Oscar Martinez
considera que a resistência de segmentos vai desaparecer com o bom trabalho
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As principais expectativas dos médicos cubanos recém-chegados ao Brasil consistem em trocar experiências com os demais profissionais e contribuir para melhorar a saúde pública no país. Mas eles demonstraram, desde que apareceram no saguão do aeroporto Juscelino Kubitschek, ontem (24) à noite, cuidado ao falar dos médicos brasileiros ao ressaltar que têm, como missão principal, zelar pelo trabalho em conjunto com os colegas da terra. Os cubanos também fizeram questão de citar detalhes sobre seus currículos, diante das críticas feitas por entidades médicas brasileiras a eles, nos últimos dias.
Muitos deixaram clara, ainda, a preferência em atuar no estado do
Amazonas – pela grandiosidade e diversidade daquela unidade da federação e suas
populações ribeirinhas – bastante mencionada durante a entrevista (com certo ar
reservado, para não causar transtornos no caso de serem escolhidos para outros
locais). Assim como por áreas do semiárido nordestino, como o interior do
Ceará. Mas, repetindo o tom de cautela e diplomacia, frisaram várias vezes que
não farão pedidos específicos e estão prontos para atuar em qualquer local do
território brasileiro.
Nesta entrevista, cinco deles – a médica Yasiel Perez e os médicos
Rodolfo Garcia,Oscar Martinez, Juan Rodriguez e Angel Perez – falam sobre o que
os move na empreitada:
Qual a principal expectativa do trabalho a ser
realizado por vocês no Brasil?
Yasiel Perez: Sou médica, especialista em medicina geral integral. Como
todos os médicos que agora estão chegando a este país, para nós é um prazer,
algo muito grande para expressarmos. Sou a mais jovem da brigada, mas tenho 32
anos e muita experiência. Em meu país se estuda medicina durante seis anos
consecutivos e se trabalha quatro anos com as famílias mais necessitadas, além
de passar outros dois anos atuando no serviço social. Além dessa formação,
trabalhei na Bolívia durante dois anos e quatro meses, com uma população muito
difícil, bastante carente. Mediquei em lugares distantes, mas não é por isso
que essa mulher que vocês veem hoje aqui voltou correndo para Cuba quando
deparou com problemas.
Yasiel Perez: Vi e enfrentei muitas dificuldades na Bolívia e fiquei lá
até o final da missão. Retornei ao meu país com uma qualificação satisfatória e
é isso que quero repetir no Brasil, ao lado de todos os colegas. Queremos
vencer, estamos contentes e esperamos cumprir nossa missão aqui. Esperamos que
o povo brasileiro nos respeite como respeitamos a toda a população. Somente
queremos ajudar, apoiar e contribuir para melhorar a saúde, para que a
população tenha mais acesso aos serviços médicos. Somente queremos dar e
receber amor.
Rodolfo Garcia: Tenho 36 anos como médico, já estive no Brasil e conheço
bem o país. Uma turma de médicos que chega já conhece a região Norte do
Brasil profundamente. Além disso, muitos dos colegas que compõem o grupo
possuem mais de 20 anos formados como médicos, possuem mestrado e cursos de
especialização e participaram de trabalhos diversos de cooperação em outros
países da África e América Central, com participações no tratamento de vítimas
de desastres naturais. Não acho que teremos qualquer dificuldade nesta missão.
Rodolfo Garcia: Viemos empolgados para a realização de um trabalho em
regiões diferentes. Sabemos que no Brasil não há médicos em muitos lugares
distantes. Sabemos também que há no Brasil muitos municípios carentes de
médicos. Posso te assegurar que somos preparados e viemos com muita vontade de
trabalhar e fazer a coisa andar. Cuba é um país pobre que não tem muitos
recursos naturais, mas tem muitos médicos e especialistas que estão com
disposição de ajudar o Brasil e fazer parcerias para aumentar a saúde do povo
brasileiro. Estamos preparados, tenha a certeza.
Rodolfo Garcia: A primeira coisa que queremos que vocês compreendam é
que o dinheiro, para nós, neste caso em questão, fica em segundo lugar. Vamos
receber uma remuneração suficiente para ficar no Brasil. O restante do dinheiro
vai voltar para Cuba, para ajudar hospitais, os doentes que estão precisando
porque no nosso país a saúde é de graça. O nosso dinheiro está lá, nosso
salário está sendo pago lá.
Rodolfo Garcia: Não estamos a par do projeto em sua totalidade, mas
reconhecemos que o governo precisa de muita coisa e deu um bom passo na vinda
dos médicos estrangeiros. Por tudo o que temos lido, a percepção que temos é de
que estão sendo criadas condições para melhoria da saúde pública no país. Queremos
fazer todo o esforço para caminhar juntos na resolução dos problemas e pela
melhoria da qualidade de vida do povo mais carente do Brasil, aquele que não
tem dinheiro para pagar médicos particulares, populações como as dos interiores
mais distantes do Pará, Tocantins ou Amapá, onde muitos de nós já estivemos. Sinceramente,
viemos com muita vontade de ajudar as pessoas.
Rodolfo Garcia: Não. É um prazer estar aqui. Estamos muito nervosos
porque não esperávamos que vocês todos estivessem aqui, desse jeito. Mas estamos
muito felizes também.
Oscar Martinez: Sem dúvida, como bastante positivo. Sou especialista em
saúde da família, sou médico há 23 anos e há 19 concluí minha especialização. Não
sei para onde vou, mas vim para fazer este trabalho. Queremos agradecer ao povo
brasileiro. Os povos de Cuba e Brasil são irmãos há muito tempo, mas este
trabalho de agora estreita muito mais os laços de cooperação e de irmandade
entre nós. Temos várias expectativas boas. A mais importante é colaborar para
haja acessibilidade para todos os que carecem de um serviço de saúde neste
país.
Oscar Martinez: Viemos para trabalhar juntos. Nosso sentimento é de
consideração para com os problemas dos médicos brasileiros. Vamos ter a
oportunidade de trabalhar com eles, em lugares de acesso complicado, sabemos
disso tudo, mas vamos acompanhá-los e trabalhar juntos pela nação brasileira. O
principal objetivo nosso, a parte de trabalho como médicos, nesta missão, é
estreitar a solidariedade do povo de Cuba com o povo brasileiro. Somos irmãos e
a irmandade entre nós tem, agora, que ser mais forte.
Oscar Martinez: Ainda estamos chegando no Brasil, não temos todos os
elementos para responder completamente à sua pergunta. Só vou falar o seguinte:
todas as questões ou programas, quando iniciados, estão sujeitos a críticas e
compreendemos isso. Agora, vamos ficar aqui e esperar as últimas palavras sobre
o nosso trabalho depois de algum tempo, quando nos conhecerem melhor. Certamente
serão bem diferentes.
Juan Rodrigues: Conheço o Brasil, preferiria o estado do Amazonas, no
Norte, ou estados nordestinos, mas tudo no Brasil nos interessa.
O que mais os incentiva na realização deste trabalho?
Angel Perez: o exercício da
profissão em regiões remotas e a cooperação médica. Estive recentemente em
Honduras e em lugares também distantes e repletos de dificuldades, mas sempre
trabalhando duro para que as pessoas possam desfrutar de boa qualidade de vida
e a mesma coisa acontecerá no Brasil. Estamos vindo com o sentimento e o
coração aberto para trabalhar junto com os médicos e todo o pessoal da área de
saúde brasileira. Queremos ajudar a população e contribuir para melhoria da
saúde pública no país.”
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