“Na noite de ontem, 206 profissionais
desembarcaram no Brasil, enfatizando que não vieram trabalhar por
dinheiro. “Queremos dar amor e queremos receber amor", disse a médica
Jaiceo Pereira. “O mais importante é colaborar com os médicos brasileiros
e ajudar na qualidade de vida do povo daqui", reforçou Oscar Gonzales
Martinez. Na segunda, eles iniciam um curso preparatório de língua portuguesa,
antes de começar a trabalhar em regiões remotas, para as quais médicos
brasileiros não demonstraram interesse em atuar
Daniel Lima, Agência Brasil / Brasil 247
O primeiro grupo dos 206 médicos cubanos
que vão trabalhar no Brasil desembarcou ontem (24) à tarde no país. No Recife,
ficaram 30 profissionais e 176 seguiram para Brasília, onde chegaram à noite. Ao
desembarcar, Oscar Gonzales Martinez, graduado há 23 anos e especialista em
atenção à família, disse que tinha grande expectativa em trabalhar com a
população brasileira.
Martinez disse que veio ao Brasil por
várias razões, entre elas, a oportunidade de trabalhar para o povo brasileiro. Sobre
a polêmica em torno do pagamento dos salários, que serão feitos por meio do
governo cubano e não diretamente aos profissionais, Gonzales disse que isso é o
que menos importa, pois tem o emprego garantido em seu país e parte dos
recursos irá para ajudar o seu povo.
“O mais importante é colaborar com os
médicos brasileiros e ajudar na qualidade de vida do povo daqui. Também é
importante a irmandade entre o povo cubano e o povo brasileiro que existe há
muito tempo”, disse.
A médica Jaiceo Pereira, de 32 anos,
lembrou, bem-humorada, que, apesar de ser a mais jovem do grupo, tem bastante
experiência profissional e no início de sua formação já trabalhava com saúde da
família. Ela pediu o apoio do povo brasileiro e respeito aos profissionais de
seu país. “Queremos ajudar e dar saúde a todos aqueles que não têm acesso aos
serviços médicos", disse. “Queremos dar amor e queremos receber amor.” Já
Alexander Del Toro destacou que veio para trabalhar junto e não competir.
Um grupo de 25 simpatizantes do socialismo
e de Cuba esteve no Aeroporto Internacional de Brasília – Presidente Juscelino
Kubitschek com cartazes. Durante a longa espera, que durou mais de duas horas,
os manifestantes gritavam palavras de ordem como “Cubano amigo, Brasil está
contigo” e “Brasil, Cuba, América Central, a luta socialista é internacional”.
Em meio às manifestações de apoio, Ana
Célia Bonfim, que se identificou como médica da Secretaria de Saúde do Distrito
Federal chegou a gritar entre os manifestantes que tudo não passava de uma
“palhaçada”. “Profissional troca alguma coisa por bolsa. Isso não é coisa de
profissional. Pelas condições que tem o médico cubano, claro que eles vão
trocar isso pelas condições brasileiras. Mas isso é exploração de mão de obra”,
disse.
O restante dos médicos cubanos desembarca
amanhã (25) em Fortaleza, às 13h20, no Recife, às 16h, e em Salvador, às 18h,
segundo o ministério. Ao todo, 644 médicos, incluindo os 400 cubanos, com diploma
estrangeiro chegam ao Brasil até este domingo (25). Na sexta-feira (23),
começaram a chegar os médicos inscritos individualmente em oito capitais.
Os profissionais cubanos fazem parte do
acordo entre o ministério com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) para
trazer, até o final do ano, 4 mil médicos cubanos. Eles vão atuar nas cidades
que não atraírem profissionais inscritos individualmente no Programa Mais
Médicos. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, rebateu as críticas das entidades médicas que questionam a formação médica dos profissionais
cubanos.
Na segunda-feira (26), tantos os médicos
inscritos individualmente (brasileiros e estrangeiros), quanto os 400 cubanos
contratados via acordo, começam a participar do curso de preparação com aulas
sobre saúde pública brasileira e língua portuguesa. Após a aprovação nesta
etapa, eles irão para os municípios. Os médicos formados no país iniciam o
atendimento à população no dia 2 de setembro. Já os com diploma estrangeiro
começam a trabalhar no dia 16 de setembro.
O curso vai ter carga de 120 horas com
aulas expositivas, oficinas, simulações de consultas e de casos complexos. Também
serão feitas visitas técnicas aos serviços de saúde com o objetivo de aproximar
o médico do ambiente de trabalho."
Comentários