O encontro de
petistas em São Paulo,
com Lula,
Padilha e Haddad,
foi abreviado pela morte de
Gushiken / Nelson
Antoine/Fotoarena/Folhapress
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“Em encontro do PT na capital paulista,
ex-presidente revela que ex-ministro lhe pediu, dias antes de morrer, que
trabalhasse para 'recuperar' o partido, acomodado com disputas eleitorais
“O Gushiken foi uma das vítimas da mentira de uma parte da imprensa
deste país. Eu sei o que o companheiro Gushiken sofreu com as infâmias que
levantaram contra ele. Muitas vezes o irresponsável que levanta uma acusação
sem ter provas não leva em conta a história das pessoas, que a pessoa tem
mulher, tem filhos”, disse Lula durante encontro de integrantes do PT paulista
na quadra do Sindicato dos Bancários de São Paulo, no centro da capital.
Luiz Gushiken, que comandou a Secretaria de Comunicação Social da
Presidência da República após ser um dos coordenadores da campanha vitoriosa
pelo Planalto em 2002, chegou a ser acusado de participação no episódio
apelidado de mensalão. Apenas no ano passado, após sete anos da eclosão do
caso, o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou que não havia provas contra o
ex-ministro.
“Depois de sofrer tantos anos como ele sofreu, de um lado pela doença,
de outro lado pela perseguição, quando provam que é inocente, pelo menos a
imprensa que o acusou deveria ter vergonha na cara e publicar uma manchete
amanhã pedindo desculpas ao Gushiken. Pedir desculpas não é feio para ninguém.
Deveria o jornalista canalha que acusou Gushiken sem provas pedir desculpas.”
O ex-presidente abriu sua fala afirmando que cogitou cancelar sua
participação no encontro depois da morte do amigo, recebida ontem à noite
quando voltava de Brasília. Os dois se conheciam desde o final da década de
1970, quando Lula comandava o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e Gushiken
fazia parte da direção do Sindicato dos Bancários de São Paulo, que assumiu em
1985. Os dois foram fundadores da CUT e do PT, e mais tarde, em 2002, Gushiken,
já doente, foi chamado por Lula para ser um dos coordenadores da campanha à
Presidência.
Lula revelou que o companheiro lhe pediu poucos dias antes de morrer que
trabalhasse para “recuperar” o partido. “Nosso partido não pode ser um partido
apenas para disputar eleição. Se fosse só para disputar eleição a gente não
precisava ter criado um partido. Nosso partido foi criado para disputar
eleição, mas foi criado sobretudo para a gente estar 24 horas por dia ajudando
a organizar a luta do povo brasileiro. É para isso que existe um partido
político”, advertiu o ex-presidente, que demonstrou insatisfação pelo fato de a
sigla não encabeçar as manifestações ocorridas em junho em todo o país.
Lula olhou para o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, e recordou que
foi ele quem introduziu, durante a campanha eleitoral do ano passado, a ideia
de que a vida do povo brasileiro havia melhorado da porta de casa para dentro,
ou seja, em termos de poder de consumo, mas não havia avançado da porta para
fora, na prestação de serviços públicos.
“Era um movimento que clamava por melhores condições de vida. Não
importa quem foi e quem não foi, era o povo brasileiro. Não importava se
gostava do PT ou não gostava, era o povo brasileiro. O dado concreto é que o
povo foi às ruas clamar por melhores condições de vida. O que eu digo? Temos
que aprender uma lição: o partido é que poderia estar puxando esses movimentos.
E não é contra o nosso prefeito Fernando Haddad, não é contra a presidenta
Dilma, contra o Lula. É a favor deles, é a favor do povo brasileiro”, disse.
O Encontro da Região Metropolitana do PT de
São Paulo acabou encerrado mais cedo por conta do velório de Gushiken,
realizado na zona oeste da capital paulista. O evento contou com a presença dos
ministros da Saúde, Alexandre Padilha, do Planejamento, Miriam Belchior, e da
Secretaria de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicurri, além de Haddad,
de deputados federais e estaduais e de líderes sindicais.
O presidente do PT, Rui Falcão, classificou
Gushiken como homem “de extrema retidão, de uma serenidade ímpar, de uma
sabedoria inigualável”, e também abordou o que considera uma injustiça. Em meio
às denúncias, em 2005, o petista deixou a Secretaria de Comunicação Social, e
ficou até novembro do ano seguinte como chefe do Núcleo de Assuntos
Estratégicos. Na ocasião, em carta pública, ele afirmou que deixava o cargo
para se defender, acusou haver uma tentativa de destruir reputações e disse que
o clima político-eleitoral “envenenou o ambiente.” “Com a nova fase que
se configura na vida política do país delineia-se uma ampla renovação de
dirigentes na administração pública federal, movimento natural e positivo para
o seu segundo mandato”, acrescentou.
Para Falcão, trata-se de um “documento
histórico, de desapego a cargos, de desprezo pelo poder a qualquer custo. Gushiken
dizia que hoje no Brasil basta apenas uma acusação para se sentir culpado sem
julgamento”. O presidente do PT afirmou que a sigla vive “dias semelhantes”,
sem citação direta ao julgamento da Ação Penal 470 pelo STF. “Num gesto de amor
a nosso partido, Gushiken escolheu nos deixar no dia 13, simbolizando na sua
despedida o amor a esse número que ele ajudou a forjar com muita dedicação”,
completou.”
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