“Continuemos onde paramos no post anterior,
intitulado “Pizzolato é inocente, já a Globo“. Eu divulguei o documento de
criação da DTH, uma corporação na Flórida, controlada pela Globo. Apenas no
documento de fundação encontramos a referência à Globo. Nos outros, porém,
aparece o mesmo endereço da emissora carioca, rua Afrânio de Melo Franco 135. A mesma empresa é
citada no processo de concordata requerida pelos credores contra Globo:
A princípio, não há nada demais em se criar uma corporação na
Flórida ou Delaware. A Globo não é um ministro do STF, nem usou imóvel
funcional como sede da empresa, como fez Joaquim Barbosa.
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Meu interesse pelos negócios da Globo nos EUA é porque eles nos
ajudarão a entender os motivos que poderiam levar a emissora a cometer um ato
tão desesperado como mandar roubar o processo de sonegação na Receita Federal,
onde constava uma dívida de R$ 615 milhões a ser paga em até 30 dias, conforme
mostram os documentos que publicamos aqui.
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Em 2004, o Supremo Tribunal Federal acatou (clique aqui) um pedido da Justiça suíça de enviar documentos relativos aos
contratos da TV Globo e uma de suas empresas no exterior, a Globo Overseas
Investments B.V. (citada no processo da Receita), com a firma suíça ISMM,
posteriormente condenada
duramente por corrupção e lavagem de
dinheiro em negociatas dos direitos de transmissão da Copa de 2002.
No documento do STF fala-se na intenção da Suiça de participar de
interrogatórios conduzidos pelo Ministério Público com os senhores Marcelo
Campos Pinto e Fernando Viegas Rodrigues Filho. O primeiro era diretor da TV
Globo e, segundo a Veja, o todo-poderoso da emissora na área de esportes. O outro ainda não
sei, mas suponho que seja também um executivo da Globo.
Por que o Ministério Público investigava esses personagens? O que eles sabiam de tão importante a ponto de autoridades suíças gastarem dinheiro de seus contribuintes para se deslocarem até aqui, participar das audiências, com apoio de tradutores? Que documentos são esses, da Globo e Globo Oversears, que interessavam às autoridades suíças?
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Por que o Ministério Público investigava esses personagens? O que eles sabiam de tão importante a ponto de autoridades suíças gastarem dinheiro de seus contribuintes para se deslocarem até aqui, participar das audiências, com apoio de tradutores? Que documentos são esses, da Globo e Globo Oversears, que interessavam às autoridades suíças?
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Na internet, encontro um livro de John Horne and Wolfram Manzenreiter, intitulado “The World Cup e
television futball”, que traz algumas informações sobre o caso. Segundo os
autores, a Fifa descobriu que US$ 60 milhões “supostamente pagos pela TV Globo
pelos direitos da Copa de 2002 jamais puderam ser rastreados”.
Como assim?
Mas cruzemos o oceano e voltemos aos
Estados Unidos, onde a Globo enfrentava um problemaço por causa de uma dívida
de US$ 1,18 bilhão. Um grupo de credores entrara com uma ação para exigir a
concordata da Globo nos EUA, alegando que a emissora possuía, desde 1996, uma
empresa instalada no país, a DTH Corp., criada na Florida.
O documento de criação da DTH, assinado
pelo executivo Roberto Pinheiro, representante da Globo, foi apresentado no
post anterior, e pode ser baixado na íntegra aqui.
A Globo conseguiu, porém, uma liminar
judicial para sustar o processo de concordata, que poderia gerar perda de
patrimônio. As credoras apelaram novamente e conseguiram uma vitória que logo
se tornou popular na literatura jurídica norte-americana.
Em 2004, o distrito sul da Justiça de Nova
York cancelou a
liminar da Globo e manteve o processo de
concordata.
Se eu estiver errado, algum entendido me corrija, mas tudo leva a crer que a Globo estava em dificuldades crescentes ao final de 2004. A dívida de US$ 1,2 bilhão vinha sendo cobrada judicialmente em NY. Segundo notícia publicada na BBC Brasil, a dívida chegava a quase US$ 2 bilhões. Pouco mais de um ano depois, uma de suas operações em paraíso fiscal é flagrada pela Receita Federal do Brasil, que lhe aplica uma senhora multa, totalizando uma dívida de R$ 615 milhões em 2006.
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Ou seja, a Globo tinha motivos para ficar, no mínimo, nervosa. A
crise do mensalão, porém, lhe permitiu respirar por alguns anos, porque
qualquer atitude das autoridades, naquele tempo, seria considerada uma
retaliação do governo. A partir daí, tem início uma operação de larga
envergadora para transformar o mensalão no símbolo da corrupção nacional,
desviando a atenção da sociedade para os verdadeiramente grandes escândalos: o
Banestado; a privataria; a concentração da mídia em mãos de oligarcas corruptos
de um lado, e empresas ligadas ao golpe de 64, de outro; e sobretudo, uma coisa
que só agora
descobrimos, a existência de fortunas de
brasileiros, de mais de R$ 1 trilhão, em paraísos fiscais, boa parte
provavelmente fruto de sonegação e lavagem de dinheiro.
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Enquanto isso, vende-se aos brasileiros que a prisão de Genoíno, que
não tem um centavo no bolso, e de Pizzolato, que vive de sua aposentadoria de
funcionário do Banco do Brasil, representa um marco na história da luta contra
a corrupção no Brasil. Manipula-se descaradamente a justa indignação dos
brasileiros, acumulada durante séculos de opressão e roubalheira, para criar
uma ficção mal ajambrada, cheia de buracos, baseada na denúncia de um
mentiroso. Enquanto isso, os verdadeiros corruptos, conforme se vê no escândalo
do metrô em São Paulo,
apontando superfaturamentos milionários desde 1998, continuam impunes! Enquanto
isso, o roubo do processo da Globo não é sequer investigado pelo Ministério
Público!
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Um dia, porém, serão desmascarados.
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