Lula afirma que Gushiken foi vítima de mentiras e cobra desculpas da imprensa


O encontro de petistas em São Paulo, com Lula,
Padilha e Haddad, foi abreviado pela morte de
Gushiken / Nelson Antoine/Fotoarena/Folhapress

Em encontro do PT na capital paulista, ex-presidente revela que ex-ministro lhe pediu, dias antes de morrer, que trabalhasse para 'recuperar' o partido, acomodado com disputas eleitorais

Redação, RBA

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou hoje (14) em São Paulo que o ex-ministro Luiz Gushiken foi vítima de mentiras contadas por parte da imprensa, que agora deveria apresentar uma retratação formal pelo desgaste que provocou ao petista, morto ontem vítima de um câncer.

“O Gushiken foi uma das vítimas da mentira de uma parte da imprensa deste país. Eu sei o que o companheiro Gushiken sofreu com as infâmias que levantaram contra ele. Muitas vezes o irresponsável que levanta uma acusação sem ter provas não leva em conta a história das pessoas, que a pessoa tem mulher, tem filhos”, disse Lula durante encontro de integrantes do PT paulista na quadra do Sindicato dos Bancários de São Paulo, no centro da capital.

Luiz Gushiken, que comandou a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República após ser um dos coordenadores da campanha vitoriosa pelo Planalto em 2002, chegou a ser acusado de participação no episódio apelidado de mensalão. Apenas no ano passado, após sete anos da eclosão do caso, o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou que não havia provas contra o ex-ministro.

“Depois de sofrer tantos anos como ele sofreu, de um lado pela doença, de outro lado pela perseguição, quando provam que é inocente, pelo menos a imprensa que o acusou deveria ter vergonha na cara e publicar uma manchete amanhã pedindo desculpas ao Gushiken. Pedir desculpas não é feio para ninguém. Deveria o jornalista canalha que acusou Gushiken sem provas pedir desculpas.”

O ex-presidente abriu sua fala afirmando que cogitou cancelar sua participação no encontro depois da morte do amigo, recebida ontem à noite quando voltava de Brasília. Os dois se conheciam desde o final da década de 1970, quando Lula comandava o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e Gushiken fazia parte da direção do Sindicato dos Bancários de São Paulo, que assumiu em 1985. Os dois foram fundadores da CUT e do PT, e mais tarde, em 2002, Gushiken, já doente, foi chamado por Lula para ser um dos coordenadores da campanha à Presidência.

Lula revelou que o companheiro lhe pediu poucos dias antes de morrer que trabalhasse para “recuperar” o partido. “Nosso partido não pode ser um partido apenas para disputar eleição. Se fosse só para disputar eleição a gente não precisava ter criado um partido. Nosso partido foi criado para disputar eleição, mas foi criado sobretudo para a gente estar 24 horas por dia ajudando a organizar a luta do povo brasileiro. É para isso que existe um partido político”, advertiu o ex-presidente, que demonstrou insatisfação pelo fato de a sigla não encabeçar as manifestações ocorridas em junho em todo o país.

Lula olhou para o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, e recordou que foi ele quem introduziu, durante a campanha eleitoral do ano passado, a ideia de que a vida do povo brasileiro havia melhorado da porta de casa para dentro, ou seja, em termos de poder de consumo, mas não havia avançado da porta para fora, na prestação de serviços públicos.

“Era um movimento que clamava por melhores condições de vida. Não importa quem foi e quem não foi, era o povo brasileiro. Não importava se gostava do PT ou não gostava, era o povo brasileiro. O dado concreto é que o povo foi às ruas clamar por melhores condições de vida. O que eu digo? Temos que aprender uma lição: o partido é que poderia estar puxando esses movimentos. E não é contra o nosso prefeito Fernando Haddad, não é contra a presidenta Dilma, contra o Lula. É a favor deles, é a favor do povo brasileiro”, disse.

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O Encontro da Região Metropolitana do PT de São Paulo acabou encerrado mais cedo por conta do velório de Gushiken, realizado na zona oeste da capital paulista. O evento contou com a presença dos ministros da Saúde, Alexandre Padilha, do Planejamento, Miriam Belchior, e da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicurri, além de Haddad, de deputados federais e estaduais e de líderes sindicais.

O presidente do PT, Rui Falcão, classificou Gushiken como homem “de extrema retidão, de uma serenidade ímpar, de uma sabedoria inigualável”, e também abordou o que considera uma injustiça. Em meio às denúncias, em 2005, o petista deixou a Secretaria de Comunicação Social, e ficou até novembro do ano seguinte como chefe do Núcleo de Assuntos Estratégicos. Na ocasião, em carta pública, ele afirmou que deixava o cargo para se defender, acusou haver uma tentativa de destruir reputações e disse que o clima político-eleitoral “envenenou o ambiente.”  “Com a nova fase que se configura na vida política do país delineia-se uma ampla renovação de dirigentes na administração pública federal, movimento natural e positivo para o seu segundo mandato”, acrescentou.

Para Falcão, trata-se de um “documento histórico, de desapego a cargos, de desprezo pelo poder a qualquer custo. Gushiken dizia que hoje no Brasil basta apenas uma acusação para se sentir culpado sem julgamento”. O presidente do PT afirmou que a sigla vive “dias semelhantes”, sem citação direta ao julgamento da Ação Penal 470 pelo STF. “Num gesto de amor a nosso partido, Gushiken escolheu nos deixar no dia 13, simbolizando na sua despedida o amor a esse número que ele ajudou a forjar com muita dedicação”, completou.”

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