“O ingresso de Marina Silva no PSB tem
implicações sobre o conjunto da campanha presidencial para 2014. Na prática, o
segundo turno já começou.
Paulo Moreira Leite, ISTOÉ
Vamos entender o que aconteceu. Ao oferecer o PSB para Marina Silva,
Eduardo Campos trouxe, para dentro de sua legenda, a candidata que é segunda
nas pesquisas de intenção de voto. O próprio Eduardo Campos está em quarto
lugar, não sái do chão e acaba de sofrer uma derrota interna importante. O
governador do Ceará, Cid Gomes, deixou o PSB. Em matéria de dissidência, seria
equivalente, no PSDB, a Geraldo Alckmin romper com Aécio Neves e abandonar o
partido, levando embora os votos de São Paulo.
Acabo de ouvir um líder importante do PSB. Ele
me garante que Campos e Marina vão formar uma chapa e que o governador de
Pernambuco será o titular, deixando para a nova aliada o cargo de vice. Por
mais respeito que tenha por este cidadão, sei que os segredos fazem parte da
política. Duvido e dou risada. Não acho que Marina foi ao PSB para ser vice de
um candidato que tem 20% de suas intenções de voto. Se fosse para isso seria
melhor ficar em casa em nome dos princípios de que era Rede de Sustentabilidade
e pronto.
Essa composição resolve muitos problemas
para as partes. Assegura uma legenda a candidatura de Marina. E pode abrir uma
saída para seu novo parceiro. Enfraquecido e seu perspectivas de
crescimento na eleição presidencial, Eduardo Campos fica liberado para
disputar uma eleição que pode vencer, para senador, em vez de correr o risco de
ficar sem um único mandato para chamar de seu depois de 2014.
Mas não é só isso. Se Marina era a única
candidata da oposição que não fazia água, um eventual crescimento de sua
candidatura nos próximos meses pode provocar outra mudança. Estou falando de
Aécio Neves.
Até março de 2014 será preciso definir,
oficialmente, quem concorre a qual posto eleitoral. Imagine se, até lá, Aécio
estiver no mesmo lugar de hoje, em terceiro, mas a uma boa distancia do segundo
lugar. Estará diante do mesmo cenário de Eduardo Campos: sofrer uma derrota e
ficar sem mandato.
O apoio a Marina, em nome do conhecido
discurso de “unidade das oposições”, pode ser uma excelente oportunidade para
Aécio mudar o rumo de sua campanha. Teria a benção de boa parte dos empresários
e, com certeza, dos meios de comunicação.
Basta olhar para a disputa pelo governo de
Minas, onde o PT apresenta-se com um ministro e um dos maiores empresários do
Estado, para constatar que, pela primeira vez em sua história, o PSDB
encontra-se sob o risco real de uma derrota por falta de candidato a altura. Se
ficar sem chance na luta presidencial, Aécio poderia ser levado a salvar os
móveis do PSDB na disputa estadual. Essa possibilidade, que parece muito remota
agora, explica a permanência do eterno candidato a presidente José Serra no
PSDB.
Por trás de tantas mudanças, encontra-se
uma situação real, que é o temor da oposição, que pode sofrer uma quarta
derrota consecutiva para o condomínio Lula-Dilma desde 2002. Com 38% das
intenções de voto, contra 32% para a soma dos adversários, Dilma ameaça os
concorrentes com uma possível vitória no primeiro turno. É essa musica adversa
que provoca tantos movimentos, rápidos e surpreendentes pela coreografia,
entre seus adversários.”
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