Alfredo Sirkis, Blog do Sirkis
“O Brasil
da secular burocracia pombalina, do corporativismo estreito e da hipocrisia
politico cartorial falou pela voz da maioria esmagadora do tribunal. A
voz solitária de Gilmar Mendes botou o dedo na ferida na forma do juz
esperneandi. O direito de, literalmente, espernear.
Para mim
não foi surpresa alguma, nunca foi uma questão de fé --Deus não joga nesta
liga-- mas de lucidez e conhecimento baseado na experiência pregressa. Eu
tinha certeza absoluta que se não tivéssemos uma a uma as assinaturas
certificadas, carimbadas, validadas pela repartição cartórios de zonas
eleitorais íamos levar bomba.
A ministra
relatoria fez uma defesa quase sindicalistas de seus cartórios de sua “lisura”
. Gilmar Mendes mostrou claramente o anacronismo deles na era digital. Prevaleceu
a suposta “dura lex sed lex” mas que pode também ser traduzido, no caso,
pelo mote: “aos amigos, tudo, aos inimigos, a Lei”. E o PT já tinha
avisado que “abateria o avião de Marina na pista de decolagem”.
Mas não
ter entendido que o jogo seria assim e ter se precavido a tempo e horas foi uma
das muitas auto complacências resultantes de uma mística de auto ilusão.
Para ser
direto em bom carioquês: “demos mole”.
Marina é
uma extraordinária líder popular, profundamente dedicada a uma causa da qual
compartilhamos e certamente a pessoa no país que melhor projeta o discurso da
sustentabilidade, da ética e da justiça socioambiental. Possui, no entanto,
limitações, como todos nós. As vezes falha com operadora política comete
equívocos de avaliação estratégica e tática, cultiva um processo decisório ad
hoc e caótico e acaba só conseguindo trabalhar direito com seus incondicionais.
Reage mal a críticas e opiniões fortes discordantes e não estabelece alianças
estratégicas com seus pares. Tem certas características dos lideres
populistas embora deles se distinga por uma generosidade e uma pureza d’alma
que em geral eles não têm.
Não tenho
mais idade nem paciência para fazer parte de séquitos incondicionais e
discordei bastante de diversos movimentos que foram operados desde 2010. A saída do PV foi
precipitada por uma tragédia de erros de parte a parte. Agora, ironicamente,
ficamos a mercê de algum outro partido, possivelmente ainda pior do que o PV.
Quanto à
Rede, precisa ser vista de forma lúcida. Sua extrema diversidade ideológica faz
dela um difícil partido para um dia governar. Funcionaria melhor como rede
propriamente dita –o Brasil precisa de uma rede para a sustentabilidade, de
fato-- mas, nesse particular, querer se partido atrapalha.
Ficarei
com Marina como candidata presidencial porque ela é a nossa voz para milhões de
brasileiros mas não esperem de mim a renúncia à lucidez e uma adesão
mística incondicional, acrítica.
Minha tendência
ao “sincericidio” é compulsiva e patológica. Nesse sentido não sou
um “bom politico”. Desculpem o mau jeito. Hoje tenho oito horas para enfrentar
um leque de decisões, todas ruins em relação ao que fazer com uma trajetória
limpa de 43 anos de vida política. Mas vou fazê-lo sem angústia de
coração leve e mente aberta.”
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