeram uma reunião de emergência destinada a formar uma força-tarefa com representantes de todos os veículos para investigar os malfeitos tucanos, do mensalão mineiro ao trensalão paulista, passando pela compra de votos e as privatizações no governo FHC, assuntos que nem foram lembrados nestes dias pelos colunistas e editorialistas da confraria.

Pega mal, lembrou alguém, não utilizar os mesmos perdigueiros do "jornalismo investigativo" para descobrir o que acontece, afinal, com os processos envolvendo o PSDB _ eles sempre surgem e desaparecem da mídia como num passe de mágica, sem que nunca se tenha notícia sobre a que conclusões chegaram e quem foram os agentes públicos punidos por ações não republicanas.

Basta dizer que o mensalão tucano, criado em 1998, é sete anos mais velho do que o do PT, denunciado em 2005. Alguém sabe que fim levou? Até onde sei o processo encontrava-se sob os cuidados do mesmo ministro Joaquim Barbosa que comandou com mãos de ferro o julgamento dos petistas. Uma vez perguntaram a ele, coisa rara, porque ele nunca falava sobre o mensalão tucano. A resposta não poderia ser mais singela: "Porque vocês nunca me perguntam...".

Ou seja, a parceria da imprensa com o Judiciário sempre depende...  _ depende de quem são os réus. Cabe agora à força-tarefa, que deverá entrar em ação imediatamente, procurar equilibrar novamente a balança, fuçando nos papéis do Judiciário, da Procuradoria Geral, das Promotorias Públicas e onde mais for necessário tudo o que já foi ou deixou de ser investigado.

Vale a pena até fazer um esforço extra e mandar enviados especiais à França e à Suíça, que já estão muito mais adiantados em alguns casos, como os da Siemens (ré confessa) e da Alstom, empresas envolvidas da formação de cartéis que fizeram a festa no trensalão paulista ao longo de três governos tucanos.  Mais difícil, ao que parece, é chegar aos nativos que participaram do esquema em variados escalões. Aí é que a porca torce o rabo e entra em cena o procurador Roberto de Grandis, que há quase três anos não consegue colocar os processos na pasta certa para atender às demandas dos investigadores suíços.

Para quem diz que o Brasil agora é outro e nunca mais será o mesmo, trata-se de um bom começo: fazer com que as leis valham para todos da mesma forma, com a inestimável e prestimosa ajuda da nossa grande imprensa.

 Manchetes, primeiras páginas, fotos rasgadas, colunas, blogs, telejornais, programas de rádio, portais, quantas páginas e espaços forem necessários, tudo será disponibilizado imediatamente para que a força-tarefa possa apresentar seus primeiros resultados já nos próximos dias.

Só assim os possíveis crimes cometidos não prescreverão e os responsáveis serão devidamente punidos com o rigor da lei. Quem sabe estas reportagens inéditas sobre o PSDB poderão até render grandes prêmios jornalísticos aos veículos e aos seus profissionais, agora liberados para investigar tudo que encontrarem pela frente, não importa a cor do rato, como diziam os chineses.

 O último de que me lembro nesta área foi o de Fernando Rodrigues, que ganhou o Esso com a reportagem sobre a compra de votos, nos anos 1990 do século passado.

Mãos à obra, rapazes. Os poderosos chefes do Instituto Os Milenares darão toda a retaguarda e todos os meios para que vocês façam um belo trabalho e acabem de vez com estes mistérios tucanos, que nunca chegam ao plenário do Supremo Tribunal Federal e geram tantas desconfianças.

Vamos mostrar o valor da nossa imprensa que não tem rabo preso, muito menos candidatos ou partidos de sua predileção. Se nenhum deles vingar, pode-se fazer uma pesquisa nos nossos tribunais superiores para ver se há entre os togados algum salvador da pátria bom de votos.

Assunto não falta. É só recuperar os próprios arquivos e dar sequência aos trabalhos, indo fundo na apuração até chegar ao ouro. Quem vos fala não tem nome nem cargo, é apenas a voz da consciência que deve estar pesando ao ver que José Genoíno está preso e dar uma olhada em volta para ver quem está solto.”

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