Natasha Pitts, Adital
“Nas últimas semanas, ganhou destaque na novela Amor à Vida, da Rede Globo de Televisão, o preconceito contra as pessoas gordas. A personagem Perséfone, uma enfermeira vivida pela atriz Fabiana Karla, teve que enfrentar uma maratona de insultos, apelidos e desaforos para ficar com seu noivo, um homem bonito e magro.
Na vida real, muitos homens e mulheres, crianças, adolescentes e pessoas de mais idade também sofrem o mesmo tormento que a personagem e motivados por isso buscam medidas extremas de emagrecimento, que vão de dietas com pouquíssimas calorias, consumo de remédios para reduzir o apetite à exacerbação nos exercícios físicos. As consequências disso são problemas físicos, como úlceras, gastrite, refluxo esofágico, apneia do sono e também psicológicos, como depressão e reclusão, que muitas vezes acompanham as pessoas pelo resto da vida.
O psiquiatra Fábio Gomes de Matos, coordenador do Centro de Tratamento de Transtorno Alimentar (Cetrata), que funciona em Fortaleza, Ceará, no Hospital Universitário Walter Cantídio, explica que um dos primeiros pontos é o estigma que se tem com as pessoas obesas e o tratamento de desdém dado a elas.
"O obeso sofre bullying social, desde sempre ele recebe apelidos ofensivos. Essas pessoas não se sentem com atrativos físicos, muitas usam roupas frouxas, querem esconder o corpo. A partir daí, surge a depressão, a ansiedade e o uso da comida como forma de compensação, fazendo com que a pessoa entre em um círculo vicioso, pois ela come, fica deprimida, come mais porque se sente gorda e porque não deveria ter comido, e por aí vai”, explica.
O psiquiatra lembra que hoje a oferta de comida é exagerada e que não é preciso pagar muito para comer carne, pizza e sorvete à vontade em alguns restaurantes, fazendo assim com que as pessoas consumam mais calorias do gastam.
"O reflexo disso é que 51% da população brasileira está acima do peso e 19% está obesa e ao mesmo tempo em que a sociedade induz as pessoas a serem obesas exige que sejam magras e estejam dentro de um padrão”, critica.
A professora de educação infantil, Soraia Nascimento, decidiu, aos 98 quilos, fazer a intervenção mais procurada pelos obesos, a cirurgia bariátrica, mais conhecida como ‘redução do estômago’. Ela conta que começou a engordar depois da primeira gestação e que seu principal motivo foi a saúde, mas a estética, claro, também pesou.
"Eu me sentia uma gordinha bem resolvida, não sofri muito preconceito, meu marido também não se incomodava com isso. Eu só ficava triste quando tinha que comprar roupas e não tinha meu número ou quando precisava alugar algum vestido para festa e só tinha coisa grande e feia. Aí, quando ficava triste e ansiosa, a tendência era comer mais. Mas eu nunca me privei de fazer nada por ser gorda”, contou.
Antes de decidir pela cirurgia a professora disse que fez todo tipo de dieta que se possa imaginar. "Teve uma época até que eu viajava para Mossoró para me consultar com um médico que me tratava com remédios controlados, eu até perdi muito, foram 22 quilos, mas quando parei com os remédios voltei a engordar e cheguei à conclusão de que nada dava certo”.
Depois disso, sentindo o peso das doenças
que a obesidade traz consigo, sobretudo hipertensão e diabetes, a professora
decidiu entrar na fila da cirurgia bariátrica no serviço público, mas anos se
passaram sem que ela fosse chamada e a oportunidade apareceu quando seu esposo
mudou de emprego e o plano de saúde possibilitou. Hoje, com 35 quilos a menos,
ela diz que sente muito bem, mas que também estaria assim se ainda estivesse
gordinha.”
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