Padilha, que
enfrentou o debate, abriu hoje
o treinamento dos
médicos estrangeiros em
Brasília / Elza
Fiúza/Agência Brasil
|
“Colunista da Rádio Brasil Atual diz que
conservadores pensam que estão certos quando Executivo deixa de
contra-argumentar. Para ele, vontade humanitária de médicos cubanos se opõe a
corporativismo no Brasil
O ex-ministro Paulo Vannuchi, colunista da Rádio Brasil Atual, afirmou hoje (26) que o governo federal encabeçado pelo PT deve apresentar seus argumentos publicamente com mais frequência, sem evitar a exposição de ideias que facilitem a busca de consensos sólidos. Para ele, a chegada de médicos cubanos, a partir do último fim de semana, levantou uma discussão muito importante para o país.
“Esse debate está sendo muito rico para o
fortalecimento da democracia brasileira. Ela é uma oportunidade especial que o
próprio governo Dilma e o governo Lula estão tendo”, disse em seu comentário
diário. “Ao fugir, se engana quem pensa que o outro lado, o lado conservador, a
direita reacionária que tem saudades da ditadura e não gosta de pobre vai ficar
sensibilizada com a moderação. Pelo contrário, ela passa a achar que seus
argumentos conservadores e preconceituosos são muito válidos porque ninguém
rebate.”
Hoje, os primeiros 644 médicos estrangeiros
que chegaram ao Brasil começaram a ter treinamento para integrar o programa
Mais Médicos. A expectativa do Ministério da Saúde é de que eles atendam a
população a partir do dia 16 de setembro. Deste total, 99 são brasileiros
formados no exterior, e 400, cubanos, que vieram ao país após um acordo firmado
na semana passada entre o governo federal e a Organização Pan-americana de
Saúde (Opas), vinculada à Organização Mundial de Saúde (OMS). “Estão de
parabéns a presidenta Dilma e o ministro Alexandre Padilha quando decidem
enfrentar essa pressão da mídia partidarizada, da mídia que é oposta a esse
projeto que se alinha a um ponto de vista corporativista do segmento médico e
nem é de todos os médicos do Brasil”, afirma Vannuchi.
Uma das contestações apresentadas pela
Associação Médica Brasileira (AMB) é a de que os profissionais cubanos não
receberão os R$ 10 mil mensais pagos aos outros médicos, mas uma quantia em
torno de R$ 4 mil, que será repassada pelo governo de Cuba. Na semana passada a
entidade acionou o Supremo Tribunal Federal (STF) argumentando que o Mais
Médicos é inconstitucional e coloca em risco a população brasileira porque os profissionais
estrangeiros não terão de passar pelo exame de revalidação de diploma. A esse
respeito, os médicos cubanos que chegaram neste fim de semana ao Brasil
esclareceram que são funcionários de carreira do governo da ilha, e por isso
recebem um salário fixo, que continha sendo encaminhado às famílias mesmo
durante as missões no exterior.
Vannuchi entende que o debate é importante
também para desfazer mitos em torno de Cuba, país que desde 1962 enfrenta um
bloqueio imposto pelos Estados Unidos, e já atravessou dificuldades graves,
como a dissolução da União Soviética, uma parceria estratégica do ponto de
vista comercial e político. “Eu faço questão de lembrar que o império
norte-americano não deu um ano de chance para Cuba desenvolver a sua
democracia. Na guerra não é possível democracia, porque ela requer discussão,
diálogo, e a guerra requer combate diário sem muita conversa. Todo mundo sabe
disso”, adverte.
“Nesse espírito de solidariedade
internacional, são milhares os cubanos que se formam nas boas faculdades do
país e não se interessam, como muitas vezes aqui no Brasil, pelo problema da
remuneração. Quanto eu vou ganhar? Eu quero servir ao povo, ao povo cubano, ao
povo brasileiro, ao povo venezuelano, ao povo mexicano, ao povo angolano...
onde eu for necessário.”
Comentários