Rodolpho Motta Lima, Direto da Redação
“Parto hoje de
uma coluna de “O Globo”, não pela importância que atribua ao jornal, mas porque
alguns de seus colaboradores exemplificam claramente, com sua posições, o
pensamento do neoliberalismo nacional (ou será melhor dizer “antinacional”?).
No dia 08.08.2013, Merval
Pereira tentou justificar a pisada na bola que deu ao afirmar que a confirmação
das falcatruas do tucanato com a Siemens e outras empresas seria “o pior dos
mundos para a democracia”. Defendendo-se da acusação de que teria deixado
implícito que a corrupção “boa” para a democracia seria a do PT, Merval chamou
seus críticos de “pseudojornalistas a serviço do governo petista”.
Talvez tenha
cometido, então, um segundo ato falho, pois essa afirmação permite que se faça
o mesmo juízo de valor a respeito de jornalistas que, como ele, poderiam estar
a serviço dos partidos de oposição ao PT.
Em princípio, é saudável que
os órgãos “globais” estejam falando do assunto, ainda que se possa supor que só
o fizeram pressionados por denúncias anteriormente feitas por outras mídias. Prefiro,
contudo, aguardar o desenvolvimento dos acontecimentos, porque também pode ser
que esteja em curso estratégia que, ao fim, pretenda beneficiar alguém nesse
nosso complexo jogo político-eleitoral. Quando jovem, ouvi muitas vezes o dito
popular “Ele não prega prego sem estopa”, para caracterizar uma pessoa cujas
atitudes objetivas trazem sempre uma finalidade não declarada. É esperar para
ver.
A propósito desse jogo
político, aliás, acho que se enganam os que imaginam que Dilma entrará
enfraquecida na disputa. Em primeiro lugar, porque ela contará com seus
próprios méritos, consubstanciados na continuidade de um projeto empenhado na
redução das desigualdades e na inclusão social. Em segundo plano, porque
o quase único programa político da assim chamada oposição tem como mantra o
combate à corrupção, que agora, ironicamente, atinge de cheio os baluartes
tucanos, a mostrar que o nosso problema nesse âmbito é endêmico, visceral,
quase generalizado, resultante de uma estrutura fundada no lucro, no capital,
no mercado.
Evidentemente, não se pode
considerar que o atual Governo seja imune a críticas. Ele tem problemas, é
certo. No sistema político, não há vestais, e o primeiro desses problemas
decorre de uma série de ligações pouco aceitáveis, composições paradoxais,
comprometimentos nem sempre republicanos, tudo em nome da malfadada
“governabilidade”. O nosso poder legislativo há muito está na boca do povo e,
seguramente, não com adjetivos favoráveis. Há uma chantagem permanente nos movimentos
dos nossos deputados e senadores, que, de forma surreal, colocam em
primeiro lugar os seus interesses – confessados ou inconfessáveis – deixando de
votar o que interessa aos cidadãos que os elegeram. Fatos como o “mensalão”,
certamente, derivam desse panorama.
É realmente um problema
sério, comprometedor dos interesses nacionais, a existência de um Executivo
cercado de não confiáveis por todos os lados, na chamada “base governamental”,
fruto de uma estrutura política que tem que ser urgentemente reformada. Mas há
também a inação de Dilma com relação a essa mídia que manipula informações e
atua diuturnamente contra o Governo que, de forma inaceitável, financia seus
detratores com expressivas verbas publicitárias, abrindo mão da colocação em
pauta, como primordial, da chamada Lei dos Meios.
Apesar de tudo, é favorável
o saldo dos últimos governos comprometidos com causas populares. O país vem
experimentando uma nova realidade social, fruto de ações políticas cujos
resultados estão aparecendo claramente, digam o que disserem os nossos
conhecidos urubus. Embora ainda falte muita estrada a percorrer para que
possamos celebrar a desejável e definitiva inclusão social dos menos
favorecidos, não há como negar os avanços já obtidos. A recente divulgação dos índices
alcançados no IDH mostra isso. São dados muito mais relevantes para a cidadania
do que o sagrado PIB dos economistas, porque revelam que as crianças
brasileiras estão morrendo bem menos e os adultos estão vivendo bem mais. E
como não há nada mais importante do que a “sempre desejada” vida, os
brasileiros têm razões inéditas para se alegrar.
A Presidenta, com erros e
acertos, não dá mostras de que pretenda se afastar da rota que traçou para seu
governo, de combate à pobreza. Vitórias genéricas como essas, visualizáveis no
IDH e nunca verificadas nos governos anteriores – que não tinham essa
preocupação – se fazem acompanhar de muitos outras medidas de caráter social. Seria
inimaginável, no tempo dos governos neoliberais, uma semana em que se anunciassem,
simultaneamente, além da queda da mortalidade infantil e do aumento da
expectativa de vida dos brasileiros, a sanção de uma lei punitiva para as
empresas corruptoras, um índice deflacionário no IPCA, a criação de
239.000 vagas gratuitas em cursos técnicos, um expressivo lucro da Petrobras, a
continuidade do programa “mais médicos” ou a inauguração de um
moderníssimo Instituto do Cérebro com atendimento exclusivo para os usuários do
SUS.
É claro que, daqui até
outubro de 2014, muitos tomates e pepinos vão ser “plantados” para
desestabilizar o Governo. E a mídia hegemônica, essa vai continuar procurando
quem possa representar melhor os interesses corporativos que ela defende. Parece
que não será fácil continuar com os tucanos, contaminados pela corrupção. São
boas as chances de estes serem abandonados. As alternativas, então,
passariam por uma Rede em que tudo que cai é peixe ou por ex-aliados que
cresceram politicamente graças aos governos do PT, mas que parecem não hesitar
em cuspir imoralmente no prato em que comeram. O perigo é inventarem um novo
“messias”, um crítico da classe política estilo Collor. Há gente que já percebe,
no ar, essa tendência...”
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