“Segundo Celso Roma, o senador mineiro quer
forçar a disputa antes da possibilidade de o ex-governador paulista mudar de
legenda
José Serra, candidato duas vezes derrotado
à Presidência pelo PSDB, já anunciou: será candidato novamente em 2014. A um ano do início
oficial da campanha, a declaração atiçou o ninho tucano no momento em que a
construção da candidatura do senador mineiro Aécio Neves, atual presidente da
legenda, parecia pavimentada.
Após a declaração, Aécio passou a defender
publicamente a realização de prévias para ungir o candidato tucano. Serra, ao
menos publicamente, disse topar o desafio. E fez um adendo: quer condições
iguais para a disputa.
O acirramento da disputa deixou a
candidatura em aberto a um ano da eleição. E deixou clara a possibilidade de o
PSDB caminhar mais uma vez rachado para a disputa. “É uma sinuca de bico
para José Serra”, afirma o cientista político Celso Roma, especialista em
partidos políticos. “Se Serra aceitar prévias após o dia 5 de outubro, Aécio
tem chance de vencê-lo e eliminar um concorrente do mesmo campo político, visto
que não haverá tempo para Serra obter a candidatura por outro partido, como o
PPS. Se aceitar prévias somente antes de 5 de outubro, Serra perderá
credibilidade entre os próprios filiados do PSDB. Não há condições de o PSDB
realizar prévias fora do prazo.”
Estudioso do PSDB, Roma lembra que, nas
últimas eleições, Serra atuou para tirar do páreo a candidatura dos colegas da
legenda. "Com os olhos voltados para a eleição de 2002, o então ministro
da Saúde boicotou os demais pré-candidatos. Pode repousar nesse episódio o
maior erro da história do PSDB. No governo Fernando Henrique, o ministro da
Educação Paulo Renato de Souza propôs uma campanha publicitária para divulgar a
bolsa escola. A proposta foi rejeitada. Paulo Renato estava na linha de
sucessão. O governo perdeu a oportunidade de deixar uma marca social."
Em 2010, completa o cientista político,
Serra pressionou para que a direção nacional do PSDB descartasse a realização
de prévias e reafirmasse a tradição de definir o candidato. O pedido foi
atendido. “Os líderes engavetaram o projeto de prévias, que havia sido
concebido desde 2006 para resolver os problemas em torno da definição da
candidatura. Aécio Neves teve de aguardar a vez. O evento acirrou a rivalidade
entre paulistas e mineiros, aprofundando as rachaduras do partido”.
Enquanto isso, o principal adversário, o
PT, deixou mais do que claro, há algum tempo, que a candidatura está fechada em
torno de Dilma Rousseff. Roma compara as duas situações: “Pelo bem do PT, Lula
influencia as decisões dos dirigentes, seleciona candidatos para as eleições e
costura alianças com outros partidos. É de conhecimento público que, desde a
fundação do partido, Lula trata líderes e demais filiados como membros da
própria família. Pelo mal do PSDB, José Serra questiona as decisões das
lideranças, rivaliza com os correligionários e renega as alianças históricas do
partido. É reconhecido também que, desde a criação do partido, Serra usa o
critério de conveniência para se relacionar com os demais filiados”.
Segundo o especialista, nas duas ocasiões em que Serra disputou a
Presidência, o PSDB perdeu mais do que uma corrida eleitoral. “O problema de
José Serra é a alta taxa de rejeição registrada nas pesquisas de intenção de
voto. Se ele se apresentar como candidato por outro partido, um número maior de
eleitores rejeitará o nome dele. Eleitores estão menos propensos a aceitar
oportunismo”.
Comentários