As manifestações a
favor da democratização
dos meios de
comunicação ocorreram em 7
estados nessa
sexta-feira (30)
|
“Colunista da RBA afirma que admitir ser
uma "verdade dura" o apoio ao golpe de 1964 não basta e que
democracia brasileira ainda espera o fim do monopólio das comunicações
O fato de as Organizações Globo assumirem que apoiaram o regime
militar, em editorial de O Globo na edição de sábado (31), não significa
um reparo de conduta do maior grupo de mídia do país. Para o cientista político
Paulo Vannuchi, comentarista da Rádio
Brasil Atual, o importante será verificar o que será a Globo a
partir dele. “Ela faz o mea culpa e vai mudar? Ou faz o mea culpa para
fortalecer a sua posição de combate?”, indaga.
O texto de sábado – comumente um dia de baixo consumo de jornais impressos – é aberto com menção ao grito popular e reconhece que "trata-se de uma verdade", e, de fato, "uma verdade dura". "Já há muitos anos, em discussões internas, as Organizações Globo reconhecem que, à luz da História, esse apoio foi um erro."
"A lembrança é sempre um incômodo para o jornal, mas não há como refutá-la. É história. O Globo, de fato, concordou com a intervenção dos militares, ao lado de outros grandes jornais, como O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, Jornal do Brasil e o Correio da Manhã, para citar apenas alguns", aponta o editorial.
Na mesma manifestação do dia 30, os membros do Levante Popular da Juventude, grupo que tem chamado atenção por seus protestos de escracho a torturadores, renomearam a ponte Otávio Frias Filho – dono da Empresa Folha da Manhã no período da ditadura – para Vladmir Herzog, jornalista assassinado pelo DOI-Codi.
Vannuchi lembra que a própria empresa que edita a Folha foi por
responsável por emprestar carros do jornal para que o DOI-Codi promovesse
operações e emboscadas e executasse militantes da resistência clandestina. "Eu
pergunto se a Folha, o Estadão, o Grupo Abril vão realizar um mea
culpa semelhante”, diz.
Apesar do aparente reconhecimento do erro, no mesmo texto, O Globo menciona
que apoiou o regime militar, devido ao perigo do comunismo e de um
"provável golpe, a ser desfechado pelo presidente João Goulart, com amplo
apoio de sindicatos".
Para Vannuchi, a Rede Globo se isenta do principal problema que é 'ter
convocado os militares para darem um golpe de Estado, reprimirem, sufocarem
sindicatos, prenderem, torturarem e desaparecerem com os corpos de opositores
políticos".
"Se as mobilizações prosseguirem, se
reforçarem, é possível avançar. O que pode parecer hoje um objetivo distante,
inatingível, pode ser alcançado, que é a democracia que falta no Brasil. Pelo
menos um terço dos canais de rádio e televisão estarem nas mãos dos movimentos
populares, sociais, comunidades, ONGs, entidades de representação popular, para
que todos falem, porque na democracia é preciso assegurar a pluralidade de
opiniões", afirma Vannuchi. "Trata-se de constituir uma ampla
distribuição de recursos, de ondas de TV e de rádio, e a possibilidade de uma
imprensa também para o povo, para a classe trabalhadora, para os mais pobres."
Comentários